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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ GUERRA NA CPI
Testemunha assume que apresentou a petistas documento com nomes financiados por Valério na campanha de Azeredo em 98
Lobista diz que deu lista de tucanos à CPI
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O lobista mineiro Nilton Antônio Monteiro, 57, assumiu, em
entrevista à Folha, a responsabilidade pela apresentação da lista
com nomes de políticos de Minas
Gerais que receberam dinheiro do
publicitário Marcos Valério de
Souza durante a campanha eleitoral de 1998 -que acirrou ainda
mais os ânimos entre o PSDB e o
PT ao longo da semana- e disse
que Valério conversou com ele
sobre como ""esquentar" R$ 40
milhões que estariam no exterior.
Monteiro diz que entregou a suposta lista de financiamento de
campanha tucana ao deputado
estadual petista Alessandro Molon (RJ), em 25 de julho. Molon
repassou o material ao presidente
regional do partido, Gilberto Palmares, que, no mesmo dia, o enviou para a CPI dos Correios.
Molon telefonou ao procurador
da República Márcio Barra Lima e
perguntou se ele poderia tomar o
depoimento de Monteiro. O depoimento durou três dias.
O Ministério Público Federal do
Rio informou que cópias do depoimento e dos papéis com a suposta contabilidade paralela da
campanha de Eduardo Azeredo a
governador de Minas foram entregues ao procurador-geral da
República, Antônio Fernando de
Souza, à Procuradoria de Justiça e
ao TRE de Minas Gerais.
Monteiro se apresenta como
""intermediário de negócios" e diz
que sua especialidade é ligar compradores e vendedores de créditos
tributários e negociar recebimento de créditos de empresas privadas junto a órgãos públicos. Por
isso, é tido como lobista.
Ele ficou conhecido em 2001
quando apontou o esquema de
corrupção para transferência de
créditos de ICMS no Espírito Santo, no governo de José Ignácio
Ferreira, ex-PSDB. Monteiro entregou gravações de telefonemas
que envolveram autoridades com
a cobrança de comissões.
Ele disse que o ex-tesoureiro da
campanha de Azeredo de 98,
Cláudio Mourão, entregou a Valério cópias da movimentação financeira da campanha.
Por meio de seu advogado, Valério negou que tenha conta no
exterior e disse que colocou à disposição da CPI do Mensalão uma
autorização para investigar eventuais contas fora do país.
Folha - Onde o senhor nasceu e
qual a sua profissão?
Monteiro - Nasci em Lajinha do
Mutum, leste de Minas, tenho diploma de técnico em análises químicas, mas minha especialidade é
intermediar negócios, principalmente entre empresas privadas e
setor público. Negociação de crédito tributário é minha principal
atividade. Também sou procurado por empresas para resolver
problemas com o Estado.
Folha - Como a lista da campanha
de Eduardo Azeredo em 1998 veio
parar nas suas mãos?
Monteiro - Em 1994, meu pai,
que era gerente dos Correios, emprestou R$ 80 mil ao Delfim Ribeiro [ex-deputado estadual de
Minas], que confirmou que o dinheiro foi usado na campanha de
Azeredo a governador. A dívida
foi transferida para o PSDB, por
acordo político. Cobrei a dívida
várias vezes do João Heraldo Lima, que foi secretário de Fazenda
de Azeredo [hoje diretor do Banco Rural] e também de Azeredo.
Nunca arrecadei dinheiro para
partidos, mas ajudei na campanha de Azeredo de 98, levando
material para o interior de Minas.
Folha - Quando a lista de tucanos
financiados por Marcos Valério
chegou às suas mãos?
Monteiro - No final de 1998. Cobrava do João Heraldo pagamento dos R$ 80 mil. Ele foi ver se o
débito aparecia na contabilidade
da campanha. Não aparecia. Vi
que eles não tinham interesse em
me pagar. O Heraldo pediu a um
funcionário para tirar cópia dos
papéis. Consegui uma cópia e
guardei por quase sete anos.
Folha - O senhor passou, então, a
pressionar o Azeredo?
Monteiro - Voltei a procurar o
Azeredo, em 2003. Ele disse que
não podia fazer nada por mim.
Encontrei-o de novo em 2004. Ele
tinha ficado sabendo que eu tinha
cópia dos papéis. Tivemos uma
discussão. Ele estava preocupado,
pediu para eu entregar os documentos, ameaçou me interpelar
judicialmente, que era apropriação indébita. Eu falei: interpela!
Ele teve coragem? (...) Pelos papéis, foram gastos R$ 53 milhões
na campanha. Parte desse dinheiro saiu dos cofres públicos.
Folha - O sr. se aproximou do ex-tesoureiro da campanha de Azeredo em 98, Cláudio Mourão. Ele também dizia que havia emprestado
dinheiro e que não havia recebido.
Ele entrou com pedido de indenização de R$ 3 milhões contra Azeredo
e Clésio Andrade. O sr. e Mourão fizeram acordo?
Monteiro - Foi uma parceria. Como o PSDB não recebia mais o
Mourão, ele me deu procuração
para tentar receber créditos. Eu
teria uma participação, se conseguisse. (...) Mourão tinha mais papéis sobre a campanha do que eu.
Folha - O Azeredo chegou a fazer
alguma proposta?
Monteiro - Ele queria que eu fizesse um trabalho na SMPB ou no
escritório de Tolentino, sócio do
Valério. (...) Me deu um cartão do
senador Arthur Virgílio, disse
que, se eu aceitasse, deveria ir a
Brasília receber instruções.
Folha - O senhor se encontrou
com o Marcos Valério?
Monteiro - O Mourão me levou a
uma reunião com ele, no escritório do Rogério Tolentino, em julho. Eles não tinham os documentos das contas de 98. Quem entregou a eles foi o Mourão.
Folha - Qual o motivo da reunião?
Monteiro - Valério estava preocupado porque precisava levantar
de R$ 40 milhões a R$ 60 milhões
em notas. Participo de um negócio em um espólio de terrenos na
Barra da Tijuca e meu cliente já
ganhou precatórios de R$ 500 milhões. O interesse do Valério era
"esquentar" dinheiro que está fora. Meu cliente não topou.
Folha - O sr. recebeu dinheiro do
PT para entregar a lista de doação
para a campanha do Azeredo?
Monteiro - Em nenhum momento negociei os documentos
em troca de dinheiro.
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