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DIVISÃO NO GOVERNO
Para que Lula cobre mudança, Alencar sugere a sindicalista que sociedade demonstre seu descontentamento
Vice articula pressão para mudar economia
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O vice-presidente da República,
José Alencar, acionou as duas
principais lideranças do movimento sindical -os presidentes
da Força Sindical, Paulo Pereira
da Silva, e da CUT (Central Única
dos Trabalhadores), Luiz Marinho- para, com a ajuda deles,
organizar trabalhadores e empresários em uma grande mobilização nacional pela mudança da política econômica do governo.
Na última segunda-feira, em almoço com Paulinho, no Palácio
do Jaburu, em Brasília, Alencar
explicou sua idéia. Sinalizar publicamente, num movimento que
parta da sociedade, o descontentamento com as altas taxas de juros e as restrições de investimentos, apontados como os principais obstáculos ao crescimento.
As já conhecidas críticas de
Alencar à política econômica ganharam, nesse almoço, o tempero
da mobilização social. Seria uma
tática para dar mais conforto ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, avalista inconteste da atual política econômica, para cobrar o
que seria um acerto nos rumos da
equipe comandada pelo ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Diante de Paulinho, Alencar ligou para Marinho. Marcaram um
encontro para a tarde de amanhã,
quando o presidente da CUT estará em Brasília e se reunirá com
Lula. "Eu não gostaria de falar sobre isso. Tudo que posso dizer é
que estive lá [no almoço] e concordo com essa proposta [de mobilização de empresários e trabalhadores pela mudança da política econômica] para ver se o país
volta a andar", afirmou Paulinho,
ressalvando que o almoço foi apenas "um começo de conversa".
A Folha entrou em contato com
a assessoria de Alencar para que
ele se pronunciasse sobre a questão, mas não houve resposta.
Marinho confirmou que hoje
irá tomar um "café rapidamente"
com o vice. Disse, porém, desconhecer outro propósito para o encontro. Mesmo sem se aprofundar no que seria o conteúdo de
sua agenda com Alencar, em entrevista à Folha por telefone, Marinho comentou: "Sempre que a
gente se encontra, avaliamos o
que está acontecendo". Concluiu
a conversa dizendo que, devido
ao tempo exíguo -visitará Alencar entre a chegada ao aeroporto
de Brasília, às 14h15, e a audiência
com Lula, prevista para as
15h30-, certamente não seria
possível abordar nada de "sério".
"Boas intenções"
Crítico da política econômica,
mas não da equipe que a conduz
-pelo menos no almoço de segunda-, Alencar fez considerações elogiosas a Palocci e a seus
colaboradores. Disse que o ministro é "honesto" e "tem boas intenções". "Eles erram pensando que
estão acertando", resumiu o vice,
segundo um dos presentes, atribuindo à opção da equipe econômica o comando de um "círculo
vicioso" de juros altos e restrições
ao crescimento do país.
Alencar foi cuidadoso ao tratar
da questão do superávit. Disse
que é discutível reduzir o percentual porque, com a diminuição
dos juros, haveria fôlego para investimentos. E, assim, talvez não
fosse necessário fazer uso das reservas hoje destinadas ao superávit para colocar o país na rota do
crescimento.
Pouco antes de o manjar branco
surgir como sobremesa no almoço, Paulinho perguntou a Alencar: "E o Lula, já sabe disso?". A
resposta: "Ainda não, mas eu já
vou contar a ele". Alencar disse
que seguiria para uma reunião
com o presidente na qual contaria
os planos que revelara a Paulinho.
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