São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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MST

"Não aceito imposição", afirma líder

Rainha diz não aceitar deixar região do Pontal

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TEODORO SAMPAIO

O líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) José Rainha Jr., 42, disse ontem que não aceitará sair da região do Pontal do Paranapanema. Libertado após mais de dois meses preso por crime de formação de quadrilha, Rainha passou seu primeiro dia em liberdade recebendo a solidariedade de moradores de Teodoro Sampaio.
Em entrevista à Agência Folha, Rainha disse estar contrariado com a divulgação, no período em que esteve preso, do fato de que ele estava suspenso da direção do MST. Ganhou força, no MST, a hipótese de que Rainha deveria deixar o Pontal. Só neste ano, Rainha envolveu-se em conflito com prefeito de cidade, foi baleado durante invasão de terra e foi preso. Para o advogado e deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, ele poderia sair do Pontal temporariamente.
 

Agência Folha - Enquanto esteve preso, o sr. acompanhou o noticiário de sua suspensão. Há setores do MST e pessoas ligadas ao movimento que defendem que o sr. se afaste do Pontal. Como vê isso?
José Rainha Jr. -
Olha, estou à disposição da luta dos trabalhadores pela reforma agrária em qualquer lugar. Sou do Nordeste, estou no Pontal e é um dever revolucionário lutar por justiça social em qualquer lugar. Estou à disposição, mas não aceito imposição. Não vou aceitar imposição de ninguém para deixar a luta no Pontal. Existe um processo histórico do qual participo, são 11 anos de luta, mais de 6.000 famílias assentadas. Não vou deixar essa gente na mão.

Agência Folha - O sr. vê coincidência no fato de que suas prisões acontecem sempre em época de eleições presidenciais?
Rainha -
Não existe coincidência. O fato é que dei representatividade ao Pontal. Não só nacionalmente, como internacionalmente. Um conflito na região repercute no mundo. Não é por acaso que o Estado tente sempre me tirar de circulação em época eleitoral. Isso vai mudar com Lula.

Agência Folha - Num governo Lula, o sr. não crê que possa ocorrer um acirramento das tensões entre sem-terra e fazendeiros na região?
Rainha -
Eu não creio porque a direita arcaica do Pontal não tem representatividade e nós lutamos por terras devolutas. Lula vai garantir essas terras devolutas para o povo e não vamos cair na jogada da extrema direita. Vamos administrar com responsabilidade as tensões, vamos evitar os conflitos e, principalmente, vamos dar credibilidade ao governo Lula.

Agência Folha - O MST deve participar do governo Lula?
Rainha -
Não. O MST, enquanto movimento social, vai continuar sua luta. Mas, por isso mesmo, vai ser muito mais útil ao governo Lula como movimento social do que participando em cargos. Agora, se me perguntarem, acho que o MST deve ajudar na indicação de nomes, de pessoas representativas para atuar no governo Lula.



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