São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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DIVISÃO NO GOVERNO

Para que Lula cobre mudança, Alencar sugere a sindicalista que sociedade demonstre seu descontentamento

Vice articula pressão para mudar economia

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-presidente da República, José Alencar, acionou as duas principais lideranças do movimento sindical -os presidentes da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, e da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho- para, com a ajuda deles, organizar trabalhadores e empresários em uma grande mobilização nacional pela mudança da política econômica do governo.
Na última segunda-feira, em almoço com Paulinho, no Palácio do Jaburu, em Brasília, Alencar explicou sua idéia. Sinalizar publicamente, num movimento que parta da sociedade, o descontentamento com as altas taxas de juros e as restrições de investimentos, apontados como os principais obstáculos ao crescimento.
As já conhecidas críticas de Alencar à política econômica ganharam, nesse almoço, o tempero da mobilização social. Seria uma tática para dar mais conforto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, avalista inconteste da atual política econômica, para cobrar o que seria um acerto nos rumos da equipe comandada pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Diante de Paulinho, Alencar ligou para Marinho. Marcaram um encontro para a tarde de amanhã, quando o presidente da CUT estará em Brasília e se reunirá com Lula. "Eu não gostaria de falar sobre isso. Tudo que posso dizer é que estive lá [no almoço] e concordo com essa proposta [de mobilização de empresários e trabalhadores pela mudança da política econômica] para ver se o país volta a andar", afirmou Paulinho, ressalvando que o almoço foi apenas "um começo de conversa".
A Folha entrou em contato com a assessoria de Alencar para que ele se pronunciasse sobre a questão, mas não houve resposta.
Marinho confirmou que hoje irá tomar um "café rapidamente" com o vice. Disse, porém, desconhecer outro propósito para o encontro. Mesmo sem se aprofundar no que seria o conteúdo de sua agenda com Alencar, em entrevista à Folha por telefone, Marinho comentou: "Sempre que a gente se encontra, avaliamos o que está acontecendo". Concluiu a conversa dizendo que, devido ao tempo exíguo -visitará Alencar entre a chegada ao aeroporto de Brasília, às 14h15, e a audiência com Lula, prevista para as 15h30-, certamente não seria possível abordar nada de "sério".

"Boas intenções"
Crítico da política econômica, mas não da equipe que a conduz -pelo menos no almoço de segunda-, Alencar fez considerações elogiosas a Palocci e a seus colaboradores. Disse que o ministro é "honesto" e "tem boas intenções". "Eles erram pensando que estão acertando", resumiu o vice, segundo um dos presentes, atribuindo à opção da equipe econômica o comando de um "círculo vicioso" de juros altos e restrições ao crescimento do país.
Alencar foi cuidadoso ao tratar da questão do superávit. Disse que é discutível reduzir o percentual porque, com a diminuição dos juros, haveria fôlego para investimentos. E, assim, talvez não fosse necessário fazer uso das reservas hoje destinadas ao superávit para colocar o país na rota do crescimento.
Pouco antes de o manjar branco surgir como sobremesa no almoço, Paulinho perguntou a Alencar: "E o Lula, já sabe disso?". A resposta: "Ainda não, mas eu já vou contar a ele". Alencar disse que seguiria para uma reunião com o presidente na qual contaria os planos que revelara a Paulinho.


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