São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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CONTAS EM XEQUE

Para o Banco Central, Conselhinho deveria checar operações dos bancos Rural e BMG

BC refuta responsabilidade por má fiscalização

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acusados de negligência em relação a supostas irregularidades praticadas nos bancos Rural e BMG, representantes do Banco Central negaram falhas, mas disseram à CPI dos Correios que a palavra final na fiscalização de instituições financeiras não é deles, mas do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional.
Fazia parte do chamado Conselhinho, que analisa em segunda instância punições aplicadas pelo BC, o procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes, que recebeu R$ 1,6 milhão do publicitário Marcos Valério de Souza.
De acordo com o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), os funcionários do BC citaram como exemplo a recomendação que teria sido feita por eles de destituição de diretores do Banco Rural. O Conselhinho teria alterado a punição para uma multa de R$ 100 mil. Serraglio não soube dizer a que episódio isso se referia.
Em depoimento à CPI, Glênio confirmou o recebimento dos recursos de Valério e disse que foram pagamentos por um contrato firmado em 2003, com validade até 2005, entre o escritório de advocacia de seu pai, Ramon Guedes, e a consultoria Tolentino & Melo, da qual Valério era sócio.
Ele negou que o dinheiro seja uma contrapartida por defender, a pedido do publicitário, os interesses do Banco Rural no do Conselhinho. O Rural concedeu a Valério empréstimos que somaram R$ 29 milhões, repassados ao PT.
Glênio fazia pareceres sobre recursos apresentados por empresas multadas pela Comissão de Valores Mobiliários e pelo BC. Em um desses casos, deu um parecer pelo arquivamento de um processo contra o Rural.
Participaram da reunião o diretor de Liquidações Antonio Gustavo do Vale, o chefe do departamento de supervisão de bancos Osvaldo Watanabe, o chefe do departamento de combate a ilícitos financeiros Ricardo Liáo e o gerente do departamento de fiscalização em Belo Horizonte Walter Cançado. Além de Serraglio, participou o relator-adjunto, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
O ex-superintendente do Rural Carlos Roberto Godinho disse à CPI, na semana passada, que o BC foi conivente com supostas irregularidades cometidas pelo banco no episódio. Segundo ele, os empréstimos concedidos às empresas de Valério foram de fachada para esconder a verdadeira origem do dinheiro. Ainda de acordo com Godinho, as empresas do publicitário tinham movimentação dez a 15 vezes maior do que seu faturamento, o que seria um indício de lavagem de dinheiro.
"Dissemos que o Godinho afirmou que as últimas instâncias do BC mitigaram a pressão da fiscalização feita no Rural, aí eles disseram que a última palavra não é deles, é do conselho de contribuintes", disse Serraglio.
Os funcionários do BC teriam afirmado que abrirão processos administrativos contra o Rural.


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