São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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Militar reconhece aulas, mas diz que contexto era outro

DO ENVIADO A MANAUS

O comandante do Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva), tenente-coronel Antonio Manoel Barros, reconheceu que a escola foi usada para ensino de técnicas de tortura durante o regime militar.
"Não era um procedimento operacional, mas em determinado contexto se sabia que a técnica poderia ser usada. A Força (o Exército) não aceitava isso como algo trivial", disse.
O treinamento incluía simulação de campos de concentração para prisioneiros. Para o coronel, tais procedimentos já não são admitidos no Cigs. "Estamos falando das décadas de 60, 70, era outro contexto."
Barros é pioneiro na inclusão de elementos da psicopedagogia no treinamento dos combatentes de selva. Ele contratou três psicólogas, que fazem o acompanhamento de todos.
O Programa de Aplicação de Pressão Psicológica, ao qual a Folha teve acesso, prevê práticas polêmicas como a privação do sono, de água e alimentos.
Embora sejam técnicas reconhecidamente usadas em sessões de tortura, o manual determina aplicação "controlada". As instruções são recomendadas pelo Departamento de Ensino e Pesquisa do Exército. Os instrutores do Cigs também são orientados no programa a evitar "contato físico" e "humilhações", inclusive xingamentos e agressões verbais.

Araguaia
"Hoje o treinamento é mais leve que naquela época", afirmou o mateiro João Barroso, que trabalha no Cigs desde 1978. Ele aprendeu com o pai a se locomover na selva e tem passado seus ensinamentos a várias gerações de militares.
Técnicas de orientação na floresta ou de aproveitamento dos recursos da fauna e flora, aprendidas com ribeirinhos ou indígenas, foram reunidas no Compêndio do Guerreiro de Selva. O livro, com todos os segredos do combate e da sobrevivência na Amazônia, é um guardado a sete chaves. (CDS)


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