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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DEPOIMENTO
Segundo Jefferson, Dirceu disse que prisão de doleiros inviabilizou repasse de R$ 16 mi ao PTB
Petebista insinua que o PT lavava dinheiro com doleiros
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em seu depoimento, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ)
deu novas informações sobre os
R$ 4 milhões que o PT teria repassado ao PTB no ano passado: José
Genoino teria prometido passar
notas das doações, mas não o fez;
e o ministro José Dirceu (Casa Civil) teria explicado que o dinheiro
não foi totalmente repassado
-teriam sido prometidos R$ 20
milhões ao PTB- porque a Polícia Federal havia prendido os doleiros que ajudariam a trazer o dinheiro para o Brasil.
O presidente nacional do PTB
disse que se reuniu com Genoino,
Delúbio Soares (tesoureiro do
PT) e Marcelo Sereno (secretário
de Comunicação do PT), no ano
passado para pedir apoio às candidaturas petebistas às eleições
municipais. Segundo ele, os petistas aprovaram uma ajuda de R$
20 milhões que seria repassada
em cinco parcelas.
Segundo ele, a reunião foi em
Brasília, na sede do PT. Ele disse
que é possível comprovar que ele
esteve lá. "Consta na portaria [do
edifício Varig, sede do PT em Brasília] a informação, porque lá a
gente tem de se identificar, colar
adesivo no peito", declarou.
Do total prometido, Jefferson
diz que foram repassados apenas
R$ 4 milhões do total prometido
pelos petistas aos candidatos do
partido. O deputado petebista
afirma que reclamou com o ministro José Dirceu sobre o atraso
na liberação do dinheiro porque
ele estava sendo cobrado pelos
candidatos petebistas.
Neste ponto do depoimento, o
deputado relatou então uma conversa que teria tido com o ministro da Casa Civil. José Dirceu, segundo Jefferson, disse que havia
uma banda da Polícia Federal "tucana" que havia prendido "62 doleiros agora na véspera da eleição", acrescentando que "a turma
que ajuda não está podendo internar dinheiro no Brasil" para justificar o não-repasse do dinheiro.
BANCO RURAL - Em julho de
2004, ainda segundo o petebista, o
publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, ligado ao PT, foi
à sede do PTB em Brasília entregar a primeira parcela em dinheiro vivo levado em duas malas.
"Em julho, R$ 4 milhões. O dinheiro foi levado ao partido pelo
senhor Marcos Valério, quando
estive com ele pela primeira vez,
carequinha, falante, fala em dinheiro como se caísse do céu", diz
Jefferson, que continua: "Primeiro, R$ 2,2 milhões, duas malas
enormes com notas de R$ 50 e R$
100 etiquetadas: "Banco Rural" e
"Banco do Brasil". Três dias depois, ou cinco, uma semana, ele
volta com R$ 1,8 milhão. E a promessa de outras quatro parcelas
iguais."
O PT nega que tenha feito qualquer acordo financeiro com o
PTB, afirmando que os acertos
em 2004 foram políticos e envolveram, no máximo, fornecimento
de material de campanha como
camisetas e panfletos.
NOTAS - "Perguntei: Genoino,
como é que a gente vai fazer para
justificar esse dinheiro? Ele disse
no final a gente dá a entrada via
partido e a saída como contribuição do PT, mas até hoje essas notas não chegaram, os recibos não
chegaram. Isso gerou uma crise
brutal no meu partido", afirmou o
petebista.
Movimentação financeira nas
eleições feitas pelos partidos sem
registro e a conseqüente informação à Justiça Eleitoral é crime e
pode resultar em punições às legendas.
Até algum tempo, o próprio Jefferson negava ter feito acerto financeiro com o PT em 2004, mas
mudou a versão na última das
duas entrevistas concedidas à Folha. Ele afirma que não revelou ter
recebido o dinheiro do PT para
não prejudicar a campanha de
Marta Suplicy, candidata à reeleição derrotada em São Paulo.
DIRCEU E A PF - No depoimento
de ontem, o deputado disse que
sofreu grande pressão no partido
e ficou quase insustentável no
posto de presidente da legenda
devido ao suposto fato de ter autorizado correligionários a fazer
dívidas contando com os outros
R$ 16 milhões que, segundo sua
história, acabaram não chegando.
Ele então decidiu cobrar o ministro José Dirceu (Casa Civil) e
explicar o que estava acontecendo.
Segundo Jefferson, Dirceu disse
que a Polícia Federal tinha uma
facção tucana que estava complicando a arrecadação dos recursos. O petebista afirmou: "Voltei
ao José Dirceu uma, duas, disse,
está esgarçando, estou perdendo
a autoridade. Ele disse: "Roberto, a
Polícia Federal é meio tucana,
meteu em cana 62 doleiros agora
na véspera da eleição. A turma
que ajuda não está podendo internar dinheiro no Brasil'".
MIRO - Jefferson negou que tivesse contado a Miro Teixeira
(PT-RJ) uma outra história de
corrupção que ele presenciara em
um ministério, supostamente os
Transportes. "Ele deve ter se enganado", afirmou. O então ministro à época, Anderson Adauto,
também disse desconhecer a história.
CORREIOS - Já outra acusação
apresentada ontem, também sem
provas, se refere à supostas irregularidades cometidas na Diretoria de Tecnologia (chamada por
Jefferson como de "Informática")
dos Correios. Nesse caso, o foco
do ataque é o secretário-geral do
PT, Sílvio Pereira, que indicou para o posto o ex-diretor, Eduardo
Medeiros.
Segundo Jefferson, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Controladoria da União
não estariam encontrando irregularidades na diretoria controlada
até pouco tempo pelo PTB, a de
Administração. A história seria
diferente se investigassem a Diretoria de Tecnologia.
Ele lança ainda suspeitas sobre
outras ações da diretoria, que
controlaria "60% das atividades
bilionárias da estatal", segundo
suas palavras.
"O Ministério Público da União,
a Polícia Federal, a Corregedoria
da União estão nos Correios há 30
dias lá na Diretoria de Administração que o meu companheiro
honrado, o ex-deputado federal
Antonio Osório, ocupou, tentando encontrar um erro e até agora
não encontraram nada", afirmou.
ZELOSOS - E continua: "Por que
o zeloso Ministério Público, a zelosa Polícia Federal, a zelosa Corregedoria da União não investigaram a Diretoria de Informática
[Tecnologia]?", questiona.
A partir daí, ele dá detalhes, afirmando que o projeto "Correio
Aéreo Noturno" teria apresentado superfaturamento de 300%,
além de lançar suspeitas sobre outras ações, como o contrato firmado com a Novadata, empresa de
computadores do empresário
Mauro Dutra, amigo do presidente Lula.
"Não compreendi ainda como é
que o cioso Ministério Público Federal, a ciosa Polícia Federal, a
ciosa Corregedoria da União ainda não investigaram o Correio
Aéreo Noturno do "seu" Silvinho
Pereira, onde as contas de superfaturamento no primeiro ano da
atual gestão chegam a 300%, enquanto tem lá a Sky Master. Quero dizer o nome aqui para o Ministério Público não esquecer",
afirmou aumentando o tom de
voz.
O ex-diretor de Tecnologia
Eduardo Medeiros foi exonerado
junto com toda a diretoria dos
Correios semanas após surgirem
as denúncias de que o PTB comandaria um esquema de corrupção nos Correios.
"Por que não pesquisaram a
Novadata ainda? Não sei por que
correm atrás de R$ 3.000", completa Jefferson.
(RANIER BRAGON, FABIO ZANINI E SILVIO NAVARRO)
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