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Para empresário, há uso político da PF no RS
Investigado por fraude no Detran, tucano acusa a Polícia Federal de ter sido usada para desgastar governo de Yeda Crusius
Lair Ferst diz que não captou recursos para a campanha da governadora e nega que suas empresas tenham desviado dinheiro público
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Apontado como o responsável pelo desvio de R$ 44 milhões do Detran-RS, o empresário tucano Lair Ferst, 50, acusa a Polícia Federal de ter sido
usada para desgastar a governadora Yeda Crusius (PSDB).
Ferst sustenta que não captou recursos para Yeda e reclama que foi prejudicado dentro
do governo que ajudou a eleger.
Sua prisão, em novembro de
2007, foi o início de um escândalo de corrupção que atingiu o
governo Yeda. A crise já derrubou quatro secretários. Piorou
após a gravação divulgada pelo
vice-governador Paulo Feijó
(DEM) em que o ex-chefe da
Casa Civil Cézar Busatto (PPS)
liga o uso de estatais ao financiamento de campanhas.
FOLHA - O sr. acredita que houve
uso político da PF?
LAIR FERST - Ocorreram fatos
estranhos. Principalmente
uma determinação superior de
expor os presos à mídia. A delegada disse que tinha ordens superiores para largar os presos
na rua para que a imprensa pudesse filmar e fotografar. Outro
fato estranho é que os investigadores queriam saber de um
cheque que eu havia dado para
a compra da casa [de Yeda]. Esse cheque nunca existiu.
FOLHA - O sr. considera conveniente para a PF, ou para o governo federal, expor um governo do PSDB?
FERST - A sucessão de fatos revela isso. A sintonia dos políticos de oposição [PT] com as autoridades investigadoras é muito grande. Nunca se viu uma
CPI estar tão ligada aos órgãos
investigadores.
FOLHA - Qual a sua relação com a
governadora?
FERST - É uma relação político-partidária que se deu até o dia
da eleição. Na campanha, eu só
me encontrava com ela em
eventos públicos. Atuei como
militante. Até achei que seria
convidado [para algum cargo],
mas isso não aconteceu.
FOLHA - O sr. arrecadou recursos
para a campanha?
FERST - Eu não fazia parte do
grupo escalado para fazer esse
trabalho. O vice-governador
Paulo Feijó (DEM) era arrecadador no primeiro turno.
FOLHA - Mas o sr. circula bem no
meio empresarial. O PSDB não o utilizou como poderia?
FERST - Quando a campanha
estava com dificuldades financeiras, disse que o comitê de arrecadação era muito fraco. Eu
teria mais condições que as
pessoas escaladas. Mas não fui
convocado para isso, era um esquema muito fechado.
FOLHA - O sr. já havia atuado em
outras campanhas de Yeda?
FERST - Sim. Mas também de
outros. Na do governador Germano Rigotto [do PMDB, em
2002] tive uma atuação muito
forte. Tive muito mais envolvimento direto com Rigotto do
que com a governadora Yeda
Crusius na campanha.
FOLHA - O sr. conversa ou conversava com o marido da governadora
[Carlos Crusius]?
FERST - Não. Quando a governadora era deputada federal, o
Carlos Crusius era o articulador político dela. Eu era o articulador político do Nelson
Marchezan [deputado tucano
morto em 2002]. Ele tinha razões de sobra para me vetar.
FOLHA - O sr. fez indicações no governo Rigotto?
FERST - Várias. Fui até secretário substituto do governo. As
empresas da minha família foram contratadas durante o governo Rigotto e trabalharam
sem nenhuma discriminação.
No da Yeda, deu tudo para trás.
FOLHA - E a carta que o sr. escreveu
a Yeda sobre o desvio no Detran?
FERST - Esta carta são fragmentos de um rascunho que
existia, de dossiês com denúncias que circulavam. O texto
que foi publicado na imprensa
não tem autenticidade.
FOLHA - O que o levou a escrever
esse texto?
FERST - Estava circulando muito dossiê [sobre desvios no Detran, antes da Operação Rodin].
Eu tive a informação de que um
dossiê que me difamava tinha
chegado ao gabinete de Yeda.
FOLHA - As empresas da sua família prestaram serviço ao Detran?
FERST - Não entendo porque
dizem que essas empresas desviaram dinheiro público. Não
existe nem um real de dinheiro
público. É dinheiro privado, a
Fatec [que intermediou o pagamento do Detran às empresas
dos acusados de desvio] é uma
fundação privada. Nenhuma
das empresas prestou serviço
ao Detran.
FOLHA - Mas o dinheiro que a Fatec
repassou às empresas vinha do Detran.
FERST - Não sei. Dinheiro não
tem carimbo.
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