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ARTICULAÇÃO POLÍTICA
Crise promove união de oposições
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Há uma espécie de consenso
não assumido na oposição, à direita e à esquerda, de que já começam a surgir motivações jurídicas
para um pedido de impeachment,
mas não há condições políticas e
populares para tal. O assunto continua sendo tratado com cautela
pelos oposicionistas que se reúnem hoje, às 16h, no Senado.
"Está evidente que as denúncias
chegaram ao núcleo do poder.
Toda vez que o presidente [Lula]
fala, só pioram as coisas. Ele é partícipe de tudo isso. Por mais que
peça mil desculpas, não adianta",
disse ontem o presidente do PPS,
deputado Roberto Freire (PE).
Ele, porém, critica o "assanhamentozinho do PFL" ao falar de
impeachment: "Todo o cuidado é
pouco, porque não se trata de
uma questão jurídica, mas política, e a sociedade não tem uma clara definição a favor".
O líder do PFL no Senado, José
Agripino Maia (RN), tem discurso parecido: "Não bastam indícios jurídicos, o mais importante
é o apoio da opinião pública".
As reuniões de oposição, antes
limitadas a PSDB e PFL, estão se
ampliando. Hoje, estarão representados PPS, PDT, PV, setores
do PMDB e até dissidentes do PT.
Pelo PMDB, foram convidados
o presidente nacional do partido,
deputado Michel Temer (SP),
oposicionista, e o senador Pedro
Simon (RS), independente. Pelo
PT, o senador Cristovam Buarque
(DF), que está deixando o partido
para se filiar ao PPS.
O PFL deve levar à reunião o resultado de consultas feitas a advogados sobre vários cenários, inclusive a possibilidade de impedimento de Lula e José Alencar, vice-presidente, já que as denúncias
recaem sobre as eleições de 2002 e
eles formavam a mesma chapa.
"A situação está ficando surrealista", disse ontem o líder tucano no
Senado, Arthur Virgílio.
A intenção das oposições é discutir a crise, as condições de governabilidade de Lula e a apresentação de um projeto consensual
para as campanhas eleitorais, acabando com os "showmícios",
simplificando os programas de televisão e criando mecanismos rigorosos de prestação de contas.
Salário mínimo
Apesar das versões sobre um
"acordão" para que as investigações das CPIs dessem em "pizza",
Roberto Freire diz que o que há é
justamente o oposto: a falta de articulação política no Congresso,
porque não há líderes nem interlocutores do governo.
O caso mais grave é na Câmara,
onde o governo pode sofrer nova
derrota nesta semana, na votação
do salário mínimo de R$ 384. O
ex-presidente da Câmara João
Paulo Cunha (SP) e os ex-líderes
Professor Luizinho (SP) e Paulo
Rocha (PA), todos do PT, estão
envolvidos diretamente nas denúncias de saques do "mensalão".
Não há com quem conversar,
dizem Freire, Maia e Virgílio . O
principal canal com o Planalto é o
líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que vem
conversando, várias vezes ao dia,
com Virgílio e com o senador
Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília
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