São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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Economia pode ofuscar ética em debate

RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO

Apesar de terem dominado o noticiário político no ano de 2005, as denúncias de corrupção que sacudiram o governo e abalaram a imagem de partido "ético" do PT não devem monopolizar a atenção na campanha eleitoral de 2006. Tanto no PT como no PSDB, acredita-se que os temas principais da discussão política em 2006 não serão muito diferentes daqueles das eleições de 2002: o modelo econômico do país e a geração de empregos.
Se em 2002 Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) duelaram com acenos de geração de emprego que iam de 8 milhões no caso do tucano a 10 milhões nos programas do petista, o assunto deve voltar a ser central na campanha de 2006.
Pessoas ligadas ao governador paulista, Geraldo Alckmin, principal rival de Serra dentro do PSDB, dizem que a necessidade de geração de empregos e a melhora da distribuição de renda no país devem dominar os eventuais programas de TV do tucano.
Essa não é uma visão muito diferente da de um parlamentar tucano que atua para que o candidato do partido seja novamente o prefeito José Serra. Para ele, os temas principais serão desenvolvimento, crescimento econômico e emprego.
Para o parlamentar, embora o PSDB tenha um só programa de governo, a campanha deverá ter nuances diferentes dependendo do candidato. Ele diz crer que, caso Alckmin seja o escolhido, optará por uma campanha que frise mais sua qualidade gerencial, elencando os atos do seu governo. Já caso Serra concorra, a discussão tomará âmbito mais nacional.
O deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), outro simpatizante do prefeito de São Paulo, diz que, embora tenham perfis diferentes, Serra e Alckmin convergirão para o mesmo discurso caso candidatos. Esse discurso, diz ele, passa pela política econômica como um tema central na campanha, bem como a capacidade de funcionamento da administração pública.

FHC
Ao contrário do que ocorreu em 2002, quando Serra, apesar de apoiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, optou por um discurso de "continuidade sem continuísmo", o prefeito deve querer associar a sua imagem às realizações do governo FHC, principalmente no âmbito das políticas de combate à pobreza.
Segundo a avaliação de um tucano ligado ao prefeito de São Paulo, Serra tem condições de disputar com Lula o eleitorado que recebe o Bolsa-Família, já que os programas sociais de complementação de renda tiveram início da gestão FHC.
Pesquisa Datafolha feita em outubro mostra Lula com 37% dos votos daqueles que foram beneficiados pelo Bolsa-Família ou conhecem quem tenha feito uso do programa contra 26% de Serra no primeiro turno. Se a disputa é contra Geraldo Alckmin, o petista atinge 40% dos votos contra apenas 11% do tucano.
A referência a FHC, porém, não é unânime entre os aliados de Serra. Goldman, por exemplo, acredita que o candidato terá mais a ganhar se fizer uma campanha "olhando para o futuro".
Se não é certo que seu governo será relembrado pelos seus correligionários em 2006, Fernando Henrique Cardoso deve ser personagem freqüente na campanha à reeleição do seu adversário Lula.
Petistas ouvidos pela Folha acreditam que a campanha do partido em 2006 se construirá sobre três pilares, sendo um deles a comparação dos quatro anos do governo Lula com os oito de seu antecessor. O PT acredita ter números mais vistosos a apresentar nas diferentes áreas.
Os outros dois seriam a confrontação do que foi efetivamente realizado pelo governo com o que era prometido no programa de governo em 2002 e a proposta da transição do modelo econômico atual para um modelo de desenvolvimento, que não se contente com as taxas de crescimento atuais e proponha caminhos para a geração de empregos -ponto de convergência com as idéias que serão defendidas pelo PSDB.
Questionado se esse discurso não incorreria no risco de fazer de Lula um candidato de oposição a seu próprio governo, o ex-presidente do PT Tarso Genro, cotado para assumir a coordenação do programa de governo da campanha à reeleição, diz que "transição não é uma ruptura, é uma continuidade num nível superior".
"Nós temos dados para comparar, mesmo o crescimento, a questão de renda, emprego, com o governo Fernando Henrique. Nós não temos medo de fazer essa comparação", afirmou.
As comparações com FHC são recorrentes em discursos do próprio presidente, embora ele evite citar o nome do adversário. Geralmente acompanhados da expressão "nunca antes neste país", Lula cita dados de realizações do seu governo que, segundo ele, são inéditas na história do Brasil e superam em muito as do governo do tucano.

Questão ética
Embora não seja o eixo central da discussão, a questão ética, bandeira levantada pelo PT em eleições passadas, será agora explorada pela oposição. A avaliação dos aliados de Serra é que Lula será muito cobrado pelo envolvimento de seu governo com escândalo do "mensalão".
A visão é a mesma entre os partidários de Alckmin, que acreditam que haverá uma cobrança ética muito grande em 2006. Para reagir a isso, o governador pretende fazer uma campanha "sem gastança nem bravata".
Já o PT, que levantou a ética como sua principal bandeira no passado, deve batalhar agora para relegar a questão a um segundo plano. Até porque, nas palavras de Tarso Genro, "se o nosso partido ficar discutindo exclusivamente essa agenda [ética], ele vai perder um discurso de desenvolvimento de emprego e de crescimento, e, como conseqüência, vai ficar numa postura defensiva e dificilmente vai ganhar a eleição".


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