UOL

São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DESGASTE PETISTA

Em reunião do Diretório Nacional do partido, presidente diz que, se a taxa de juros cair, até sua "bursite melhora"

Governo está mal na área social, admite Lula

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em reunião do Diretório Nacional do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que seu governo vai mal na área social e sinalizou com a possibilidade de redução da taxa de juros básica da economia.
"O [ministro Antonio] Palocci, que é médico, sabe que, se reduzir a taxa de juros em 0,5 ponto, até minha bursite melhora", afirmou Lula em pronunciamento aos 82 membros do diretório, segundo apurou a Folha. Nas duas reuniões do Copom (Conselho de Política Monetária) sob o governo Lula, os juros aumentaram 0,5 e 1 ponto, como resposta ao temor de aumento da inflação.
O presidente, que passou a semana sendo pressionado a mudar o comando do programa Fome Zero, avaliou a atuação do governo no setor: "Estamos mal naquilo em que pensávamos ser melhores, que é área social", declarou.
Na reunião, fechada aos jornalistas, Lula disse que uma das críticas que mais o incomodaram nestes 74 dias de governo foram as que diziam que seus atos repetem os do seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso.
Lula fez um apelo aos integrantes do partido, em especial aos chamados integrantes das alas radicais: "O PT precisa ser 100% governo". A declaração foi feita momentos antes da votação de três resoluções partidárias sobre a condução da política econômica.

Derrota da esquerda
A resolução do chamado campo majoritário petista foi aprovada por 54 de 77 votos (5 abstenções). O texto defende as ações de Palocci e classifica de "retrocesso" sugestões como o controle de preços para reduzir a inflação.
As duas teses da ala radical, uma primeira defendida pelo deputado federal Babá (PA) e outra pela senadora Heloísa Helena (AL) e pelo ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, foram rejeitadas -obtiveram 13 e 8 votos, respectivamente. Ambas criticavam a atual política econômica, classificada de "neoliberal".
A esquerda petista conseguiu, porém, aprovar a realização de dois seminários para discutir a reforma da Previdência e a retomada do crescimento econômico. As datas dos eventos serão decididas pela Executiva do partido.
Palocci justificou aos integrantes do diretório as medidas tomadas pela equipe econômica, repetindo que são conservadoras, mas necessárias para que futuramente o governo possa estimular o crescimento e a geração de empregos. Disse que são medidas de transição e se comprometeu a "mudar o modelo econômico" herdado da gestão tucana.
Lula afirmou que pretende participar, sempre que possível, das reuniões do Diretório Nacional do PT, da qual é membro. Afirmou que o PT não pode ser uma correia de transmissão do governo, não pode ser um anexo do Palácio do Planalto, mas precisa apoiar sua administração.
A proposição de apoio ao governo aprovada ontem pode ser usada contra parlamentares do partido que votarem contra propostas do Planalto.
Formalmente, a proposição não fala em punição a nenhum integrante das chamadas alas radicais petistas que decida não seguir a orientação do governo. Mas, como o texto corrobora as diretrizes econômicas adotadas e defende as reformas que o governo pretende levar à votação no Congresso, pode ser usado contra parlamentares que votarem em desacordo com as idéias ali expressas.
"Não podemos aprovar uma resolução partindo do princípio de que não será cumprida. Mas, uma vez aprovada pelo Diretório Nacional, a bancada tem de seguir as suas determinações", afirmou o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
O presidente do PT, José Genoino, abriu às 10h34 a reunião do diretório, que contou com a participação na mesa diretora de Lula, Palocci e dos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência).
Genoino iniciou seu discurso, condenando a possibilidade de um ataque comandado pelos EUA ao Iraque. "Reafirmamos a posição do governo Lula em defesa da paz e contra a guerra."
Em seguida, fez um apelo de coesão aos integrantes do diretório, em especial às alas radicais. "Nossa tarefa primordial é o sucesso do governo Lula, como foi no ano passado sua eleição. Somos um time. Temos de ter pluralidade, mas também coesão."
Dirceu fez um relato da composição da base de apoio do governo Lula no Congresso, defendendo que seja ampla e inclua representantes do maior número possível de partidos.


Colaboraram RUBENS VALENTE e RAFAEL CARIELLO, da Reportagem Local


Texto Anterior: Dificuldades na economia e lentidão nas reformas incomodam presidente
Próximo Texto: Cúpula quer forçar consenso, afirma Babá
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.