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Demissões deixam Raposa em clima de "fim de festa"
Esperando decisão do STF, arrozeiros dispensam funcionários e descartam novo plantio
Julgamento na corte, que será retomado na quarta, já teve 8 de 11 votos a favor
da retirada da população
não-índia da reserva em RR
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Arrozeiros da terra indígena
Raposa/Serra do Sol (RR) dizem que estão demitindo funcionários com a proximidade
do julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal), que poderá colocar um ponto final no
imbróglio em que se transformou a homologação da área.
Para eles, a medida é necessária em razão da indefinição
sobre o caso e devido a uma
possível determinação favorável à retirada da população não-índia do interior da reserva.
A reportagem conversou
com 4 dos 5 arrozeiros que têm
fazendas na área de 1,7 milhão
de hectares. Três deles afirmam que estão demitindo. Todos dizem que, com a provável
ordem para a retirada, os funcionários em sua totalidade
-tanto índios quanto não-índios- serão dispensados.
Na quarta-feira, o STF deve
retomar o julgamento do caso.
Em dezembro, 8 dos 11 ministros do tribunal votaram a favor da demarcação contínua da
área e a consequente retirada
da população não-índia. Naquela ocasião, o ministro Marco Aurélio Mello pediu vista.
Para Paulo César Quartiero,
ex-prefeito de Pacaraima (município que tem parte do território dentro da área indígena) e
produtor de arroz, o clima no
interior da reserva, para os rizicultores, é de "fim de festa". Ele
diz que a previsão é de não preparar um novo plantio.
"Logicamente estamos demitindo. Quando acabar a colheita [que deve se prorrogar
até maio], teremos que demitir
todos. Não estamos mais comprando insumos." Quartiero
conta que, desde o início do
ano, demitiu cerca de 50 funcionários. Ele diz que já teve
200 empregados em suas fazendas na reserva.
O produtor rural Genor Faccio afirma que, com a indecisão
sobre o caso, os arrozeiros estão impedidos de produzir.
"Semana passada demiti 12
funcionários [de 50] da fazenda. Na semana que vem, provavelmente eu demita mais uns
dez. Com essa indefinição e
com uma provável decisão contra a gente, ficamos sem fazer
nada com os funcionários."
Ivalcir Centenaro, que tem
cerca de 30 funcionários, diz
que já demitiu ao menos quatro. "A gente já mandou embora um pessoal e vai ser, daqui
para frente, 100%. Não terei
onde plantar", afirma ele.
Caso o STF determine a retirada dos arrozeiros, o rizicultor
Ivo Barili diz que "aí vai ter de
parar, vai ter de demitir".
Para o governo de Roraima,
se os arrozeiros deixarem a reserva, o desenvolvimento econômico do Estado ficará comprometido. A reportagem tentou durante a semana falar com
o governador José de Anchieta
Júnior (PSDB) sem sucesso.
Ansiedade
Enquanto os arrozeiros vivem um clima de "fim de festa",
os índios da Raposa/Serra do
Sol que defendem a retirada do
grupo estão ansiosos com o
desfecho do caso e querem que
o STF "bata o martelo".
A retirada da população não-índia do interior da terra indígena deveria ter sido concluída
até abril de 2006, segundo previa uma portaria assinada em
2005 pelo então ministro da
Justiça do governo Lula, Márcio Thomaz Bastos.
O coordenador do CIR (Conselho Indígena de Roraima),
Dionito Souza, disse que os índios favoráveis à demarcação
contínua querem a "retirada
imediata" dos arrozeiros. "Não
vamos mais aceitar esperar um,
dois, três anos", afirmou.
Na quarta-feira, índios favoráveis à demarcação contínua
esperam reunir cerca de mil
pessoas na comunidade do Barro, no interior da reserva, para
acompanhar o julgamento.
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