São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 2000 |
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CASO TRT Segundo a Polícia Federal, foragido teria "operacionalizado financeiramente" a fuga de Nicolau dos Santos Neto PF procura uruguaio que ajudou ex-juiz MALU GASPAR EM SÃO PAULO O homem mais procurado pela Polícia Federal hoje é o uruguaio residente no Brasil Wilker Washington Tabo Mosegue, 44. Mosegue seria, segundo os indícios reunidos pela PF, o homem que se apresentou na madrugada da última sexta-feira num hotel de Bagé como sendo Ernesto Winkler Martinez ou Ernesto de Souza. Ele teria ajudado Nicolau dos Santos Neto em sua volta ao Brasil para se apresentar à PF. Segundo a PF, Wilker e o advogado Francisco Antônio Azevedo, namorado da filha mais velha do ex-juiz, Maria Inês, teriam "operacionalizado financeiramente" a fuga de Nicolau dos Santos Neto. A polícia vigiou Azevedo e rastreou os telefonemas que ele deu de um orelhão próximo ao seu escritório em Campinas (a 99 km de São Paulo), supostamente para falar com Nicolau, no exterior. Durante o período em que Nicolau esteve foragido, Azevedo viajou várias vezes para o exterior, principalmente para o Uruguai e para os Estados Unidos. Já os registros que o Ministério Público Federal possui mostram que, de 1995 a julho de 1999, Azevedo viajou constantemente ao Uruguai. O uruguaio teria sido também a pessoa que se encontrou com Azevedo e com a filha de Nicolau no escritório de advocacia Oliveira Neves, nos Jardins (zona sudoeste de SP), na última sexta-feira, dia em que o ex-juiz se entregou. O escritório, especializado em direito tributário, recebe as autuações da Receita Federal por sonegação fiscal contra o ex-juiz. Nicolau é acusado de ter sonegado cerca de R$ 10 milhões. Seus registros como estrangeiro residente informam que Wilker é casado e natural de Montevidéu. Segundo declarou à Receita Federal, é comerciante. A PF afirma que ele arrecadava dinheiro em São Paulo para financiar a fuga de Nicolau. Ontem, a Folha tentou localizar Wilker no endereço que ele deu à Receita Federal, no bairro do Tucuruvi, mas não conseguiu. No telefone celular que consta de seu cadastro, Wilker também não foi encontrado, apesar de a reportagem ter deixado recados em sua caixa postal. FBI A Polícia Federal calcula, baseada nas informações que já reuniu, que em boa parte do período que passou se escondendo da polícia Nicolau esteve entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul. Foram detectados indícios de que o ex-juiz passou pelas cidades de Punta del Este, no litoral do Uruguai, Montevidéu e Rivera, também naquele país. No sul do Brasil, Nicolau teria passado por Santana do Livramento, além de Bagé, de onde saiu para se entregar à Polícia Federal. Nas semanas antes de Nicolau se entregar, agentes do FBI (Federal Investigation Bureau, a polícia federal norte-americana) detectaram movimentações financeiras no Uruguai ligadas ao ex-juiz. O país é um paraíso fiscal onde a PF e o Ministério Público supõem que Nicolau mantenha contas bancárias. Já foram encontradas contas do ex-juiz na Suíça, nos Estados Unidos, nas Ilhas Cayman e em Nassau (Bahamas). O Ministério Público espera ainda a confirmação de contas na Alemanha e na Inglaterra. A estimativa do MP é que o juiz tenha tido cerca de US$ 20,5 milhões depositados nessas contas. O cerco às contas no Uruguai teria sido, para o Ministério da Justiça, uma das razões que levaram Nicolau a se entregar, porque teria levado a família a temer perder uma fonte de recursos. No Uruguai, a Polícia Federal investigou a passagem de Nicolau pelo balneário de Punta del Este e por Montevidéu. Chegou inclusive a ficar de prontidão nos aeroportos das duas cidades, mas Nicolau foi mais rápido e se entregou antes. As investigações ainda em curso sobre a fuga apontam para uma forte rede de contra-informação comandada pelo ex-juiz. A PF acredita que uma rede de pessoas com identidades falsas trabalhava na operação de acobertamento de Nicolau. Para agentes que trabalharam na operação de busca e que agora investigam como foi a fuga, durante todo o tempo apenas Nicolau e sua filha Maria Inês, a mais velha, conheciam o todo o funcionamento do esquema. Nicolau teria comandado tudo pessoalmente. Colaborou KENNEDY ALENCAR, da Sucursal de Brasília Texto Anterior: Ministro tenta extradição de banqueiro Próximo Texto: Interpol do Uruguai deixa investigações Índice |
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