São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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JORNADA DUPLA

132 deputados e senadores devem esvaziar Brasília no segundo semestre para concorrer para prefeituras

Eleição impõe recesso branco no Congresso

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Pelo menos 132 dos 594 parlamentares pretendem disputar a eleição para prefeito de suas cidades em 3 de outubro. Com isso, o Congresso deverá ter um recesso branco no segundo semestre, com poucas sessões deliberativas e sem votar projetos importantes.
O número foi levantado pela Folha junto às lideranças dos partidos na Câmara e no Senado e se refere a todos os parlamentares que podem disputar as eleições. Os partidos, entretanto, avaliam que vários desses nomes devem ficar pelo caminho e o número de candidatos que chegarão a 3 de outubro ficará entre 100 e 110 (veja quadro nesta página).
O partido com o maior número de pré-candidatos é o PT, com 22. Entre os parlamentares paulistas, 20 querem disputar a eleição, sendo 12 para a Prefeitura de São Paulo (leia texto nesta página).

Boa imagem
Preocupado com a imagem do Congresso, desgastada com a recente convocação extraordinária que consumiu R$ 50 milhões e teve poucas votações importantes, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), propôs um acordo com os líderes.
Ele quer que ao menos uma vez por semana, às quartas-feiras, haja quórum de mais de 400 deputados na Casa para a votação de projetos importantes e de medidas provisórias.
A intenção da Câmara é votar ainda em 2004 as reformas do Judiciário e sindical, além de concluir as votações das reformas tributária e da Previdência.
No Senado, o problema é menor, pois há apenas 14 pré-candidatos. Mas o presidente José Sarney (PMDB-AP), recém-recuperado de uma cirurgia, também buscará construir uma pauta mínima no segundo semestre.
Os dois presidentes querem evitar que o Congresso seja paralisado entre julho e novembro por conta das eleições e que depois não haja tempo para analisar os projetos que ficarem parados. Nesse cenário, seria preciso convocar extraordinariamente a Casa em janeiro, aumentando o desgaste dos parlamentares.

Carona presidencial
No embalo da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com as benesses da máquina federal, 21 deputados e uma senadora do PT querem disputar as eleições de outubro. Desses, 16 já tiveram seus nomes homologados oficialmente pelo partido e outros seis ainda precisam disputar as prévias para confirmar suas candidaturas.
Outros partidos da base aliada também lançarão muitos deputados às prefeituras, como o PTB (18), o PMDB (16) e o PSB (11).
Já a oposição, sem a máquina federal utilizada a seu favor nas últimas eleições, se limita aos 13 pré-candidatos tucanos e aos nove do PFL. O neo-oposicionista PDT, que proibiu alianças e coligações com o partido de governo, o PT, terá até oito candidatos.
O excesso de candidatos da base aliada preocupa o presidente nacional do PT, José Genoino, que vem se reunindo com os presidentes dos partidos em busca de alianças no maior número possível de municípios.
Na semana passada, Genoino esteve com o presidente do PSB, Miguel Arraes (PE). Firmaram um pacto de não-agressão entre os candidatos dos dois partidos e ao governo Lula.
Mas a carta de intenções esbarra em três capitais onde o PSB terá candidatos de oposição aos prefeitos petistas: Porto Alegre (Beto Albuquerque), São Paulo (Luiza Erundina) e Goiânia (Barbosa Neto). Nas demais cidades, a disputa entre os dois partidos deve ser "cordial".
Para o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), mesmo onde candidatos de seu partido disputarem o primeiro turno contra petistas, a orientação é que não haja ataques mútuos para que uma aliança no segundo turno não fique inviabilizada.
Além disso, o governo Lula deverá ser poupado das críticas dos socialistas, pois o partido participa do primeiro escalão com um ministro, Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia).
Outra preocupação do PT é com o PC do B. Genoino tenta convencer os comunistas a retirarem dois candidatos a prefeito de capitais: Jandira Feghali (Rio) e Alice Portugal (Salvador).
Essas candidaturas podem atrapalhar as intenções do PT de viabilizar Jorge Bittar e Nelson Pellegrino, respectivamente.
O argumento petista é de que o PC do B já ocupa dois ministérios, Esporte e Coordenação Política, o que está acima de sua representatividade no Congresso. Além disso, o PT promete não lançar candidatos em Fortaleza e Manaus para apoiarem os deputados comunistas Inácio Arruda e Vanessa Grazziotin, respectivamente.
Com os demais partidos da base, a situação é mais tranqüila. Com o PTB, a disputa mais tumultuada deve ser em Santos, envolvendo a petista Telma de Souza e o petebista Vicente Cascione, vice-líder do governo na Câmara.
Com o PMDB, já foi fechado um acordo para o apoio a Marta Suplicy, em São Paulo. O PT ainda busca acordos semelhantes no Rio e em Curitiba, sempre com petistas na cabeça da chapa.
Envolvido desde já nas eleições, Genoino acha normal o Congresso ter um recesso branco em ano eleitoral. Afirma ter sido assim mesmo em 92, ano do impeachment do ex-presidente Fernando Collor. E constata que os parlamentares que se omitem das disputas municipais, mesmo os que não são candidatos, acabam castigados pelos eleitores.
"A opinião pública tem um sentimento contraditório", afirma o presidente do PT. "Cobram que o deputado esteja sempre em Brasília, mas todos aqueles que não participam da campanha municipal "rodam" na eleição parlamentar seguinte", disse Genoino.



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