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JANIO DE FREITAS
A norma da transgressão
O mais acintoso dos negócios inescrupulosos, a compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar só depende agora dos tribunais
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O MAIS acintoso dos negócios
inescrupulosos entre governo e interesses particulares
só depende agora dos altos tribunais, onde as maiores probabilidades indicam que desembocarão as
artimanhas, regidas pela Presidência da República, para violação das
normas legais e oficialização da
compra da Brasil Telecom pela Oi/
Telemar.
O acordo formalizado na quinta-feira entre os quatro conselheiros da
Agência Nacional de Telecomunicações -Ronaldo Sardenberg, Pedro
Jaime Ziller, Pedro Aguiar Jr. e Antonio Bedran- chancelaram-na, para todos os efeitos, como face oficial
de maquinação jurídica com origem
privada. A (i)legalidade do seu papel
na trama sujeita-se à decisão judicial
sobre seu poder, e direito, de subverter as normas nacionais da telefonia
para dar legalidade a um negócio
privado feito antes. E, além de antes,
em transgressão e desafio ostensivos (públicos mesmo) à legislação
vigente.
No mínimo, para ficar no mínimo,
todo leigo pode indagar o que foi ou
será feito do preceito básico de que
novas normas jurídicas não têm
efeito retroativo, como é dado agora
em benefício de um negócio fechado
e comunicado de público, com pagamento consolidável posteriormente, comum nas compras da ordem
dos bilhões. No caso, de R$ 5,5 bilhões.
Outro aspecto para a esperada
apreciação do Judiciário são as negociações consolidadas entre o
BNDES e a Oi/Telemar, em plena
vigência da proibição legal do negócio, para que o banco cumpra aí duas
funções: proporcione recursos aos
compradores (Oi/Telemar= grupos
Andrade Gutierrez, sócio financiador de um filho de Lula, e Carlos Jereissati); e, como reforço complementar, a eles associe o subsidiário
Banespar.
Os quatro conselheiros mostraram-se tão bem entendidos para a
alteração unânime imposta ao Plano Geral de Outorgas, que sua entrevista televisada exibiu tropeções cômicos na justificação da manobra.
Para o relator Pedro Jaime Ziller,
por exemplo, ao possibilitar o negócio das telefônicas, a Anatel quis seguir "a tendência mundial das fusões". Para Ronaldo Sardenberg, a
Anatel, da qual é o presidente, agiu
"para promover a concorrência".
Com a compra da Brasil Telecom,
nenhum disfarce poderá contrariar
a evidência de que a Oi/Telemar deterá o monopólio da telefonia fixa
em todo o Brasil, excetuada uma
parte de São Paulo. Segundo Sardenberg, portanto, fundem-se duas
empresas para estimular a concorrência da nova com ela mesma.
Em tempo: o renovável mandato
de Ronaldo Sardenberg como presidente da Anatel termina no fim deste mês. O de Pedro Jaime Ziller termina em novembro. Ambos já fizeram por merecer a renovação, mas,
com as capacidades que demonstraram, por certo não lhes faltam perspectivas até melhores.
Dívidas
Vinte e cinco anos é o tempo de um
dos critérios para medir uma geração.
Esta coluna está fazendo 25 anos, ou o
tempo de uma geração, ou, diriam os
mais antigos, Bodas de Prata com o
jornal. O aniversário, a rigor, foi no dia
7, mas a idade justifica a dose de senilidade que esqueceu a data.
Quando Carlos Castello Branco me
disse, em fins dos anos 80, que sua incomparável coluna política no "Jornal
do Brasil" completava 25 anos, fiquei
abismado com os tantos significados e
implicações disso, pessoais, profissionais, emocionais, tantos. Castellinho
já estava obrigado pelo cardiologista a
escrever pela manhã, não mais ao fim
da tarde, para poupar-se das tensões
que antecediam o confronto com o papel branco, hoje substituído pela tela
não menos ameaçadora.
O "Jornal do Brasil" ficou devendo
muito à Coluna do Castello. Esta coluna deve tudo à Folha, muito em especial a Octavio Frias de Oliveira e a Otavio Frias Filho, e aos demais Frias, aos
que foram e aos que são meus colegas,
aos que proporcionaram informação.
E, fico abismado outra vez, à tolerância dos leitores que se revezaram aqui
nestes 25 anos.
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