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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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DESGASTE PETISTA

Preocupado com um desgaste do governo, Palácio do Planalto encomendou duas pesquisas a Duda Mendonça

Inexperiência prejudicou PT, diz Genoino

DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de conhecimento da máquina administrativa prejudicou o PT nestes dois meses e meio de governo, afirma o presidente nacional do partido, José Genoino.
"Quando o [José" Sarney assumiu em 1985, tinha no governo um partido -o PFL- que conhecia a máquina do período do regime militar. O mesmo aconteceu com o [Fernando" Collor em 1990, com o Itamar Franco em 1992 e com o Fernando Henrique Cardoso em 1994. É natural que o PT tenha de se ajustar à máquina, que não conhecia até janeiro", afirma o presidente do PT.
Genoino diz que, em outubro do ano passado, tinha expressão pública o argumento de que uma vitória eleitoral do PT tornaria o país ingovernável. "Mostramos o quanto a direita estava enganada neste começo de governo. O risco Brasil caiu. O dólar se estabilizou. Aumentamos a credibilidade externa do país", avalia.
A continuidade da ortodoxia econômica do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan na gestão de Antonio Palocci Filho, fortemente criticada dentro do PT, é rebatida por Genoino: "Estamos trocando o pneu com o carro em movimento. Não dá para parar. Mas é preciso lembrar que este é um governo de quatro anos. Na campanha, dissemos que iríamos fazer as mudanças sem rupturas. É o que estamos fazendo".
O presidente do PT afirma que o governo tem de evitar o isolamento. "Não se pode governar na base do confronto constantemente. Está aí o exemplo do Rio Grande do Sul, onde governamos confrontando e terminamos isolados. O governo tem de agrupar", analisa o líder petista.
As críticas de parlamentares da esquerda petista ao comportamento do governo não são levadas em conta por Genoino. "O PT tem 92 parlamentares. Não dá para ficar respondendo a três ou quatro. Por que esse pessoal não reclamou durante a campanha?", rebate o presidente da legenda.

Pesquisas qualitativas
Preocupado com o desgaste do governo em período curto, o Palácio do Planalto já encomendou ao publicitário Duda Mendonça duas pesquisas qualitativas -aquelas em que são reunidos representantes de diversos grupos sociais para que expressem suas opiniões a respeito de um determinado tema.
São usadas, no meio publicitário, para avaliar como mensagens ou produtos são percebidos ou consumidos. O resultado orientou as inserções comerciais que o PT levou à televisão neste mês.
A pesquisa, segundo apurou a Folha entre petistas, indicou que haveria um descompasso entre a rapidez de resultados que a mídia cobra do governo e a expectativa dos próprios eleitores. Estes teriam se mostrado mais pacientes na espera por resultados imediatos, mas com alta expectativa de melhoria a longo prazo.
Duda Mendonça analisou os resultados da qualitativa em reuniões com o secretário de Comunicação Estratégica, Luiz Gushiken, e depois com o próprio Lula.

Fome Zero
Os pesquisados analisaram ainda o projeto Fome Zero, principal bandeira social do governo petista. A maioria aceitou a distribuição de alimentos prevista no projeto, mas a avaliou como uma política assistencialista.
Essa falha seria suprida, segundo os ouvidos, se o governo promover mudanças estruturais na geração de emprego e distribuição de renda.
Por isso, a campanha publicitária do Fome Zero, a ser lançada até o final do mês, mostrará facetas do programa pouco expostas até aqui, como o Primeiro Emprego (contratação de jovens por empresas da iniciativa privada) e aumento do valor dos benefícios do programa Bolsa-Escola.
Lula aparece na pesquisa como detentor de alto grau de confiança entre o eleitorado. De acordo com a pesquisa qualitativa, o constante contato físico de Lula com a população é um dos fatores que dão confiança aos eleitores de que o presidente estaria "preocupado realmente" com eles.
Desde que foi eleito, Lula tem mantido contato direto com a população, apesar das recomendações em contrário de sua equipe de segurança.
Também mostrou-se dominante, na pesquisa, a análise de que Lula "herdou dificuldades, mas fará mudanças".

Apoio a Lula
Em outro levantamento, desta vez quantitativo, foi feito pela Brasmarket Análise e Investigação de Mercado para medir o grau de apoio a Lula.
Ouvidas 2.637 pessoas, em todos os Estados no dia 27 de fevereiro, 85,4% disseram apoiar a forma como Lula conduz seu governo até o momento.
Do total de entrevistados, 44,2% disseram que o governo Lula "tem seus acertos e seus erros, mas é cedo para julgar; 21,7% responderam que o presidente "tem acertado e feito o que é possível"; e 19,5% afirmaram que Lula "tem acertado mais do que errado e enfrenta dificuldades herdadas do governo anterior".
A rejeição ao presidente foi de 14,6%. Entre os insatisfeitos, 7,4% responderam que o "governo tem errado mais do que acertado", e 7,2% disseram que "o governo Lula tem discurso novo, mas atitudes e medidas iguais às do governo anterior".
(PLÍNIO FRAGA)


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