São Paulo, terça-feira, 14 de dezembro de 2004

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HERANÇA MILITAR

Aeronáutica diz que procedimento é incompatível com as normas da Força; novos papéis são achados em base

IPM investiga queima de arquivos na Bahia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O Comando da Aeronáutica, em nota divulgada no início da noite, informou ontem que "o método empregado" na queima de arquivos ocorrida na Base Aérea de Salvador (BA) é "incompatível" com as normas regulamentares para esse tipo de procedimento. O assunto vem sendo investigado em um IPM (Inquérito Policial Militar).
Reportagem do "Fantástico" da TV Globo no domingo informou que na base foram queimados prontuários, fichas e relatórios produzidos por órgãos de informação das Forças Armadas durante a ditadura militar (1964-1985). Os papéis datam de 64 até 1994, quando o país já vivia sob o regime democrático. A reportagem mostra imagens do terreno onde supostamente foi feita a queima dos arquivos.
"As ações preliminares mostram que o método empregado para a destruição da documentação, apresentado na reportagem, é totalmente incompatível com aqueles estabelecidos pelas normas regulamentares da Aeronáutica para incineração de documentos oficiais", diz a nota.
Segundo o texto, a unidade da Aeronáutica em Salvador não guardava nenhum documento classificado sobre o período da ditadura militar. A nota afirma que o comandante da base não deu ordem para a destruição de documentos.
O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, disse ontem ter autorizado o comandante da Aeronáutica a investigar a suposta incineração de documentos militares. "O comandante [Luiz Carlos da Silva Bueno] quer fazer uma investigação e, da minha parte, está autorizado a fazer", afirmou Alencar. Ele não fez mais comentários sobre o caso.
A Base Aérea de Salvador divulgou nota oficial informando que tomou todas as providências para "elucidar bem os fatos".
O secretário especial de Direitos Humanos da Presidência, Nilmário Miranda, deve receber hoje cópias de alguns papéis que não foram queimados.

Novos papéis
O Comando da Aeronáutica localizou ontem uma pilha de documentos intactos na Base Aérea de Salvador (BA). O destino dos papéis também seria a incineração.
Em entrevista ao "Jornal Nacional" ontem, o comandante da Força, Luiz Carlos da Silva Bueno, afirmou ter ficado "absolutamente estarrecido" com a descoberta, pois a Aeronáutica "tem procurado contribuir ao máximo" em relação à "pesquisa de documentos que podem se tornar históricos".
Na entrevista ao "Jornal Nacional", Bueno afirmou que os documentos não estavam guardados em Salvador e que "o espaço da base aérea foi invadido, sem permissão". Segundo Bueno, não há como dizer hoje se a Aeronáutica guarda arquivos sigilosos.
"No dia 30 de novembro, expedi uma nota ao chefe do Sistema de Informações da Aeronáutica, que continuasse pesquisando para verificar a possibilidade de localizar qualquer tipo de documento que possa facilitar a história desse período, entre 64 e 85. Caso sejam localizados, vamos arquivá-los e colocá-los à disposição do Ministério da Defesa."
A primeira reunião da Comissão de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas, criada na sexta-feira para analisar a abertura de arquivos oficiais, deve realizar seu primeiro encontro até sexta-feira desta semana. Inicialmente previsto para ontem, o encontro foi adiado.


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