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CANDIDATOS NA FOLHA/SERRA
Tucano diz que, se eleito, fará "estudo com viés para o cancelamento" do contrato de R$ 10 bilhões, que ainda precisa ser homologado, e deixou a impressão de que pode buscar apoio do PP no 2º turno
Serra admite rever licitação do lixo e evita críticas a Maluf
Jorge Araújo/Folha Imagem
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O candidato José Serra, durante sabatina promovida pela Folha |
JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA
José Serra (PSDB) disse ontem que vê como "plausível" a hipótese de
que tenha ocorrido corrupção na licitação para coleta de lixo em São
Paulo, ainda pendente de homologação pela prefeitura. Serra disse que,
eleito, fará "um estudo com viés para o cancelamento".
Referindo-se ainda à licitação, o candidato disse que não acha "correto" que a prefeita Marta Suplicy (PT) tenha licitado "um contrato de
R$ 10 bilhões, por 20 anos, em final de mandato". Serra foi além: "Na
varrição de rua, o que tem de corrupção comprovada não está escrito".
As declarações de Serra foram feitas durante sabatina promovida
pela Folha. O candidato tucano foi o terceiro a ser ouvido.
Referindo-se ainda à licitação
do lixo, o candidato do PSDB disse que não acha "correto" que a
prefeita Marta Suplicy tenha licitado "um contrato de R$ 10 bilhões por 20 anos em final de
mandato". Serra foi além: "Na
varrição de rua, o que tem de corrupção comprovada não está escrito".
As declarações de José Serra foram feitas durante sabatina promovida pela Folha. O candidato
tucano foi o terceiro a ser ouvido.
A primeira foi Luiza Erundina
(PSB), na sexta-feira passada. E o
segundo, Paulo Maluf (PP), ontem. Amanhã, será a vez da prefeita Marta Suplicy (PT).
Antes de submeter-se à sabatina, Serra fez uma exposição de
dez minutos. Disse que "essa eleição não será decidida à base de
promessas, mas de valores". Ele
acha que o eleitor está atento à
"biografia" dos candidatos, às
suas "idéias" e às "companhias"
que ostenta.
"Nosso conceito do que seja governo começa pela concepção republicana", afirmou Serra: "A
função do governante é atender
ao público, não aos interesses pessoais ou partidários".
Perguntou-se ao candidato se
não teria descuidado do quesito
"companhia" ao escolher como
candidato a vice o pefelista Gilberto Kassab, cuja evolução patrimonial (316%) está sob investigação do Ministério Público. E Serra:
"Não se ganha eleição nem se
governa nada no Brasil se não tiver maioria. A aliança com o PFL
se impunha, é boa. O problema
não é a aliança, mas o que você faz
com ela. Eu não farei loteamento
político."
Serra prosseguiu: "Ele (Kassab)
foi secretário do Celso Pitta. Mas
saiu do secretariado e diz que se
arrependeu". Quanto às dúvidas
patrimoniais que rondam a biografia do companheiro de chapa,
Serra disse: "Ele já apresentou os
elementos sobre isso. O problema
não é aumentar o patrimônio,
mas não ter explicação sobre o
aumento. Ele tem explicação.
Considero o assunto superado".
O candidato do PSDB chegou
ao Teatro Folha (Shopping Pátio
Higienópolis), local da sabatina,
com 13 minutos de atraso. Respondeu a perguntas do psicanalista Contardo Calligaris (colunista da Ilustrada) e dos jornalistas
Clóvis Rossi e Gilberto Dimenstein (colunistas e membros do
Conselho Editorial da Folha), Renata Lo Prete (editora do Painel)
e Nilson Camargo (editor responsável do Jornal "Agora"). Foi inquirido também por pessoas da
platéia.
PAULO MALUF
Embora venha sendo criticado
com crescente acidez pelo ex-prefeito Paulo Maluf, Serra não quis
refutar a hipótese de buscar um
entendimento com o malufismo
caso venha a participar de eventual segundo turno. De novo, deixou no ar a impressão de que, nos
seus planos políticos, as alianças
eleitorais podem se sobrepor à seleção das "companhias".
O candidato tucano teve três
oportunidades para recusar uma
aproximação futura com Maluf.
"Cada coisa a seu tempo", disse.
"Não vou tratar disso agora", insistiu. Por último, esboçou impaciência: "De novo esse assunto...".
ESTRATÉGIA DO P
Numa analogia com o célebre
gesto da mão espalmada de FHC
na campanha presidencial, Serra
disse que fará uma administração
aferrada a cinco letras "P":
1) abre a lista o "P" de "primeira
hora". "Trabalharemos desde o
início. Não deixaremos coisas para fazer perto da eleição";
2) "parceria": "Não é possível
governar apenas a partir da prefeitura. É preciso compartilhar tarefas e projetos com a população,
com as ONGs";
3) "prioridades": "Quando tudo
é prioritário, nada é prioritário".
Na opinião de Serra, as administrações do PT, tanto a de Brasília
quanto a de São Paulo, não buscaram fixar prioridades;
4) "planejamento": "Um exemplo magnífico de falta de planejamento é o Fura-Fila". Trata-se, diz
Serra, de um projeto ruim e caro.
"A atual administração gastou
mais do que a anterior. E ficamos
no meio do caminho em tudo.
Nós faremos diferente";
5) "parcimônia": "Como dinheiro público vem do bolso do
contribuinte, é preciso extrair dele o máximo em termos de ganhos
financeiros e sociais".
VAMPIROS
Perguntou-se a Serra se não teria negligenciado o"P" de"parcimônia" durante a sua gestão como ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso, entre 1998
e 2002. Mencionou-se o caso das
compras fraudulentas e superfaturadas de hemoderivados pelo
ministério. Embora o escândalo
tenha estourado no governo de
Luiz Inácio Lula da Silva, a Polícia
Federal informou que a quadrilha
agia no Ministério da Saúde antes,
durante e depois da gestão de Serra -pelo menos desde o início
dos anos 90.
"Em matéria de parcimônia, eu
poderia dar outros exemplos",
respondeu Serra. "Poderia citar
os medicamentos da Aids. Reduzimos enormemente os preços,
inclusive quebrando patentes."
E quanto aos"vampiros": "Não
havia essa quadrilha funcionando
lá. Os grandes implicados são pessoas contratadas na atual gestão.
Os outros são funcionários de carreira", declarou.
SÃO PAULO DOS SONHOS
Para José Serra, a paulicéia ideal
se parece com a capital da sua infância. "Não quero voltar no tempo, mas a cidade ideal pra mim é a
cidade onde haja mais oportunidades. Quando menino, eu morava numa vila, na Mooca, que tinha
25 casas. Não havia naquelas casas nenhum desempregado. A
minha inquietação era o que eu ia
fazer. Mas não tinha dúvidas de
que ia trabalhar."
CULPAS DE FHC
A propósito do desemprego,
Serra foi inquirido acerca das responsabilidades do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso na
elevação da taxa. O ex-ministro
do Planejamento disse que é preciso analisar o fenômeno com
perspectiva histórica. O país enfrenta uma "semi-paralisação",
segundo as suas contas, "há 23
anos". Quanto a FHC, sua "obra"
não privilegiou "o crescimento
econômico, mas a estabilização
da economia". Lula teria herdado,
segundo o seu raciocínio, um país
pronto para dar o salto desenvolvimentista, com um "crescimento
sólido". Mas "não aproveitou a
oportunidade".
SUMIÇO DE FHC
"Por que o ex-presidente Fernando Henrique não aparece no
seu horário eleitoral?" Serra aconselhou a Folha que fosse entrevistar o ex-presidente. "Perguntem o
que ele acha da minha candidatura e publiquem na Primeira Página. Vai ser mais propaganda." O
postulante tucano assegurou que
FHC e a mulher dele, Ruth Cardoso, estão do seu lado.
SAÚDE
A propósito da passagem de
Serra pelo Ministério da Saúde
durante a gestão FHC, perguntou-se a ele por que faz tanto alarde da experiência. "Fiz muitas outras coisas, mas a experiência
mais marcante para a população
foi a minha passagem pelo Ministério da Saúde."
OUTRA RAZÃO
"Na rua, ouço sempre duas coisas; 90% das pessoas me dizem
que suas maiores preocupações
são o desemprego e a saúde."
UM TERCEIRO MOTIVO
"Foram os adversários que
trouxeram o problema da saúde
para o primeiro plano da campanha." Sem mencionar o nome do
marqueteiro, Serra insinuou que
Duda Mendonça, hoje a serviço
de Marta Suplicy, tentou repetir
uma "mágica" que realizou na
propaganda eleitoral do ex-prefeito Celso Pitta.
"O PT procurou um Fura-Fila
novo. E veio com as maquetes do
CEU-Saúde. Acontece que o Fura-Fila colou no passado. Agora
não cola mais."
ALÉM DA SAÚDE
Serra disse que, obviamente,
não se ocupará apenas dos problemas relacionados à Saúde caso
venha a ser eleito. "A médio e longo prazo, a educação, por exemplo, tem grande importância".
Referiu-se em timbre pejorativo
ao projeto CEU-Educação de
Marta Suplicy: "Os CEUs têm 5%
dos alunos e consumem 40% da
verba destina à educação".
O candidato acha que há muito
a fazer também para melhorar o
problema do trânsito. Repisou
uma tecla que vem martelando no
horário eleitoral: em parceria com
o governo do Estado, investirá em
metrô. Planeja proibir o trânsito
de caminhões de carga pesada no
miolo da cidade durante o dia. Seriam obrigados a transitar à noite
e de madrugada.
TERRORISMO ELEITORAL
Serra recusou-se a admitir que
foi pioneiro na prática de terrorismo eleitoral. Referindo-se à última campanha presidencial, disse
que, pessoalmente, jamais fez terrorismo. Não negou que seus assessores tenham levado ao ar, na
propaganda eleitoral, a mensagem de que o governo Lula equipararia o Brasil à Argentina."Mas
o que a prefeita (Marta Suplicy)
fez agora foi diferente", comparou. Para Serra, Marta estaria jogando o jogo se dissesse que ele
faria um mau governo na prefeitura. Mas ela foi além do razoável,
acha o tucano, ao dizer que sua
eleição eleição geraria crise institucional e que a Brasília petista
não se entenderia com uma prefeitura sob mando do PSDB.
EXPECTATIVA DO ELEITOR
Para Serra, são modestas as expectativas do eleitorado. "A população não quer muito. Quer
apenas oportunidade e decência
na administração pública. Quer
saber que tem [na prefeitura] alguém que está do lado dela". Disse que o PT sempre defendeu a tese da ruptura na administração
pública. No poder, "eles viraram a
anti-ruptura extrema". Na opinião de Serra, o melhor é optar
por"um processo gradual de ganhos". Ele explica: "A população
precisa sentir que hoje está melhor do que ontem e que amanhã
será melhor do que hoje".
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