São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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Lula refuta 3º mandato e defende o fim da reeleição

Petista diz, sobre possível alteração na Constituição, que não brinca com democracia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem não ter interesse em disputar um terceiro mandato em 2010, mesmo que o Congresso mude a lei. Hoje a Constituição só permite uma reeleição consecutiva a ocupantes de cargos executivos. Por isso Lula não pode concorrer a mais quatro anos na Presidência: "Sou contra e não serei candidato em 2010".
Ele rejeitou alterações na lei e na Constituição: "Minha orientação para a base é que ninguém apresente qualquer projeto, o que eu acho uma provocação à democracia".
Lula, porém, voltou a falar sobre acabar com a reeleição e aumentar o mandato de presidente para cinco anos. Nesse cenário, ele poderia disputar novo mandato em 2015.
O presidente disse estar disposto a convidar o ex-presidente Fernando Henrique para conversar, embora afirmando que a base aliada atual terá candidato para sua sucessão.
Sobre o sucessor, ele disse querer influir no processo: "Eu quero fazer o sucessor. E por uma razão muito simples: porque eu quero que tenha continuidade o que nós estamos fazendo no país". Lula se esquivou de responder sobre seu grau de conhecimento a respeito do estado de gerenciamento do setor aéreo, em crise há mais de seis meses. A seguir, trechos das respostas:

 

3º MANDATO
SANDRO LIMA ("CORREIO BRAZILIENSE") - O sr. garante que não vai disputar um terceiro mandato em 2010? O sr. assume publicamente, aqui, esse compromisso?
LULA -
Não brinco com democracia. Fui contra a reeleição até o momento em que a lei perdurou. E fui obrigado a ser candidato à reeleição porque a situação política exigia que eu fosse. Eu quero dizer para vocês: sou contra e não serei candidato em 2010. A Constituição não permite, a lei não permite e eu acho imprudente alguém tentar apresentar qualquer mudança, permitindo um terceiro mandato.
A melhor reforma política que poderia acontecer seria acabar com a reeleição, aprovar um mandato de cinco anos. Se a pessoa fez um bom governo, cinco anos depois de ausência ela poderia voltar e concorrer a uma nova eleição.
Não serei nem pensarei nem cogitarei qualquer hipótese de terceiro mandato. Já era contra o segundo, imagine o terceiro.

LIMA - Mesmo que um deputado apresente uma proposta...
LULA -
Acabei de dizer. Acho imprudência. Minha orientação para a base é que ninguém apresente qualquer projeto, o que eu acho uma provocação à democracia brasileira.

2014
TÂNIA MONTEIRO ("O ESTADO DE S. PAULO") - Fala-se da aproximação do PT com o PSDB. O que há de concreto? O sr. apoiará Aécio Neves em 2010? O sr. voltará em 2014?
LULA -
Eu não trabalho com a hipótese de voltar à Presidência da República. Eu tenho que cumprir o meu mandato que está no começo. Então, só cinco minutos de insanidade é que me permitiriam ficar discutindo oito anos para a frente. Depois que você chegou aqui, não tem nada mais alto do que isso, é o máximo. Então, você se recolhe, vai cuidar da família, vai cuidar dos netos, vai fazer conferência, vai fazer alguma coisa. Bom, eu penso assim. Com relação à candidatura do PSDB, sempre tive boa relação com o PSDB. Eu só posso te dizer o seguinte: a base do governo terá candidato. Quem vai ser? Não sei. É tão cedo. Vamos ter no ano que vem eleições para prefeito, e cada eleição nas capitais é quase uma eleição nacional. Vamos aguardar.

PSDB
MONTEIRO - Ainda dá para conversar com o ex-presidente FHC?
LULA -
De vez em quando, eu vejo o presidente Fernando Henrique Cardoso dizer que eu não o convidei. É importante lembrar que ele também só me convidou depois que eu fui derrotado em 1998. Não tenho por que não conversar com ele. Se ele acha que errei em não convidá-lo, não será por falta de convite que a gente não vai conversar. Quero respeitar o direito do PSDB ser oposição, respeitar o direito deles fazerem as críticas que tiverem de fazer.

INFRAERO
FERNANDO RODRIGUES (FOLHA) - Durante a sua campanha eleitoral em 2006, o sr. usou as obras nos aeroportos realizadas pela Infraero. A Infraero teve um aumento no gasto de propaganda. Em 2006, o sr. foi informado ou sabia que talvez os investimentos realizados no setor eram insuficientes para deixar o país precavido para uma crise área?
LULA -
Não vamos confundir o acidente do avião da Gol com o Legacy com um problema dos aeroportos, até porque eles se chocaram no ar. Não tenho ainda o resultado da investigação nem deveria ter porque me parece que, depois de tudo que foi feito aqui, eles ainda têm que mandar para uma comissão especial não sei de onde. Uma coisa de que eu não tinha conhecimento prático, não sou controlador, portanto, não sei o que acontece dentro da sala de controle ou do Cindacta. Nós estamos sendo vítimas da falta de planejamento histórica deste país, e nós agora temos que recuperar e criar condições para os aeroportos funcionarem. Se em algum momento a Infraero gastou dinheiro a mais em publicidade, ora, tem um monte de instâncias para julgá-la.

RODRIGUES - O sr. estava há quatro anos na Presidência e esse episódio da crise ocorreu no final do seu primeiro mandato. Houve falha gerencial ou administrativa para que o sr. não fosse informado do problema?
LULA -
Eu, teoricamente, fui informado pela Aeronáutica de que não tinha apagão. O que pode ter havido foi desobediência à ordem de vôo.

VIOLÊNCIA
CARLA CORRÊA ("JORNAL DO BRASIL") - Em 2005, o sr. falou da importância que seria juntar o governo federal com os governos estaduais, com os municípios, para desenhar uma estratégia de combate à violência. O que faltou, nesses dois anos que se passaram, já que o governo ainda não conseguiu dar uma resposta efetiva para a violência?
LULA -
O governo federal não é o foco principal, nós somos a força auxiliar do sistema de segurança pública que é majoritariamente controlado pelos governos dos Estados. O governo federal só entra quando é pedido, como entramos no Espírito Santo, como entramos no Rio de Janeiro. Quando chegar o Pan, nós vamos ter um modelo de uma coisa que está sendo preparada para os Jogos e que vai ficar no Rio de Janeiro depois que terminar o Pan. Então, o Rio poderá virar uma espécie de início da virada na política de segurança pública do nosso país.

POLÍTICA EXTERNA
JORGE SVARTZMAN (FRANCE PRESSE) - Ouvi o sr. falar que o Brasil não é um país imperialista, mas temos Evo Morales, que lidera simbolicamente a ocupação das usinas da Petrobras; temos Fidel Castro e Hugo Chávez, que consideram o plano do biocombustível bom só para monopólios.
LULA -
Quando chegamos à Presidência... estabelecemos a idéia de que era preciso construir uma outra dimensão da política de integração para a América do Sul, de que gostaríamos de construir uma parceria e não uma hegemonia.
Acho que a riqueza mineral da Bolívia é da Bolívia, ele [Evo] a vende para nós se quiser vender. Nós temos contrato. O que eu quero é que, quando estabelecermos um contrato, esse contrato seja respeitado.


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