São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Vereadores investigarão empresas e admitem acareação entre depoentes para esclarecer contradições

CPI termina 1ª fase com muitas dúvidas

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Com mais interrogações do que certezas, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) criada em Santo André para investigar um suposto esquema de arrecadação de propina para financiar campanhas do PT termina amanhã sua primeira fase de depoimentos.
Para tentar preencher essas lacunas após 19 depoimentos, sendo os dois últimos previstos para hoje e amanhã, os vereadores da comissão já admitem promover acareações entre os depoentes, solicitar à Justiça as fitas gravadas pela Polícia Federal com conversas entre petistas e quebrar o sigilos bancário, fiscal e telefônico dos principais acusados.
"A partir de quarta-feira, nós [os vereadores] vamos impor uma trégua de pelo menos uma semana para nos debruçarmos em documentos, constatar contradições entre os depoentes e ainda traçar os próximos passos da comissão", disse o relator da CPI, Donizeti Pereira (PV).
Segundo os vereadores, uma primeira acareação pode ser entre João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado Celso Daniel e um dos principais acusadores do suposto esquema, Gilberto Carvalho, ex-secretário de Governo da cidade, e Miriam Belchior, ex-mulher de Celso Daniel.
João Francisco afirmou que os dois são conhecedores do suposto esquema de extorsão. Já Gilberto e Miriam negam que conheçam esse assunto.
Os vereadores vão também iniciar análise das contabilidades nas empresas de transporte coletivo da cidade. Devem começar os trabalhos na Expresso Guarará, da família Gabrilli -também testemunha de acusação-, e na Expresso Nova Santo André, empresa de transporte formada por um pool de empresários. Um desses empresários é Ronan Maria Pinto, denunciado pelo Ministério Público e acusado de ser o arrecadador das supostas propinas.
De acordo com o Ministério Público, além de Ronan, o empresário Sérgio Gomes da Silva e o secretário afastado de Serviços Municipais de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Souza, teriam cobrado propina de empresários desde 1997. A arrecadação, segundo o MP, teria sido interrompida após a morte de Celso Daniel, em janeiro deste ano.
Também será alvo dos vereadores as contradições nos depoimentos à CPI da empresária Rosangela Gabrilli e do gerente da Aesa (associação de empresas de transportes da cidade), Luiz Marcondes de Freitas Júnior.
Rosangela afirmou que sua empresa, a Expresso Guarará, pagava R$ 40 mil por mês de propina à Prefeitura de Santo André. Ela disse que, para criar fundos para a propina, diminuía em relatórios o número diário de passageiros que utilizava os ônibus da empresa. Já Freitas Júnior afirmou que essa falsificação é impossível, por tratar-se de um "sistema eletrônico".
De acordo com o relator da CPI, a Prefeitura de Santo André também tem "muito a colaborar com a comissão" pelo fato de ter contratado uma auditoria externa para analisar a situação da Expresso Guarará -que teria cometido uma série de irregularidades durante um contrato de concessão municipal.
Outra acareação que pode ser feita pela CPI é entre o empresário Sebastião Passarelli, dono da Expresso Guarará, e Ronan Maria Pinto. Passarelli disse ter entregue R$ 40 mil em dinheiro a Ronan. Ronan, que depõe hoje na comissão, negou em defesa prévia a acusação.


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