São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Ex-diretor do BB volta atrás e livra Gushiken

À CPI dos Correios Pizzolato havia dito que tinha "ordem" do então ministro para liberar R$ 23 milhões a empresa de Valério

Ex-dirigente, que recebeu R$ 326 mil no mensalão, atribui declarações na CPI a coação e ameaças de prisão que diz ter sofrido na sessão

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato renegou na Justiça seu depoimento à CPI dos Correios, em 2005, quando atribuíra a uma ordem do então ministro da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken, a liberação de R$ 23 milhões para uma empresa de Marcos Valério, no caso do mensalão. Gushiken já havia negado ter dado a ordem.
Pizzolato também teve dificuldades em explicar o recebimento de R$ 326 mil de Valério e a posterior compra de apartamento no Rio por R$ 400 mil, uma parte paga em dinheiro.
Ele atribuiu suas declarações na CPI a ameaças de prisão e a coação de parlamentares que diz ter sofrido na sessão.
As declarações contribuíram para a saída de Gushiken da Secom, denunciado por peculato. "Estava sob ameaça de que iam me prender. Não tive condições de raciocinar. Fui coagido, ameaçado e humilhado." Na ocasião, sobre a suposta determinação de Gushiken para fazer pagamento a Valério, Pizzolato disse: "Entendi aquilo como uma ordem, não iria me confrontar com o ministro".
Desde o início do interrogatório, ele procurou se afastar de Gushiken, contestando proximidade com o ex-ministro, mesmo tendo reconhecido que emprestou apartamento funcional da Associação Nacional de Funcionários do BB em Brasília a ele e ao ex-deputado Eduardo Jorge (PT-SP).
Réu por corrupção passiva, Pizzolato disse que mandou o auxiliar do banco Luiz Eduardo Ferreira pegar envelopes, que continham R$ 326 mil, em janeiro de 2004 a pedido de secretária de Valério, mas que desconhecia o conteúdo. Ferreira afirmou, em audiência anterior, que pegou o dinheiro e entregou ao ex-diretor, em sua residência, no Rio.
À época presidente do Conselho Deliberativo do Previ (fundo de previdência do Banco do Brasil), Pizzolato disse ontem que não conhecia a secretária de Valério, mas ainda assim se comprometeu a pegar "documentos para entregar ao PT". Afirmou que ordenara a busca dos envelopes, que depois seriam entregues por ele, sem serem abertos, a um enviado do PT cujo nome não revelou. "Recebi telefonema da secretária de Marcos Valério, no celular, para saber se eu poderia lhe prestar um favor: pegar documentos que Valério queria que entregasse ao PT naquele dia. Pedi a um contínuo. Ele pegou, me entregou, deixei no escaninho na portaria do prédio e entreguei à pessoa do PT."

Estranheza
Ao falar do auxiliar, foi indagado pelo juiz, descrente: "[Ligou para Ferreira] Para fazer o mesmo serviço solicitado ao senhor? Na época, o senhor era o presidente do Previ, certo?", indagou o juiz Marcelo Granado, da 7ª Vara Criminal Federal.
"Sinceramente, o senhor não acha estranho fazer isso?", questionou o juiz. "Hoje, se Deus me pedir, não faço mais nada. Fiz uma gentileza", respondeu. O juiz ainda levantou suspeita sobre a compra de apartamento em Copacabana (zona sul do Rio) por R$ 400 mil, pouco depois do caso.
Pizzolato disse que usara um cheque, mas, após pergunta da Procuradoria, admitiu ter dado parte em dinheiro. "Paguei R$ 300 mil em cheque e R$ 100 mil em espécie proveniente da venda de moeda estrangeira adquirida no BB." Pizzolato ainda negou ter autorizado repasses de R$ 73 milhões para a DNA, de Valério, por publicidades do Banco Popular. Disse que a verba era do Visanet, sobre a qual não tinha ingerência.


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