São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Lula vê crise como oportunidade para Dilma

Cenário atual da economia tem aproximado a presidenciável de grandes grupos econômicos, que têm potencial para doar em 2010

Além de socorro a bancos e montadoras, pacote de habitação do governo será chance da petista estreitar laços com empreiteiras


Mastrangelo Reino - 13.fev.09/Folha Imagem
A ex-prefeita Marta Suplicy recebe a ministra Dilma Rousseff para jantar em sua residência

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não brinca quando diz que a crise econômica é uma oportunidade. Politicamente, Lula aproveita a crise para estreitar laços da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) com grandes grupos econômicos. Ela é a candidata dele à Presidência em 2010.
Em conversas reservadas com dirigentes petistas e auxiliares de Lula envolvidos na estratégia para tentar eleger Dilma, a Folha ouviu que a crise, se bem administrada pelo governo, poderá levar mais apoio do establishment ao PT do que a uma candidatura da oposição.
O raciocínio no Planalto é o seguinte: a crise mundial derrubou resistências à ampliação dos gastos públicos, algo desejado por Lula e Dilma, mas mantido sob certo controle até o agravamento da situação econômica internacional em setembro, com a quebra do Lehman Brothers, um dos maiores bancos de investimento dos Estados Unidos.
Na virada do primeiro para o segundo mandato, Lula fez uma inflexão na política econômica, reduzindo o rigor fiscal e ampliando despesas públicas. No mundo todo, a atual crise tem sido enfrentada com maior presença do Estado na economia, o que é música aos ouvidos de Dilma.
Nesse contexto, criaram-se oportunidades para mais aproximação com grupos econômicos. O Banco do Brasil comprou metade do Banco Votorantim após um pedido de socorro da família Ermírio de Moraes ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. O ministro falou com o presidente, que autorizou a operação.
No PT, diz-se que será um contato fundamental para a época eleitoral, na qual o partido precisará de contribuições para fazer campanha. A venda da metade do banco ajudou o grupo Votorantim a compensar perdas com apostas no mercado financeiro. A compra do BB capitalizou o grupo num momento-chave.

Habitação
O pacote de habitação que está sendo elaborado pelo governo é outra oportunidade da crise. Dilma pilota o pacote. Conversou com grandes empreiteiras nacionais. Ouviu do grupo Odebrecht que seria possível fazer 100 mil casas num prazo curto se o governo viabilizasse recursos e um acordo com Estados e municípios.
O governo estuda bancar uma entrada de até 25% do valor do imóvel a fim de reduzir a prestação para as faixas de baixa renda. Para as empreiteiras, é um negócio da China; para o governo, um estímulo a um setor que emprega mão-de-obra intensiva.
Ou seja, o pacote de habitação deverá render dividendos políticos a Lula e sua candidata em 2010, quando serão escolhidos o presidente, os governadores de Estado, 513 deputados federais, 54 dos 81 senadores e todos os deputados estaduais do país -inclusive deputados distritais de Brasília.
Na crise, Lula já tomou medidas para beneficiar as montadoras -isenção de IPI, o Imposto sobre Propriedade Industrial, e linha de financiamento específica. Capitalizou o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em mais R$ 100 bilhões para aumentar a oferta de crédito a grandes e médias empresas. Adotou medidas de incentivo ao agronegócio. E liberou depósitos compulsórios para dar alívio de caixa aos bancos -a chamada liquidez.
Na última segunda-feira, Lula e Dilma se reuniram com pesos-pesados do empresariado, como Jorge Gerdau e Emílio Odebrecht. Foi um evento para a ministra falar do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de medidas para tentar destravar o crédito.
Na campanha da reeleição de Lula, em 2006, bancos e empreiteiras foram os maiores doadores. Os bancos repassaram R$ 10,5 milhões ao petista. As empreiteiras, R$ 9 milhões. As siderúrgicas ficaram em terceiro lugar (R$ 6,2 milhões).


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