CPI hesita em convocar Dantas para depor

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), afirmou que pretende se reunir hoje com o relator da comissão, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), e com líderes dos partidos no Senado para definir quando e como tomarão o depoimento de Daniel Dantas, controlador do banco Opportunity.
Embora a idéia de levar Dantas à CPI não agrade nem ao governo nem à oposição, a avaliação dos dirigentes da comissão é que crescerá a pressão para ouvi-lo após reportagem da revista "Veja" citar o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e do diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, como possuidores de dinheiro em paraísos fiscais em lista supostamente preparada à pedido do banqueiro -à Folha, Dantas negou ser autor do pedido.
"Vamos fazer uma avaliação, consultar o relator e conversar com os líderes para ver se vamos ouvi-lo", disse Efraim. A possível convocação de Dantas visa esclarecer a denúncia de que o PT teria procurado o grupo e pedido propina de "dezenas de milhões de dólares" entre 2002 e 2003, que não teria sido paga.
No entanto, desde que o tema foi levado à CPI pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), a oposição tem sido cautelosa até mesmo nas declarações. A avaliação é que uma eventual pressão sobre o banqueiro poderia abrir brechas para investigar denúncias de irregularidades nos processos de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Até a última sexta-feira, governistas e líderes da oposição negociavam a proposta de ouvir Dantas em uma sessão fechada. A alternativa é negociada pelo senador Heráclito Fortes (PFL-PI), amigo do banqueiro.
Outro motivo que pesa contra a ida do banqueiro à CPI é o calendário estipulado pelo relator para o fim dos trabalhos da comissão. Garibaldi pretende antecipar o relatório final para o início de junho, e eventuais informações passadas pelo banqueiro poderiam abrir um novo foco de investigação na CPI dos Bingos.
"Vamos ouvir os líderes para ver a viabilidade. Se for para ouvi-lo, só se for muito necessário porque temos a idéia de antecipar o relatório para o início de junho", disse Garibaldi. A estratégia de Garibaldi em antecipar a divulgação do parecer visa dar mais tempo para negociar sua aprovação, já que ele espera resistência do governo para votá-lo.

Investigação
A Polícia Federal decidiu abrir inquérito para investigar os novos fatos divulgados pela imprensa no final de semana. Por meio de nota, a polícia informou que o inquérito está sendo aberto "tendo em vista as notícias que evidenciam a produção de dossiês forjados para tentar incriminar falsamente autoridades públicas".
Na mesma nota, a polícia informou que já tinha conhecimento, desde novembro de 2005, de "comentários de origem não identificada dando conta que estaria em curso uma ação ardilosa para atribuir falsamente a integrantes do atual governo a titularidade de recursos financeiros ilegais mantidos fora do Brasil, sendo um dos alvos o próprio diretor-geral desta organização policial".
O diretor da Polícia Federal também esclareceu que seu nome é Paulo Fernando da Costa Lacerda, não apenas Paulo Lacerda e que "não tem e jamais teve valores ou bens no exterior".


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