São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2006 |
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Gustavo Ioschpe Lula, devolve a minha esperança!
"MUDANÇA." Foi
a primeira
palavra dita
por nosso presidente em
seu discurso de posse.
Quase quatro anos depois,
não se pode dizer que o objetivo não tenha sido alcançado. O Brasil mudou.
Não no que o presidente
e seus eleitores de 2002
tinham em mente: a substituição de um modelo
econômico "que, em vez
de gerar crescimento, produziu estagnação, desemprego e fome". O modelo
ortodoxo foi agudizado. O
crescimento continuou
pífio, o desemprego, alto;
a fome zero ficou como
relíquia de uma época de
intenções tão nobres
quanto inexequíveis. A
desigualdade caiu e a miséria diminuiu, é verdade.
Mais pelo empobrecimento dos ricos do que pelo
enriquecimento dos pobres. A pobreza continuará se reproduzindo.
Na educação, chave para
qualquer possibilidade de
desenvolvimento sustentado, os retrocessos foram
muitos. Fim do Provão e o
engodo do Prouni, promessas de mais e mais dinheiro quando se sabe que
o problema não é financeiro, mas de qualidade.
O Brasil ficou mais violento. Acomodamo-nos a
uma situação de guerrilha
urbana. Viramos reféns.
Mas tudo isso pouco importa. A marca desse mandato foi o aniquilamento
das esperanças que tínhamos em relação ao país.
Sempre acreditamos que,
removidos este e aquele
obstáculo, alcançaríamos
os países desenvolvidos.
Duvido que muitos ainda
pensem assim. Esse presidente chegou ao poder
amparado em dois pilares:
a criação de um novo modelo econômico e a ética
na gestão pública. A primeira já havia sido abandonada na Carta ao Povo
Brasileiro. A segunda foi
enterrada por uma volúpia jamais vista no assalto
aos cofres públicos. A espinha dorsal da idéia republicana foi rompida em ao
menos duas ocasiões:
quando recursos públicos
foram desviados para
comprar voto de parlamentares e quando o Estado usou de suas instituições para violar o sigilo
bancário de um zé-ninguém. A desfaçatez e a canalhice não conheceram
limites. E nós, sociedade,
não demos um pio. Porque
a nossa moralidade também já foi carcomida pelos
pequenos delitos que vemos e cometemos todo
dia. Sobraram poucas freiras nesse bordel.
Para onde quer que
olhemos, só vemos mensaleiros, sanguessugas e
patifes. Esse é o crime desse governo: roubou-nos a
esperança. E tudo indica
que daqui a quatro anos
olharemos para esse repugnante ano de 2006 e
pensaremos: éramos felizes e não sabíamos!
GUSTAVO IOSCHPE é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale (EUA) Texto Anterior: Duda Mendonça é acusado por corrupção com governo do Rio Próximo Texto: Eleições 2006/Estados: Contas não foram maquiadas, diz Aécio Índice |
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