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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Acusados se contradizem sobre dossiê
Em depoimentos à PF, suspeitos de participar de compra de dossiê contra tucanos desmentem as afirmações uns dos outros
Se esclarecidas, dúvidas poderiam ajudar a elucidar a origem do R$ 1,7 milhão apreendido com Gedimar e Valdebran em São Paulo
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A leitura das 30 páginas de
depoimentos prestados pelos
protagonistas da tentativa frustrada de compra de um dossiê
contra José Serra (PSDB), governador eleito de São Paulo,
revela pelo menos quatro contradições, que, resolvidas, poderiam levar à origem do dinheiro usado na operação.
Uma divergência diz respeito
a ligações telefônicas que o empresário Valdebran Padilha
afirmou ter feito quando já estava em São Paulo, hospedado
no hotel Íbis, para Jorge Lorenzetti, ex-chefe do "grupo de informações" da campanha de
Luiz Inácio Lula da Silva.
Valdebran disse ter falado
com Lorenzetti na noite de 14
de setembro, uma quinta-feira,
por meio do telefone celular do
advogado Gedimar Passos, horas antes das prisões feitas pela
Polícia Federal. Àquela altura,
Passos já havia recebido R$ 1,7
milhão para comprar o dossiê.
A confirmação das chamadas
poderia implicar Lorenzetti no
ato do pagamento pelo dossiê.
A quebra do sigilo do telefone
de Lorenzetti, já pedida pelo
Ministério Público Federal, poderia confirmar ou não as chamadas (Gedimar teria inutilizado o chip de seu celular).
"Em São Paulo, [Valdebran]
manteve contatos pessoais
com pessoas ligadas ao Partido
dos Trabalhadores, somente
com Gedimar e a pessoa que se
apresentou como Expedito, e
por telefone com uma pessoa
que se apresentou com o nome
de Jorge. (...) Falou com Jorge
através do telefone de Gedimar, duas vezes, na quarta-feira à tarde [13/09] e na quinta-feira à noite [14/09]. Jorge se
apresentou como sendo chefe
de Gedimar", disse Valdebran
Padilha, no depoimento prestado à PF de Cuiabá (MT).
Em seu depoimento, Lorenzetti negou as ligações. "As declarações de Valdebran prestadas quando de sua prisão, em
15/09/06 em São Paulo, dizendo que o declarante teria falado
com ele por telefone, não se tratam de verdade", disse.
Os depoimentos também são
contraditórios a respeito da
identidade da pessoa, entre os
petistas implicados no episódio, que teria recebido a incumbência de organizar e coordenar o recebimento o dossiê em
São Paulo -por extensão, seria
a pessoa responsável também
pelo pagamento da papelada.
Este é o principal ponto cego
das investigações. Os três integrantes da campanha de Lula
envolvidos no episódio -Lorenzetti, Osvaldo Bargas, ex-assessor do Ministério do Trabalho, e Expedito Afonso Veloso,
ex-diretor do Banco do Brasil-
confirmam as negociações e a
"análise" do material enviado
pela família Vedoin, mas nenhum afirma ter tomado conhecimento de esquemas de
pagamento em dinheiro.
Veloso, que também afirmou
nada saber sobre dinheiro, disse em depoimento que, quando
procurado por Valdebran,
orientou-o a procurar Bargas,
que estaria fazendo o papel de
"coordenador" em São Paulo.
Bargas apresentou uma versão
diferente: "Não mantinha contato com Gedimar e não sabia o
que ele fazia em São Paulo
quando foi preso, muito menos
qual a origem do dinheiro encontrado em seu poder".
Ordem
Um terceiro ponto contraditório se refere a quem deu a ordem a Gedimar para que pagasse R$ 1,7 milhão pelo dossiê.
Gedimar primeiro afirmou
em depoimento à PF que teria
sido uma pessoa de nome
"Froude ou Freud", mais tarde
identificada como sendo Freud
Godoy, ex-assessor especial da
Presidência da República. Dezoito dias depois, em manifestação enviada ao TSE (Tribunal
Superior Eleitoral), disse que
citou o nome de Godoy apenas
para ser solto pela PF.
Em depoimento, Godoy negou ter relação com o pagamento e disse que o último contato com Gedimar foi ocasional, no dia 29 de agosto, por telefone. Godoy não consegue
identificar um motivo pelo qual
Gedimar teria decidido envolver seu nome no episódio.
Uma quarta discrepância entre os diversos depoimentos está ligada a uma suposta tentativa do empresário Abel Pereira,
ligado ao ex-ministro da Saúde
Barjas Negri, de comprar o dossiê para abafar o caso.
Lorenzetti afirma ter ouvido
de Veloso e de Bargas que Pereira teria oferecido, pelo dossiê, R$ 10 milhões aos Vedoin.
O empresário Luiz Antonio
Vedoin não confirmou a informação. Segundo ele, Pereira
procurou-o em Cuiabá "provavelmente em vista da acusação
que [Vedoin] havia feito na 2ª
Vara da Justiça Federal, mas
evitou falar com ele".
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