São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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Entre guaranis-caiuás, mortalidade atinge 10%

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Afetados pela desnutrição, que matou ao menos 15 crianças nas aldeias neste ano, os índios guaranis-caiuás ainda sofrem com um índice de mortalidade infantil que chega a cem por mil nascidos vivos na fronteira com o Paraguai, em Mato Grosso do Sul. O índice foi informado à Folha ontem pelo coordenador técnico da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) na região, Antônio Fernandes Costa.
Segundo o IBGE, que divulgou informações sócio-demográficas inéditas sobre indígenas, o Censo 2000 mostrou que a mortalidade infantil em aldeias é de 51,4 por mil, bem maior do que a dos brasileiros em geral (30,1 por mil).
Em Amambaí (393 km de Campo Grande), onde 8.000 guaranis-caiuás habitam 2.429 hectares próximos à cidade, o índice atual é de cem por mil. Em Japorã e Eldorado, que abrigam mais de 5.000 guaranis-caiuás, a mortalidade é de 80 por mil.
Em Dourados (segunda maior cidade do Estado), há 11,5 mil índios em apenas 3.500 hectares. A mortalidade, segundo Costa, caiu de 71 por mil (em 2004) para 32 por mil. Houve, porém, diminuição de nascimentos. "Até devido a desnutrição, eles [os pais] começaram a pensar mais [antes de ter um filho]", diz Costa.
Nas aldeias de Japorã, Amambaí e Dourados vivem 4.500 crianças indígenas menores de cinco anos. No início do ano, 12% estavam desnutridas. Neste ano, até março, 15 morreram de fome.
Em Mato Grosso, os xavantes, que também enfrentam a desnutrição, estão cercados por plantações de soja. Em março, seis crianças morreram desnutridas.
Ontem a reportagem não conseguiu falar com técnicos e a coordenação da Funasa, que estavam na aldeia. Edson Beiriz, coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio), diz que os 15 mil xavantes possuem terra (ao contrário dos guaranis-caiuás), mas não têm agricultura de subsistência.
A monocultura da soja, segundo Beiriz, poluiu rios e levou ao desmatamento, impedindo os índios de caçar e pescar. O resultado, afirma o coordenador da Funai, é fome.


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