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CASO CC-5
BC divulga que banco foi autuado em US$ 75 mil por órgão americano para tentar provar que não foi omisso em apuração
Banestado de NY foi multado pelos EUA
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O OCC (Office of the Comptroller of the Currency), órgão de regulação e supervisão dos bancos
estrangeiros do Departamento de
Tesouro norte-americano, aplicou uma multa de US$ 75 mil
(mais de R$ 275 mil) à agência de
Nova York do Banestado (Banco
do Estado do Paraná, privatizado
em outubro de 2000).
A Polícia Federal suspeita que a
agência tenha movimentado US$
30 bilhões provenientes de contas
CC-5 (de não-residentes) entre
1996 e 1999 e a acusa de ter integrado um grande esquema de lavagem de dinheiro.
A aplicação da multa foi divulgada à Folha pela diretora de Fiscalização do Banco Central do
Brasil, Teresa Grossi, numa tentativa de provar que o BC não foi
omisso nas investigações sobre
uso de contas CC-5 para lavagem
de dinheiro. O OCC confirmou
que a investigação norte-americana sobre o Banestado surgiu a
partir de informações transmitidas aos EUA pelo BC.
O BC não tem jurisdição para
fiscalizar as operações feitas por
bancos brasileiros no exterior. Só
analisa a saúde financeira das
agências, a partir de seus números
globais. Em 1995, uma equipe de
fiscais do BC fez a primeira fiscalização internacional, em Nova
York e em Londres. Essa fiscalização foi repetida em 1996.
Nos dois anos, o BC esteve na
agência do Banestado de Nova
York e percebeu que ela tinha um
pequeno volume de ativos e poucas operações de crédito. Mas obtinha uma rentabilidade muito
grande por meio da cobrança de
taxas de serviços. O BC não tinha
como verificar os tipos de serviços
realizados pelo banco.
Nos dois anos, a inspeção na
agência do Banestado foi feita por
Grossi, que foi convocada para
participar da equipe que viajou ao
exterior para fiscalizar agências
de bancos brasileiros lá fora.
Paralelamente, o Departamento
de Câmbio do BC começou a fiscalizar a utilização de contas CC-5
de Foz do Iguaçu (PR) para o envio de dinheiro ilegal ao exterior.
Detectou que havia "algo estranho" no fluxo de dinheiro para o
exterior por meio de agências
bancárias em Foz do Iguaçu.
O trabalho do Departamento de
Câmbio rendeu um relatório sobre inúmeras operações suspeitas. Em 24 de abril de 1997, o então presidente do BC, Gustavo
Loyola, fez uma representação ao
procurador-geral da República,
Geraldo Brindeiro, pedindo que
ele iniciasse investigações sobre o
esquema de evasão de divisas.
O documento foi recebido pelo
gabinete do procurador no dia 28
de abril de 1997 e continha o número 01048. O BC argumenta que
foi esse relatório, encaminhado à
Procuradoria Geral da República,
que deu origem às diversas investigações do Ministério Público sobre o uso das contas CC-5 para lavagem de dinheiro.
As apurações do Departamento
de Câmbio apontavam que o Banestado era um dos bancos que
mais realizava operações de CC-5.
Em grande parte dos casos, o dinheiro era destinado ao Banco del
Paraná, uma filial do Banestado
no Paraguai.
Surgiram os primeiros indícios
de que o dinheiro poderia estar
sendo enviado para o Banestado
de Nova York. Com as coincidências nas mãos, o então diretor de
Fiscalização do BC, Cláudio
Mauch, embarcou para os EUA,
em 18 de março de 1998, com
Grossi. Em Nova York, o BC comunicou suas suspeitas ao OCC e,
a pedido do órgão, ao FBI (a polícia federal norte-americana).
Em outubro de 1998, o OCC
propôs ao BC uma inspeção conjunta no Banestado de Nova
York. E Grossi foi de novo destacada para ir aos EUA. Só que os
advogados do Banestado, segundo diz Grossi, sabendo da presença dela na operação, impediram
sua participação, sob o argumento de que ela não poderia ter acesso a informações sigilosas com
base na legislação americana.
Por causa das suspeitas que tinha, o BC fez um acordo com o
governo do Estado do Paraná para que a agência de Nova York do
Banestado fosse fechada em 1999,
antes de o banco ser privatizado.
Em 5 de fevereiro de 2000,
Leann Britton, do OCC, e Gilson
Girardi, do Banestado, assinaram
uma "ordem de estipulação e
consenso", uma espécie de acordo, por meio do qual o Banestado
se comprometeu a pagar a multa
de US$ 75 mil, "sem admitir ou
negar qualquer irregularidade".
Procurado pela Folha, o OCC
alegou sigilo para não revelar
quais seriam as irregularidades.
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