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Lula refuta 3º mandato e defende o fim da reeleição
Petista diz, sobre possível alteração na Constituição, que não brinca com democracia
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem não ter
interesse em disputar um terceiro mandato em 2010, mesmo que o Congresso mude a lei.
Hoje a Constituição só permite uma reeleição consecutiva a ocupantes de cargos executivos. Por isso Lula não pode
concorrer a mais quatro anos
na Presidência: "Sou contra e
não serei candidato em 2010".
Ele rejeitou alterações na lei
e na Constituição: "Minha
orientação para a base é que
ninguém apresente qualquer
projeto, o que eu acho uma provocação à democracia".
Lula, porém, voltou a falar
sobre acabar com a reeleição e
aumentar o mandato de presidente para cinco anos. Nesse
cenário, ele poderia disputar
novo mandato em 2015.
O presidente disse estar disposto a convidar o ex-presidente Fernando Henrique para
conversar, embora afirmando
que a base aliada atual terá candidato para sua sucessão.
Sobre o sucessor, ele disse
querer influir no processo: "Eu
quero fazer o sucessor. E por
uma razão muito simples: porque eu quero que tenha continuidade o que nós estamos fazendo no país".
Lula se esquivou de responder sobre seu grau de conhecimento a respeito do estado de
gerenciamento do setor aéreo,
em crise há mais de seis meses.
A seguir, trechos das respostas:
3º MANDATO
SANDRO LIMA ("CORREIO BRAZILIENSE") - O sr. garante que não vai disputar um terceiro mandato em
2010? O sr. assume publicamente,
aqui, esse compromisso?
LULA - Não brinco com democracia. Fui contra a reeleição
até o momento em que a lei
perdurou. E fui obrigado a ser
candidato à reeleição porque a
situação política exigia que eu
fosse. Eu quero dizer para vocês: sou contra e não serei candidato em 2010. A Constituição
não permite, a lei não permite e
eu acho imprudente alguém
tentar apresentar qualquer
mudança, permitindo um terceiro mandato.
A melhor reforma política
que poderia acontecer seria
acabar com a reeleição, aprovar
um mandato de cinco anos. Se a
pessoa fez um bom governo,
cinco anos depois de ausência
ela poderia voltar e concorrer a
uma nova eleição.
Não serei nem pensarei nem
cogitarei qualquer hipótese de
terceiro mandato. Já era contra
o segundo, imagine o terceiro.
LIMA - Mesmo que um deputado
apresente uma proposta...
LULA - Acabei de dizer. Acho
imprudência. Minha orientação para a base é que ninguém
apresente qualquer projeto, o
que eu acho uma provocação à
democracia brasileira.
2014
TÂNIA MONTEIRO ("O ESTADO DE S.
PAULO") - Fala-se da aproximação
do PT com o PSDB. O que há de concreto? O sr. apoiará Aécio Neves em
2010? O sr. voltará em 2014?
LULA - Eu não trabalho com a
hipótese de voltar à Presidência da República. Eu tenho que
cumprir o meu mandato que
está no começo. Então, só cinco
minutos de insanidade é que
me permitiriam ficar discutindo oito anos para a frente.
Depois que você chegou aqui,
não tem nada mais alto do que
isso, é o máximo. Então, você se
recolhe, vai cuidar da família,
vai cuidar dos netos, vai fazer
conferência, vai fazer alguma
coisa. Bom, eu penso assim.
Com relação à candidatura
do PSDB, sempre tive boa relação com o PSDB. Eu só posso te
dizer o seguinte: a base do governo terá candidato. Quem vai
ser? Não sei. É tão cedo. Vamos
ter no ano que vem eleições para prefeito, e cada eleição nas
capitais é quase uma eleição
nacional. Vamos aguardar.
PSDB
MONTEIRO - Ainda dá para conversar com o ex-presidente FHC?
LULA - De vez em quando, eu
vejo o presidente Fernando
Henrique Cardoso dizer que eu
não o convidei. É importante
lembrar que ele também só me
convidou depois que eu fui derrotado em 1998. Não tenho por
que não conversar com ele. Se
ele acha que errei em não convidá-lo, não será por falta de
convite que a gente não vai conversar. Quero respeitar o direito do PSDB ser oposição, respeitar o direito deles fazerem
as críticas que tiverem de fazer.
INFRAERO
FERNANDO RODRIGUES (FOLHA) - Durante a sua campanha eleitoral em
2006, o sr. usou as obras nos aeroportos realizadas pela Infraero. A Infraero teve um aumento no gasto
de propaganda. Em 2006, o sr. foi informado ou sabia que talvez os investimentos realizados no setor
eram insuficientes para deixar o
país precavido para uma crise área?
LULA - Não vamos confundir o
acidente do avião da Gol com o
Legacy com um problema dos
aeroportos, até porque eles se
chocaram no ar. Não tenho ainda o resultado da investigação
nem deveria ter porque me parece que, depois de tudo que foi
feito aqui, eles ainda têm que
mandar para uma comissão especial não sei de onde.
Uma coisa de que eu não tinha conhecimento prático, não
sou controlador, portanto, não
sei o que acontece dentro da sala de controle ou do Cindacta.
Nós estamos sendo vítimas
da falta de planejamento histórica deste país, e nós agora temos que recuperar e criar condições para os aeroportos funcionarem. Se em algum momento a Infraero gastou dinheiro a mais em publicidade,
ora, tem um monte de instâncias para julgá-la.
RODRIGUES - O sr. estava há quatro
anos na Presidência e esse episódio
da crise ocorreu no final do seu primeiro mandato. Houve falha gerencial ou administrativa para que o sr.
não fosse informado do problema?
LULA - Eu, teoricamente, fui informado pela Aeronáutica de
que não tinha apagão. O que pode ter havido foi desobediência
à ordem de vôo.
VIOLÊNCIA
CARLA CORRÊA ("JORNAL DO BRASIL")
- Em 2005, o sr. falou da importância
que seria juntar o governo federal
com os governos estaduais, com os
municípios, para desenhar uma estratégia de combate à violência. O
que faltou, nesses dois anos que se
passaram, já que o governo ainda
não conseguiu dar uma resposta
efetiva para a violência?
LULA - O governo federal não é
o foco principal, nós somos a
força auxiliar do sistema de segurança pública que é majoritariamente controlado pelos governos dos Estados.
O governo federal só entra
quando é pedido, como entramos no Espírito Santo, como
entramos no Rio de Janeiro.
Quando chegar o Pan, nós vamos ter um modelo de uma coisa que está sendo preparada para os Jogos e que vai ficar no
Rio de Janeiro depois que terminar o Pan. Então, o Rio poderá virar uma espécie de início
da virada na política de segurança pública do nosso país.
POLÍTICA EXTERNA
JORGE SVARTZMAN (FRANCE PRESSE) -
Ouvi o sr. falar que o Brasil não é um
país imperialista, mas temos Evo
Morales, que lidera simbolicamente
a ocupação das usinas da Petrobras;
temos Fidel Castro e Hugo Chávez,
que consideram o plano do biocombustível bom só para monopólios.
LULA - Quando chegamos à
Presidência... estabelecemos a
idéia de que era preciso construir uma outra dimensão da
política de integração para a
América do Sul, de que gostaríamos de construir uma parceria e não uma hegemonia.
Acho que a riqueza mineral
da Bolívia é da Bolívia, ele [Evo]
a vende para nós se quiser vender. Nós temos contrato. O que
eu quero é que, quando estabelecermos um contrato, esse
contrato seja respeitado.
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