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Economia pode ofuscar ética em debate
RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO
Apesar de terem dominado o
noticiário político no ano de 2005,
as denúncias de corrupção que
sacudiram o governo e abalaram
a imagem de partido "ético" do
PT não devem monopolizar a
atenção na campanha eleitoral de
2006. Tanto no PT como no
PSDB, acredita-se que os temas
principais da discussão política
em 2006 não serão muito diferentes daqueles das eleições de 2002:
o modelo econômico do país e a
geração de empregos.
Se em 2002 Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e José Serra (PSDB)
duelaram com acenos de geração
de emprego que iam de 8 milhões
no caso do tucano a 10 milhões
nos programas do petista, o assunto deve voltar a ser central na
campanha de 2006.
Pessoas ligadas ao governador
paulista, Geraldo Alckmin, principal rival de Serra dentro do
PSDB, dizem que a necessidade
de geração de empregos e a melhora da distribuição de renda no
país devem dominar os eventuais
programas de TV do tucano.
Essa não é uma visão muito diferente da de um parlamentar tucano que atua para que o candidato do partido seja novamente o
prefeito José Serra. Para ele, os temas principais serão desenvolvimento, crescimento econômico e
emprego.
Para o parlamentar, embora o
PSDB tenha um só programa de
governo, a campanha deverá ter
nuances diferentes dependendo
do candidato. Ele diz crer que, caso Alckmin seja o escolhido, optará por uma campanha que frise
mais sua qualidade gerencial,
elencando os atos do seu governo.
Já caso Serra concorra, a discussão tomará âmbito mais nacional.
O deputado Alberto Goldman
(PSDB-SP), outro simpatizante
do prefeito de São Paulo, diz que,
embora tenham perfis diferentes,
Serra e Alckmin convergirão para
o mesmo discurso caso candidatos. Esse discurso, diz ele, passa
pela política econômica como um
tema central na campanha, bem
como a capacidade de funcionamento da administração pública.
FHC
Ao contrário do que ocorreu em
2002, quando Serra, apesar de
apoiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, optou por
um discurso de "continuidade
sem continuísmo", o prefeito deve querer associar a sua imagem
às realizações do governo FHC,
principalmente no âmbito das
políticas de combate à pobreza.
Segundo a avaliação de um tucano ligado ao prefeito de São
Paulo, Serra tem condições de
disputar com Lula o eleitorado
que recebe o Bolsa-Família, já que
os programas sociais de complementação de renda tiveram início
da gestão FHC.
Pesquisa Datafolha feita em outubro mostra Lula com 37% dos
votos daqueles que foram beneficiados pelo Bolsa-Família ou conhecem quem tenha feito uso do
programa contra 26% de Serra no
primeiro turno. Se a disputa é
contra Geraldo Alckmin, o petista
atinge 40% dos votos contra apenas 11% do tucano.
A referência a FHC, porém, não
é unânime entre os aliados de Serra. Goldman, por exemplo, acredita que o candidato terá mais a
ganhar se fizer uma campanha
"olhando para o futuro".
Se não é certo que seu governo
será relembrado pelos seus correligionários em 2006, Fernando
Henrique Cardoso deve ser personagem freqüente na campanha
à reeleição do seu adversário Lula.
Petistas ouvidos pela Folha
acreditam que a campanha do
partido em 2006 se construirá sobre três pilares, sendo um deles a
comparação dos quatro anos do
governo Lula com os oito de seu
antecessor. O PT acredita ter números mais vistosos a apresentar
nas diferentes áreas.
Os outros dois seriam a confrontação do que foi efetivamente
realizado pelo governo com o que
era prometido no programa de
governo em 2002 e a proposta da
transição do modelo econômico
atual para um modelo de desenvolvimento, que não se contente
com as taxas de crescimento
atuais e proponha caminhos para
a geração de empregos -ponto
de convergência com as idéias
que serão defendidas pelo PSDB.
Questionado se esse discurso
não incorreria no risco de fazer de
Lula um candidato de oposição a
seu próprio governo, o ex-presidente do PT Tarso Genro, cotado
para assumir a coordenação do
programa de governo da campanha à reeleição, diz que "transição
não é uma ruptura, é uma continuidade num nível superior".
"Nós temos dados para comparar, mesmo o crescimento, a
questão de renda, emprego, com
o governo Fernando Henrique.
Nós não temos medo de fazer essa
comparação", afirmou.
As comparações com FHC são
recorrentes em discursos do próprio presidente, embora ele evite
citar o nome do adversário. Geralmente acompanhados da expressão "nunca antes neste país", Lula
cita dados de realizações do seu
governo que, segundo ele, são
inéditas na história do Brasil e superam em muito as do governo
do tucano.
Questão ética
Embora não seja o eixo central
da discussão, a questão ética, bandeira levantada pelo PT em eleições passadas, será agora explorada pela oposição. A avaliação dos
aliados de Serra é que Lula será
muito cobrado pelo envolvimento de seu governo com escândalo
do "mensalão".
A visão é a mesma entre os partidários de Alckmin, que acreditam que haverá uma cobrança ética muito grande em 2006. Para
reagir a isso, o governador pretende fazer uma campanha "sem
gastança nem bravata".
Já o PT, que levantou a ética como sua principal bandeira no passado, deve batalhar agora para relegar a questão a um segundo plano. Até porque, nas palavras de
Tarso Genro, "se o nosso partido
ficar discutindo exclusivamente
essa agenda [ética], ele vai perder
um discurso de desenvolvimento
de emprego e de crescimento, e,
como conseqüência, vai ficar numa postura defensiva e dificilmente vai ganhar a eleição".
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