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Análise
Lula canta êxito econômico cem anos atrasado
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Como Lula, Rodrigues Alves
governou o país, há mais de
cem anos, com inflação baixa,
dívida externa sob controle, exportações em alta, ortodoxia
monetária e fiscal, queixas do
setor produtivo contra o câmbio desfavorável e a proposta de
acelerar o crescimento econômico com um plano de obras
em infra-estrutura.
À diferença de Lula, só Rodrigues Alves poderia ter afirmado
o que o petista afirmou na entrevista coletiva de ontem:
"Nós vivemos o melhor momento da economia de toda a
história da República" -e, ainda assim, porque em seu governo (1902-1906) a República,
proclamada em 1889, ainda não
contava duas décadas.
Morto em 1919, o quinto presidente brasileiro não pôde ver
o país se transformar de economia agrícola em industrial, disputar com o Japão as maiores
taxas de crescimento do mundo entre 1950 e 1980 e reduzir
pela metade seus índices de pobreza ao longo da década de 70
do século passado.
Nascido em 1945, Lula pode
ilustrar a urbanização vertiginosa e as possibilidades de ascensão social dos anos seguintes, quando também começam
a ser apuradas as séries estatísticas mais confiáveis sobre a
economia brasileira.
No final da década de 60,
quando o migrante nordestino
começou sua carreira no sindicalismo industrial, os pobres
representavam aproximadamente 70% da população brasileira. Depois do "milagre econômico" da ditadura militar,
minimizado ontem pelo petista, o percentual havia caído para 35% em 1980, ano da fundação do PT.
Na década seguinte, apelidada de "perdida", o colapso do
desenvolvimentismo dá início
a um período de estagnação
econômica não superado até
hoje -mesmo Lula, como fez
ontem, reconhece que o crescimento ainda deixa a desejar.
Os anos 90 são marcados por
crises externas e domésticas
que abortam as tentativas de
retomada econômica. Ainda assim, o país inicia um processo
de redução da inflação, da pobreza e, pela primeira vez documentada pelas estatísticas, da
desigualdade social.
Como Rodrigues Alves, Lula
teve a sorte de assumir o governo em um cenário internacional favorável. O primeiro se
aproveitou da explosão das exportações da borracha; o segundo, de uma alta generalizada dos preços globais dos produtos primários.
Superávits comerciais vigorosos e capitais atraídos pelos
juros mais altos do mundo
respondem pela maior parte
dos sucessos e fracassos da
economia lulista. O dólar barato responde pela inflação baixa
e pelo controle da dívida externa, mas também freia a atividade econômica e a geração de
empregos. Rodrigues Alves,
ao menos, conseguiu crescimento ainda em seu primeiro
governo -ele morreu antes de
iniciar o segundo.
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