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Ex-diretor do BB volta atrás e livra Gushiken
À CPI dos Correios Pizzolato havia dito que tinha "ordem" do então ministro para liberar R$ 23 milhões a empresa de Valério
Ex-dirigente, que recebeu R$ 326 mil no mensalão, atribui declarações na CPI a coação e ameaças de prisão que diz ter sofrido na sessão
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-diretor de Marketing do
Banco do Brasil Henrique Pizzolato renegou na Justiça seu
depoimento à CPI dos Correios, em 2005, quando atribuíra a uma ordem do então ministro da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken, a liberação
de R$ 23 milhões para uma empresa de Marcos Valério, no caso do mensalão. Gushiken já
havia negado ter dado a ordem.
Pizzolato também teve dificuldades em explicar o recebimento de R$ 326 mil de Valério
e a posterior compra de apartamento no Rio por R$ 400 mil,
uma parte paga em dinheiro.
Ele atribuiu suas declarações
na CPI a ameaças de prisão e a
coação de parlamentares que
diz ter sofrido na sessão.
As declarações contribuíram
para a saída de Gushiken da Secom, denunciado por peculato.
"Estava sob ameaça de que iam
me prender. Não tive condições
de raciocinar. Fui coagido,
ameaçado e humilhado." Na
ocasião, sobre a suposta determinação de Gushiken para fazer pagamento a Valério, Pizzolato disse: "Entendi aquilo como uma ordem, não iria me
confrontar com o ministro".
Desde o início do interrogatório, ele procurou se afastar de
Gushiken, contestando proximidade com o ex-ministro,
mesmo tendo reconhecido que
emprestou apartamento funcional da Associação Nacional
de Funcionários do BB em Brasília a ele e ao ex-deputado
Eduardo Jorge (PT-SP).
Réu por corrupção passiva,
Pizzolato disse que mandou o
auxiliar do banco Luiz Eduardo
Ferreira pegar envelopes, que
continham R$ 326 mil, em janeiro de 2004 a pedido de secretária de Valério, mas que
desconhecia o conteúdo. Ferreira afirmou, em audiência anterior, que pegou o dinheiro e
entregou ao ex-diretor, em sua
residência, no Rio.
À época presidente do Conselho Deliberativo do Previ
(fundo de previdência do Banco do Brasil), Pizzolato disse
ontem que não conhecia a secretária de Valério, mas ainda
assim se comprometeu a pegar
"documentos para entregar ao
PT". Afirmou que ordenara a
busca dos envelopes, que depois seriam entregues por ele,
sem serem abertos, a um enviado do PT cujo nome não revelou. "Recebi telefonema da secretária de Marcos Valério, no
celular, para saber se eu poderia lhe prestar um favor: pegar
documentos que Valério queria
que entregasse ao PT naquele
dia. Pedi a um contínuo. Ele pegou, me entregou, deixei no escaninho na portaria do prédio e
entreguei à pessoa do PT."
Estranheza
Ao falar do auxiliar, foi indagado pelo juiz, descrente: "[Ligou para Ferreira] Para fazer o
mesmo serviço solicitado ao senhor? Na época, o senhor era o
presidente do Previ, certo?", indagou o juiz Marcelo Granado,
da 7ª Vara Criminal Federal.
"Sinceramente, o senhor não
acha estranho fazer isso?",
questionou o juiz. "Hoje, se
Deus me pedir, não faço mais
nada. Fiz uma gentileza", respondeu. O juiz ainda levantou
suspeita sobre a compra de
apartamento em Copacabana
(zona sul do Rio) por R$ 400
mil, pouco depois do caso.
Pizzolato disse que usara um
cheque, mas, após pergunta da
Procuradoria, admitiu ter dado
parte em dinheiro. "Paguei
R$ 300 mil em cheque e R$ 100
mil em espécie proveniente da
venda de moeda estrangeira
adquirida no BB." Pizzolato
ainda negou ter autorizado repasses de R$ 73 milhões para a
DNA, de Valério, por publicidades do Banco Popular. Disse
que a verba era do Visanet, sobre a qual não tinha ingerência.
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