São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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Zeca do PT e o "outro lado"

FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

No domingo passado, o ombudsman da Folha fez críticas a uma reportagem minha que descreve um relatório do Ministério Público do Mato Grosso do Sul apontando o suposto envolvimento do governador Zeca do PT e membros de seu núcleo de poder com quadrilha de policiais.
Publicada há duas semanas, a reportagem mereceu, antes da coluna, apenas comentários rápidos na crítica diária do ombudsman, sem alusão à crítica sobre procedimentos que fez sua coluna dominical, quando usou a reportagem para endossar a tese de que há um "ciclo pró-Serra" no jornal.
Sem entrar no mérito da tese, cabe-me aqui defender o procedimento jornalístico utilizado na confecção do texto.
Diz o ombudsman que o "outro lado" da reportagem foi "pro forma, ligeiro e adjetivado" e que o governador deveria ter recebido mais tempo para responder.
Zeca do PT teve tempo de sobra para responder. No início da tarde da quinta-feira anterior ao domingo em que a matéria foi publicada, comecei a ligar para as pessoas citadas no relatório. O primeiro foi o governador, por meio do superintendente de Comunicação, Bosco Martins, a quem expliquei o teor do relatório e solicitei entrevista. O dia passou, e não houve resposta.
Na sexta, após diversos contatos telefônicos, Bosco Martins resolveu pedir as perguntas por escrito com o compromisso explícito de repassá-las ao governador.
Eis a resposta de Martins, gravada, após o recebimento da pergunta: "O governador não vai pôr peso na sua matéria, quando na verdade isso aqui é uma ilação. Só tem bobagem nisso aqui (...). Isso aqui é uma coisa muito doida para a gente entrar de gaiato e referendar. A Folha, no código dela, diz: você tem de ouvir os dois lados. Cadê o outro lado? E o governador, botando peso na tua matéria, está respondendo a quatro promotores que estão fazendo terrorismo político para tentar derrubar o governador".
Já que Bosco Martins dizia estar falando em nome do governador, há duas conclusões. Primeiro, Zeca do PT não quis falar após ter as perguntas em mãos. Segundo, sua estratégia foi tentar "esvaziar" a reportagem e, depois, posar de vítima de "terrorismo político" -tomando medidas judiciais contra a Folha e os promotores.
Discordo ainda da afirmação de que a carta de Zeca do PT, publicada dois dias depois da reportagem, tenha sido "extensa e detalhada". Extensa foi, mas ele escolheu o que quis responder em vez de aceitar ser questionado, esfriando e moldando o "outro lado". Vários pontos do relatório não foram nem sequer abordados na carta.
Para finalizar, vale citar contraponto de outra autoridade citada no relatório, o ex-secretário de Segurança Pública Franklin Masruha. Avisado por assessor quando estava em sua fazenda, ele se deslocou até o topo de um morro para telefonar ao repórter. Sua versão foi publicada integralmente.


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