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Previdência dos parlamentares recebe R$ 80 milhões em 1999
LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
O Orçamento da União para 1999
destina R$ 78,9 milhões para o pagamento de pensões do extinto
IPC (Instituto de Previdência dos
Congressistas). A maior parte do
patrimônio do instituto (cerca de
R$ 90 milhões) será usada para
restituir as contribuições feitas por
parlamentares e servidores nos últimos 30 anos.
A União receberá o resto do patrimônio do IPC (cerca de R$ 60
milhões), mas terá de seguir pagando durante anos as pensões dos
atuais 2.908 pensionistas, sendo
747 ex-parlamentares. O dinheiro
dá para pagar as pensões de um
ano apenas.
Os parlamentares e servidores
contribuem com cerca de 17% da
receita do IPC. Com a liquidação
do instituto, porém, ficarão com
cerca de 60% do seu patrimônio.
Os parlamentares mais antigos
terão direito a receber até R$ 250
mil de uma só vez. O Orçamento
para o próximo ano prevê R$ 60,9
milhões para o ressarcimento das
contribuições. Mas esse valor será
insuficiente.
Outra opção dos parlamentares é
abrir mão da devolução das contribuições e ingressar no Plano de Seguridade do Congresso, que oferece condições semelhantes às dos
servidores públicos.
O grupo de funcionários que prepara a liquidação do IPC já fez o levantamento do valor total de devoluções se todos os atuais segurados
optarem por essa alternativa.
Os 553 deputados terão direito a
R$ 51 milhões, enquanto os 92 senadores poderão receber até R$ 9
milhões. Os 4.088 servidores que
são segurados terão direito a R$ 32
milhões. Segundo os liquidantes,
as pensões do IPC custam hoje R$
3,58 milhões por mês.
Após o término da atual legislatura, o instituto deverá ganhar cerca de 40 novos pensionistas.
A maior parte do patrimônio do
IPC, avaliado hoje em R$ 148 milhões, foi formado por subvenções
do Tesouro e pelo desconto das faltas dos parlamentares.
A Folha teve acesso aos balancetes dos 11 primeiros anos do instituto (de 1963 a 1974) e verificou
que o desconto das diárias era
equivalente, em média, a 20% da
contribuição obrigatória da Câmara e do Senado. O balancete de
1970/71 mostra que o desconto de
diárias chegou a Cr$ 6,3 milhões,
enquanto a soma das contribuições da Câmara, do Senado e dos
segurados foi de Cr$ 2,4 milhões.
No balancete de 1963, a contribuição dos segurados foi de Cr$
504 mil, enquanto as subvenções
chegaram a Cr$ 1,4 milhão.
O deputado mais antigo da Câmara, Antonio Ueno (PFL-PR), 75,
com 32 anos de mandato, ainda
não decidiu se pedirá a devolução
de sua contribuição ao IPC: cerca
de R$ 250 mil.
Ele poderá receber todo o dinheiro de uma vez só ou se aposentar
com uma pensão de R$ 8.000.
"Quem não tiver boa saúde, é melhor receber de uma pancada. Eu
estou bem, apesar da derrota (nas
eleições)", comentou Ueno.
O deputado argumenta que a
melhor opção para quem tiver expectativa de vida superior a cinco
anos é a aposentadoria. Quando
deixar a Câmara, ele vai se dedicar
aos negócios (é dono do Nikkey
Palace Hotel, em São Paulo) e à Câmara de Comércio Brasil/Japão,
entidade que preside.
A servidora Lígia Camargo, 58,
chefe de gabinete do senador Roberto Requião (PMDB-PR), com
31 anos de contribuição ao IPC, vai
pedir a restituição dos R$ 77 mil a
que tem direito e já sabe o que fazer com o dinheiro: vai dar de presente aos dois filhos.
Lígia poderia receber uma aposentadoria complementar de R$
616, mas prefere não arriscar. "De
repente muda tudo, o que é direito
deixa de ser direito. Podem decidir
que não podemos ter duas aposentadorias."
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