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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PALOCCI NA MIRA
Presidente pensa em fazer pronunciamento e negocia trégua com caciques do PSDB
Lula prepara discurso para manter Palocci no governo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num gesto para tentar segurá-lo
no Ministério da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
prepara um discurso público forte em defesa de Antonio Palocci
Filho, sua política econômica e
sua honra. O gesto é aguardado
por Palocci, que saiu de Brasília
no feriado para avaliar se continua ou não na Fazenda.
Ao mesmo tempo, um emissário de Lula conversou recentemente com um dos mais importantes membros da cúpula tucana
para tentar uma trégua ou limite
na guerra política. Acertou-se que
serão poupadas as famílias de Lula e de cardeais tucanos, como o
prefeito de São Paulo, José Serra, e
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O discurso pró-Palocci deverá
ser feito por Lula na primeira solenidade ou declaração pública
desta semana. Na agenda de Lula
hoje, constam despachos no Palácio do Planalto. E vai ao ar o programa de rádio semanal "Café
com o Presidente".
A intenção do presidente é
abordar, segundo as palavras de
um auxiliar, "a importância do
trabalho de Palocci para o país".
Ou seja: dizer que sua eventual
saída poderia gerar uma desestabilização na economia que ele não
pretende deixar que aconteça.
Haveria ainda menção específica
à "honradez" e "seriedade" do
ministro da Fazenda.
Palocci está sofrendo ataques
em três frentes: acusações de corrupção com origem em afirmações de ex-auxiliares, crítica da
ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à política econômica e pressão
de petistas, aliados e até oposicionistas para que aumente os gastos
públicos.
A nota divulgada pela assessoria
do presidente no sábado foi considerada pelo próprio Lula insuficiente. Ditada à imprensa por um
auxiliar, a nota nem consta do site
oficial da Presidência. Ela dizia
que o presidente, "diante de boatos, reafirma que não estuda mudanças na política econômica,
que é de sua responsabilidade,
nem na pessoa escolhida por ele
para conduzi-la, o ministro Antonio Palocci".
Cálculo político
Lula não deseja que Palocci deixe o governo, mas o ministro pode sair por cálculo político. Exemplo: se avaliar que terá mais a perder ficando, vendo seu poder definhar, sairia em breve. Nesse caso,
a opção de Lula, segundo apurou
a Folha, seria o líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), que abandonou as críticas a Palocci e se transformou em
seu defensor número 1 nas últimas semanas.
Nos bastidores, permanece a
tentativa de algum entendimento
entre governo e oposição para colocar limite na guerra que travam
em torno das CPIs do Congresso
na atual crise política. Apesar da
alta temperatura política, Lula enviou um emissário para falar de
trégua com um cacique do PSDB.
Além do acordo para tentar deixar fora das CPIs familiares do
presidente e de tucanos de peso,
como Serra e FHC, acertou-se que
alguns canais de comunicação
precisam permanecer abertos.
O emissário de Lula reclamou
de ataques da oposição a Palocci.
Ouviu do tucano que eles começam no próprio governo e entre
ex-auxiliares do ministro. Ambos
avaliaram que há fatos (investigações da imprensa e das CPIs) que
não podem ser controlados por
acordo de cavalheiros.
Prudência
A Folha apurou que Serra disse
recentemente ao líder tucano no
Senado, Arthur Virgílio (AM),
que seria prudente calibrar os ataques a Palocci. Presidenciável tucano, Serra teme que a economia
desande e que o PSDB, se vencer a
sucessão de 2006, administre uma
situação complicada.
Apesar das negociações de bastidor entre governo e adversários,
o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, avalia que Palocci
sofre bombardeio da oposição
para ela "tentar impedir o presidente Lula de vencer a eleição no
ano que vem".
"A oposição perdeu qualquer
prurido. Se precisar botar fogo no
país para ganhar a eleição, como
desestabilizar a economia, ela fará
isso", diz o ministro do Planejamento. Paulo Bernardo, que afirma não ver "motivos" para eventual saída de Palocci, é um dos
principais aliados do ministro da
Fazenda no conflito contra a ministra Dilma Rousseff.
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