São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2001

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CONGRESSO

Ministro foi um dos responsáveis pela aproximação de PMDB e PSDB, que levou à vitória de Jader e Aécio e à derrota pefelista

Resultados fortalecem Serra para 2002

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O resultado das eleições de ontem para as presidências da Câmara e do Senado fortalece o ministro tucano José Serra (Saúde) como candidato da aliança governista à Presidência da República em 2002.
Serra costurou a aproximação do PMDB com o PSDB antes mesmo das eleições do Congresso para tentar manter a base do governo unida no final do mandato de FHC e em 2002. Essa aproximação abriu caminho para o acordo dos dois partidos, decisivo para a vitória de Jader Barbalho no Senado e de Aécio Neves na Câmara.
O ministro, porém, não descuidou da terceira ponta da complexa aliança governista: o PFL.
Durante todo o tempo -antes e durante a eleição-, conversou com o vice-presidente da República, Marco Maciel, e o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen.
Além de sucessivos telefonemas, Serra e Bornhausen se encontraram ao menos duas vezes: no Ministério da Saúde e em um almoço a dois no apartamento do ministro em Brasília.
Em um primeiro momento, Serra apoiou a "solução natural" para o Congresso: Jader pelo PMDB no Senado e o deputado Inocêncio Oliveira pelo PFL na Câmara. Sua reação ao lançamento da candidatura do correligionário Aécio Neves, portanto, foi de descrença. O ministro achava que não passava de um sonho, e Aécio sabe disso.
Na versão do agora presidente da Câmara, Serra ligava no início da campanha em tom quase paternal: "E aí, Aécio, como vai sua aventura?". Quando a aventura ganhou corpo, ele mudou o tom, o pronome e o substantivo: "Como vai a nossa candidatura?".
Não há mágoas, porém. Aécio é especialmente grato ao governador licenciado de São Paulo, Mário Covas, que veio a Brasília para o lançamento de seu nome. Mas reconhece que Serra, ao entrar na campanha, entrou de verdade.
Tucanos dizem, inclusive, que o ministro teve importantes conversas com setores da esquerda da Câmara, defendendo a candidatura Aécio.

ACM
O único grande personagem da disputa que Serra não incluiu nas suas articulações foi o agora ex-presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o ACM. Ele e Serra trataram de manter-se à distância, com bons motivos.
ACM foi quem deflagrou a crise, ao vetar o nome de Jader, enquanto Serra defendia que o candidato fosse do PMDB e preferia Jader. Serra e ACM não se falavam. Serra e Jader se falaram constantemente, ao menos ao telefone.
Além disso, ACM foi o primeiro a lançar o nome do principal adversário tucano de Serra na corrida sucessória, o do governador Tasso Jereissati, do Ceará.
Apesar de deixar claro que tinha restrições a Jader, Tasso se comportou partidariamente nas eleições de ontem: "sua" bancada na Câmara empenhou a palavra com Aécio, e a do Senado declarou voto a Jader às vésperas da eleição.
O excesso de vinculação do nome de Tasso a ACM deixou de ser um trunfo para Tasso. Pelo menos por enquanto. Hoje, ACM é responsabilizado no próprio PFL pela derrota de ontem e mais atrapalha do que ajuda como padrinho de candidaturas.
A atual contabilidade na fracionada aliança governista é favorável a Serra, que tem mais trânsito entre os peemedebistas e mantém bom diálogo com o PFL de Bornhausen e Maciel. Tasso tem o apoio de ACM, mas enfrenta resistências no "outro PFL" e mais ainda no PMDB, com quem vive às turras no Ceará.
Taticamente, o PMDB não descarta apoiar Tasso e considera inclusive que, se ele quiser o apoio da sigla, terá de fazer concessões maiores do que Serra. Deve contar com essa possibilidade até para não dar a Serra a sensação de que o partido irá a seu reboque.
Por enquanto, os peemedebistas analisam que o candidato mais viável para uma aliança é Serra, mas continuarão com o discurso, para consumo externo, de que têm candidato próprio, o senador Pedro Simon (RS).
Serra se empenha, também, para conquistar o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, o único capaz de neutralizar o peso do apoio público de Covas a Tasso Jereissati. Por fim, empenha-se ainda em garantir a simpatia do "novo PSDB", a começar de São Paulo.
A eleição de Aécio em Brasília e a interinidade prolongada de Geraldo Alckmin no governo de São Paulo caracterizam um importante movimento de renovação de quadros no PSDB.
Os novos passos são a tentativa de eleger, de preferência ainda hoje, o deputado baiano Jutahy Magalhães Júnior para a liderança tucana na Câmara e um presidente paulista para o partido.
Jutahy é muito ligado a Serra. E são candidatos à presidência o deputado Alberto Goldman, próximo a Serra, e José Aníbal, secretário de Ciência e Tecnologia de São Paulo, com quem Serra almoçou recentemente.
Depois de anos de provocações mútuas, Serra e Aníbal fizeram uma espécie de pacto velado: "Passado é passado, vamos pensar no futuro".
Um terceiro candidato é o ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), mas há uma espécie de consenso de que ele deveria deixar o governo para assumir o partido. Ele não parece disposto a fazer a troca. Serra está dentro de todos esses movimentos tucanos, mas sem descuidar do PMDB e do PFL e tentando se equilibrar entre os três partidos.
O deputado Michel Temer admitiu ontem: "O resultado de hoje (ontem) aproxima o PSDB do PMDB e deve importar, no futuro, na solidificação de uma aliança para a Presidência e acordos regionais".
Entre esses acordos estão o de Jader com o governador tucano Almir Gabriel no Pará, o do líder peemedebista Geddel Vieira Lima contra ACM na Bahia e o do ministro Eliseu Padilha (Transportes) com o PSDB gaúcho para a eleição de governador.

"Fusão PMDB-PSDB"
"Se tudo der muito certo, muito lá na frente, podemos até pensar numa fusão do PMDB com o PSDB", disse Temer. Ex-presidente da Câmara e candidato à presidência do PMDB, ele já declarara à Folha que, se o partido não tiver candidato próprio, o preferido é Serra.
A Bornhausen também não desagrada a opção pelo ministro paulista, com quem o PFL conversa sempre desde os tempos da Constituinte de 1988.
A diferença entre os dois partidos é que o PMDB tenta filiar o governador de Minas, Itamar Franco, que é presidenciável potencial e pode virar uma espécie de carta na manga para eventuais confrontos com o governo ou com Serra. O PFL não tem candidatos próprios à vista.
(ELIANE CANTANHÊDE e KENNEDY ALENCAR)

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