São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PUBLICITÁRIO

Fernanda Karina Ramos Somaggio, que trabalhou na agência SMP&B, diz que publicitário tinha contatos com a cúpula do PT

Secretária de Valério cita malas de dinheiro

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio, que trabalhou com Marcos Valério Fernandes de Souza entre maio de 2003 e janeiro de 2004 na SMP&B Comunicação, disse em entrevista à revista "IstoÉ Dinheiro", em circulação desde ontem, que seu ex-patrão não tinha contatos apenas com Delúbio Soares, o tesoureiro do PT. Ela citou relações dele também com o ministro José Dirceu (Casa Civil) e Sílvio Pereira, secretário-geral do PT. E falou também em "malas de dinheiro".
A entrevista da ex-secretária da SPM&B foi realizada em duas etapas pela revista: a primeira vez foi em 2 de setembro de 2004, e a outra, na última segunda-feira, um dia depois de o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em entrevista à Folha, ter dito que o ex-chefe de Somaggio era um suposto "operador" de Delúbio Soares.
A Folha ligou ontem para Somaggio em sua casa. Ela não quis falar. "Não, nada. Liga para o meu advogado, o doutor Leonardo [Macedo Poli]." E desligou.
A secretária disse ter uma agenda, na qual anotava todos os encontros e compromissos de Marcos Valério. Ela relatou que a agência distribuía dinheiro para pessoas que ocupavam cargos no governo e a parlamentares. Citou o Banco Rural como sendo a instituição onde a maior parte do dinheiro era retirada, além das quantias "lícitas" no Banco do Brasil. "Já vi saírem malas de dinheiro", disse. "Às vezes, mandavam tirar R$ 1 milhão, em dinheiro, no Banco Rural." [...] "E teve uma vez que o office-boy foi roubado. E ele estava com R$ 500 mil. Tem uns boys lá que só fazem isso, e fazem com confiança total. Esse Marcos Valério é um sujeito muito doido."
A ex-secretária disse que Delúbio e Marcos Valério "se falavam ao menos uma vez por semana". Falava também com Sílvio Pereira e com José Dirceu. "O Dirceu e o Marcos Valério falavam diretamente", afirmou.
A secretária disse que resolveu falar porque Delúbio não era o "gente boa" como parecia: "Ele faz intermediação de negócios. Por exemplo: a SMP&B tem a conta do Banco do Brasil na parte de esportes através da MultiAction, uma das agências do grupo. E é tudo negociata. Eu sei que eles passam dinheiro para o pessoal do governo".
Questionada sobre como sabia, respondeu: "Ele era meu chefe. Eu estava sempre com ele. Todo mundo sabe que tem mutreta no fato de a empresa ter um bom dinheiro do Banco do Brasil".
Segundo ela, os encontros entre Valério e os petistas ocorriam em hotéis. "Tudo na surdina", disse. Num deles, no Maksoud Plaza, em São Paulo, Valério teria se encontrado com Sílvio Pereira. Em outro, no Blue Tree, em Brasília, a reunião era com Delúbio.
Ela acusa o ex-chefe de organizar festas para dirigentes do Banco do Brasil. Festas em que, conforme disse, "rolava dinheiro, rolava mulher".
A secretária também afirma ter comprado passagens aéreas, com recursos da SMP&B, para uso pessoal da secretária do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), na época em que ele presidia a Câmara dos Deputados.
Ela também relatou que um irmão de Anderson Adauto, então ministro dos Transportes, teria ido à sede da SMP&B pegar dinheiro. "Vi sair R$ 100 mil em dinheiro para o irmão do Anderson Adauto, no fim de 2003, quando ele era ministro dos Transportes."
Suas revelações atingem até personagens de governos passados. Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, teria recebido R$ 150 mil da SMP&B, em duas parcelas.
A ex-secretária da SMP&B disse que a relação de Marcos Valério com integrantes do governo "não começou só agora, com o PT".
Ela disse que a agência também pagou passagens para as filhas de Delúbio Soares e que o ex-patrão dela e o tesoureiro do PT usavam avião do Banco Rural.
"O Marcos usa o jato do Banco Rural, eventualmente. O Delúbio Soares também anda no jato do Banco Rural. O Banco Rural tem problemas com a CPI do Banestado. Quem estava sendo investigado era o José Augusto Dumont, ex-presidente do banco, que morreu num acidente de automóvel. O Delúbio estava sempre com ele e também com o José Mentor [deputado federal PT-SP], que era responsável pela CPI."
Segundo Somaggio, o que Roberto Jefferson falou "é verdade". Ela confirma "com certeza" que "o Marcos Valério ficava o tempo todo com o Delúbio Soares. Era o Marcos quem pegava o negócio e levava de um lugar para o outro".
A secretária diz ter medo. "Eu sou a prova viva, mas eu não sou nada. Eles podem até tirar meu emprego", afirmou ela, acrescentando.que Marcos Valério "entrou" no seu e-mail e ficou sabendo da entrevista que dera à revista no ano passado.
Sobre ameaças, respondeu: "Começaram a ligar na minha casa direto. Falavam até com a minha filha. Diziam que era para a mãe dela tomar muito cuidado. Colocaram gente atrás de mim, grampearam meu telefone".


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