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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PUBLICITÁRIO
Fernanda Karina Ramos Somaggio, que trabalhou na agência SMP&B, diz que publicitário tinha contatos com a cúpula do PT
Secretária de Valério cita malas de dinheiro
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A secretária Fernanda Karina
Ramos Somaggio, que trabalhou
com Marcos Valério Fernandes
de Souza entre maio de 2003 e janeiro de 2004 na SMP&B Comunicação, disse em entrevista à revista "IstoÉ Dinheiro", em circulação desde ontem, que seu ex-patrão não tinha contatos apenas
com Delúbio Soares, o tesoureiro
do PT. Ela citou relações dele também com o ministro José Dirceu
(Casa Civil) e Sílvio Pereira, secretário-geral do PT. E falou também
em "malas de dinheiro".
A entrevista da ex-secretária da
SPM&B foi realizada em duas
etapas pela revista: a primeira vez
foi em 2 de setembro de 2004, e a
outra, na última segunda-feira,
um dia depois de o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em entrevista à Folha, ter dito que o ex-chefe de Somaggio era um suposto "operador" de Delúbio Soares.
A Folha ligou ontem para Somaggio em sua casa. Ela não quis
falar. "Não, nada. Liga para o meu
advogado, o doutor Leonardo
[Macedo Poli]." E desligou.
A secretária disse ter uma agenda, na qual anotava todos os encontros e compromissos de Marcos Valério. Ela relatou que a
agência distribuía dinheiro para
pessoas que ocupavam cargos no
governo e a parlamentares. Citou
o Banco Rural como sendo a instituição onde a maior parte do dinheiro era retirada, além das
quantias "lícitas" no Banco do
Brasil. "Já vi saírem malas de dinheiro", disse. "Às vezes, mandavam tirar R$ 1 milhão, em dinheiro, no Banco Rural." [...] "E teve
uma vez que o office-boy foi roubado. E ele estava com R$ 500 mil.
Tem uns boys lá que só fazem isso, e fazem com confiança total.
Esse Marcos Valério é um sujeito
muito doido."
A ex-secretária disse que Delúbio e Marcos Valério "se falavam
ao menos uma vez por semana".
Falava também com Sílvio Pereira
e com José Dirceu. "O Dirceu e o
Marcos Valério falavam diretamente", afirmou.
A secretária disse que resolveu
falar porque Delúbio não era o
"gente boa" como parecia: "Ele
faz intermediação de negócios.
Por exemplo: a SMP&B tem a
conta do Banco do Brasil na parte
de esportes através da MultiAction, uma das agências do grupo.
E é tudo negociata. Eu sei que eles
passam dinheiro para o pessoal
do governo".
Questionada sobre como sabia,
respondeu: "Ele era meu chefe. Eu
estava sempre com ele. Todo
mundo sabe que tem mutreta no
fato de a empresa ter um bom dinheiro do Banco do Brasil".
Segundo ela, os encontros entre
Valério e os petistas ocorriam em
hotéis. "Tudo na surdina", disse.
Num deles, no Maksoud Plaza,
em São Paulo, Valério teria se encontrado com Sílvio Pereira. Em
outro, no Blue Tree, em Brasília, a
reunião era com Delúbio.
Ela acusa o ex-chefe de organizar festas para dirigentes do Banco do Brasil. Festas em que, conforme disse, "rolava dinheiro, rolava mulher".
A secretária também afirma ter
comprado passagens aéreas, com
recursos da SMP&B, para uso
pessoal da secretária do deputado
João Paulo Cunha (PT-SP), na
época em que ele presidia a Câmara dos Deputados.
Ela também relatou que um irmão de Anderson Adauto, então
ministro dos Transportes, teria
ido à sede da SMP&B pegar dinheiro. "Vi sair R$ 100 mil em dinheiro para o irmão do Anderson
Adauto, no fim de 2003, quando
ele era ministro dos Transportes."
Suas revelações atingem até personagens de governos passados.
Pimenta da Veiga, ministro das
Comunicações no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, teria recebido R$ 150 mil da
SMP&B, em duas parcelas.
A ex-secretária da SMP&B disse
que a relação de Marcos Valério
com integrantes do governo "não
começou só agora, com o PT".
Ela disse que a agência também
pagou passagens para as filhas de
Delúbio Soares e que o ex-patrão
dela e o tesoureiro do PT usavam
avião do Banco Rural.
"O Marcos usa o jato do Banco
Rural, eventualmente. O Delúbio
Soares também anda no jato do
Banco Rural. O Banco Rural tem
problemas com a CPI do Banestado. Quem estava sendo investigado era o José Augusto Dumont,
ex-presidente do banco, que morreu num acidente de automóvel.
O Delúbio estava sempre com ele
e também com o José Mentor [deputado federal PT-SP], que era
responsável pela CPI."
Segundo Somaggio, o que Roberto Jefferson falou "é verdade".
Ela confirma "com certeza" que
"o Marcos Valério ficava o tempo
todo com o Delúbio Soares. Era o
Marcos quem pegava o negócio e
levava de um lugar para o outro".
A secretária diz ter medo. "Eu
sou a prova viva, mas eu não sou
nada. Eles podem até tirar meu
emprego", afirmou ela, acrescentando.que Marcos Valério "entrou" no seu e-mail e ficou sabendo da entrevista que dera à revista
no ano passado.
Sobre ameaças, respondeu:
"Começaram a ligar na minha casa direto. Falavam até com a minha filha. Diziam que era para a
mãe dela tomar muito cuidado.
Colocaram gente atrás de mim,
grampearam meu telefone".
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