São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Planalto aposta que Serra e Aécio não vão se empenhar para eleger Alckmin, mas o considera mais "imprevisível" do que prefeito

Lula festeja divisão tucana, mas teme novidade

KENNEDY ALENCAR
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar de avaliar que o processo de escolha do candidato tucano pode favorecê-lo, já que gerou insatisfações internas no grupo serrista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera o governador Geraldo Alckmin um candidato "mais imprevisível" a ser enfrentado na campanha.
Lula acredita que dois tucanos com aspirações presidenciais para 2010, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador de Minas, Aécio Neves, não se esforçarão pela eleição de Alckmin.
Ontem, ao ser informado da escolha, Lula disse que já esperava por essa solução. Disse que Alckmin jogou politicamente melhor do que Serra. A auxiliares o presidente tem dito que avalia que a eleição será dura. Sabe que o escândalo do "mensalão" voltará a ser reprisado no horário eleitoral gratuito. E sempre achou Alckmin um candidato mais difícil do que Serra por considerá-lo mais imprevisível e um nome que pode se apresentar como novidade.
A nota de Serra sobre a escolha de Alckmin, na qual ele reafirma que uma prévia seria danosa à candidatura tucana, foi lida no Palácio do Planalto como uma declaração de que o prefeito não assimilou bem a derrota.
"Nós já tínhamos falado anteriormente que não íamos escolher adversário. Se é o Alckmin, é o Alckmin, está escolhido. Parece que o Serra não quis encarar, então vamos encarar o Alckmin, vamos à luta", afirmou o ministro Paulo Bernardo (Planejamento).
Já o vice-presidente José Alencar disse que Lula continua "imbatível". "Acreditamos que a sua popularidade, tendo em vista as dificuldades por que ele tem passado nos últimos meses, é uma coisa que nunca aconteceu na história do Brasil. É uma prova evidente do valor dele como cidadão que possui sensibilidade social incomum, sentimento nacional arraigado e probidade absoluta, e sou testemunha disso, no trato da coisa pública. Acho que é um candidato absolutamente imbatível."

PFL
Parte da cúpula do PFL avaliou ontem que "o risco aumentou muito" com a escolha de Alckmin. Em público, porém, toda a cúpula o elogiou, como nome com mais chances de vencer.
Nos bastidores, há um temor de que Alckmin não tenha fôlego para queimar os mais de 25 pontos percentuais de diferença para Lula. Poderia, assim, perder para o petista já no primeiro turno.
Essa hipótese foi reforçada com a informação de que o deputado Enéas Carneiro (Prona-SP) está doente e não concorrerá. A eleição pode ficar resumida a Lula, Alckmin, Heloísa Helena (PSOL) e mais um ou dois candidatos.
"O Lula vai perder para o Lula", disse o senador, Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL. Para ele, Alckmin "tem as qualidades necessárias para ser presidente".
Bornhausen e os senadores Marco Maciel (PE) e José Jorge (PE) estavam entre os pefelistas que defendiam Serra, por um motivo prático e outro eleitoral: o partido herdaria a Prefeitura de São Paulo por cerca de três anos, e eles consideravam Serra mais competitivo. Do outro lado, ficaram os senadores Antonio Carlos Magalhães (BA) e José Agripino Maia (RN), que julgavam que Alckmin, por ser menos conhecido, tem menos rejeição e mais chances de crescer nas pesquisas.
Bornhausen disse que aguarda uma palavra definitiva do Supremo Tribunal Federal sobre a verticalização para depois consultar governadores, parlamentares e lideranças regionais sobre a posição do partido. Ele vai apresentar três alternativas: candidatura própria, aliança com o PSDB ou simplesmente não ter opção para a Presidência.
É considerado praticamente certo, porém, que o PFL se coligará ao PSDB e indicará o vice. O nome do grupo de ACM é Agripino. Bornhausen, que era cotado para vice se a chapa fosse encabeçada por Serra, deverá tentar apresentar uma opção do seu grupo, como José Jorge.
No caso do PMDB, a avaliação é que a escolha de Alckmin simplesmente fez evaporar a "ala tucana" do partido, que trabalhava discretamente por Serra.


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