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Aumento de 150% da população se deve à autodeclaração
DA SUCURSAL DO RIO
Na década de 70, prognósticos mais sombrios alertavam para o risco de extinção
dos povos indígenas no Brasil. Após 30 anos, o Censo
2000 do IBGE afastou esse
temor, ao constatar que de
1991 a 2000 a população indígena cresceu mais do que
todos os outros grupos étnicos. Eles eram 294 mil em
1991 e passaram a ser 734 mil
em 2000, uma variação de
149,6%, enquanto o restante
da população cresceu 8,2%.
Uma análise mais apurada
nos dados mostra, no entanto, que não houve um
"boom populacional" causado por altíssimas taxas de
fecundidade ou migração de
povos de países vizinhos. O
crescimento foi causado por
gente que já vivia em áreas
urbanas em 1991 mas que,
no censo daquele ano, não se
declarou como indígena,
passando a fazer isso apenas
nove anos mais tarde.
Em 1991, dos 294 mil índios, 71 mil (24,1%) viviam
na área urbana. Nove anos
depois, esse contigente urbano deu um salto de 440% e
passou a representar 52,2%
do total, ou 383 mil pessoas.
"Não se trata de aumento
demográfico. O que sobressai na análise desse crescimento é o componente de
autodeclaração", afirma
Luiz Antônio Oliveira, coordenador de População e Indicadores Sociais do IBGE.
Uma maneira de ver isso é
constatar que, em 2000,
67,2% dos índios que moravam em Estados diferentes
do de nascimento já haviam
feito a migração há mais de
dez anos. Ou seja, eles já
existiam em 1991, mas só em
2000 se declararam índios.
Outro jeito é verificar a taxa de fecundidade. Ela ficou
em 3,86 filhos por mulher na
população total e em 6,16 entre os que viviam em cidades
com terras demarcadas.
Apesar de serem taxas maiores que a média nacional, de
2,38 em 2000, não justificariam crescimento tão alto.
Foi o crescimento da população autodeclarada indígena nos meios urbanos que
levou, por exemplo, a cidade
de São Paulo, com 18.692, a
apresentar o terceiro maior
contigente populacional
desse grupo, atrás apenas de
São Gabriel da Cachoeira
(AM), com 22.853, e Salvador (BA), com 18.712.
A gerente de população do
IBGE, Nilza Pereira, explica
que, como o critério do instituto para definir cor ou raça
é a autodeclaração do entrevistado, há nesse percentual
de indígenas tanto aqueles
que mantinham algum vínculo com sua comunidade
de origem quanto os que se
identificaram como tal por
descenderem de índios,
mesmo não tendo mais vínculo nenhum com a comunidade de seus pais ou avós.
Para Lúcia Fernanda Kaingáng, diretora-executiva do
Instituto Indígena Brasileiro
para a Propriedade Intelectual, vários fatores podem
ter contribuído para o aumento na autodeclaração:
"Um desses fatores foi a conquista de direitos que, antes
de 1990, não eram assegurados. Também houve, a partir
da década de 80, um movimento de valorização da diversidade cultural".
Porém não basta se identificar como índio para ter
acesso aos serviços específicos para essa população, diz
Kaingáng. "A maioria dos
serviços exige que a pessoa
diga a que comunidade pertence. Muitos tentam se inscrever em política de cotas
em universidades, mas não
sabem dizer a que comunidade pertencem."
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