São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2005

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ARTICULAÇÃO POLÍTICA

Crise promove união de oposições

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Há uma espécie de consenso não assumido na oposição, à direita e à esquerda, de que já começam a surgir motivações jurídicas para um pedido de impeachment, mas não há condições políticas e populares para tal. O assunto continua sendo tratado com cautela pelos oposicionistas que se reúnem hoje, às 16h, no Senado.
"Está evidente que as denúncias chegaram ao núcleo do poder. Toda vez que o presidente [Lula] fala, só pioram as coisas. Ele é partícipe de tudo isso. Por mais que peça mil desculpas, não adianta", disse ontem o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE).
Ele, porém, critica o "assanhamentozinho do PFL" ao falar de impeachment: "Todo o cuidado é pouco, porque não se trata de uma questão jurídica, mas política, e a sociedade não tem uma clara definição a favor".
O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), tem discurso parecido: "Não bastam indícios jurídicos, o mais importante é o apoio da opinião pública".
As reuniões de oposição, antes limitadas a PSDB e PFL, estão se ampliando. Hoje, estarão representados PPS, PDT, PV, setores do PMDB e até dissidentes do PT.
Pelo PMDB, foram convidados o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), oposicionista, e o senador Pedro Simon (RS), independente. Pelo PT, o senador Cristovam Buarque (DF), que está deixando o partido para se filiar ao PPS.
O PFL deve levar à reunião o resultado de consultas feitas a advogados sobre vários cenários, inclusive a possibilidade de impedimento de Lula e José Alencar, vice-presidente, já que as denúncias recaem sobre as eleições de 2002 e eles formavam a mesma chapa. "A situação está ficando surrealista", disse ontem o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio.
A intenção das oposições é discutir a crise, as condições de governabilidade de Lula e a apresentação de um projeto consensual para as campanhas eleitorais, acabando com os "showmícios", simplificando os programas de televisão e criando mecanismos rigorosos de prestação de contas.

Salário mínimo
Apesar das versões sobre um "acordão" para que as investigações das CPIs dessem em "pizza", Roberto Freire diz que o que há é justamente o oposto: a falta de articulação política no Congresso, porque não há líderes nem interlocutores do governo.
O caso mais grave é na Câmara, onde o governo pode sofrer nova derrota nesta semana, na votação do salário mínimo de R$ 384. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) e os ex-líderes Professor Luizinho (SP) e Paulo Rocha (PA), todos do PT, estão envolvidos diretamente nas denúncias de saques do "mensalão".
Não há com quem conversar, dizem Freire, Maia e Virgílio . O principal canal com o Planalto é o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que vem conversando, várias vezes ao dia, com Virgílio e com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).


Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília

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