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Documento liga Tuma a doleiros
LUCAS FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando esteve à frente da Polícia Federal, Romeu Tuma -hoje
senador e candidato do PFL à Prefeitura de São Paulo- não só teve
relacionamento com doleiros, como se tornou "compadre" de um
deles.
Na semana passada, a revista
"IstoÉ" publicou trechos de supostas gravações de telefonemas
do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto em que é mencionada a possível ligação de Tuma com um doleiro.
A Folha obteve documentos
que demonstram que, quase dez
anos atrás, a PF ignorou acusações e indícios da suposta ligação
de um doleiro com um esquema
que operava com contrabando de
ouro e esmeraldas e intermediava
verbas federais em Brasília.
O doleiro investigado, o libanês
naturalizado brasileiro Habib Salim El Chater, era "compadre" de
Tuma -à época, chefe da Polícia
Federal (leia texto nesta página).
O caso está registrado em 121
páginas de documentos sigilosos
da PF, da Polícia Civil de Goiás e
do Ministério Público Federal.
São cópias de depoimentos, laudos periciais e relatórios de investigação.
O início
Tudo começou em junho de
1990, quando Habib Salim El Chater comprou US$ 200 mil de outros dois doleiros -Joaquim
Elias Mattar e Orion Saraiva Dutra. Os dólares vendidos a El Chater pertenciam originalmente a
um "senador" ou a um "deputado", segundo depoimentos de envolvidos no negócio.
A operação foi realizada no estacionamento do Congresso. Os
dólares foram entregues dentro
de "20 pacotes embrulhados com
papel timbrado da Câmara dos
Deputados". Depois de fechado o
negócio, El Chater descobriu que
as notas eram falsas e tentou obter
de volta o dinheiro utilizado para
pagar os dólares. Mattar e Dutra
disseram que não sabiam que o
dinheiro era falso, mas se comprometeram com El Chater a trocar o dinheiro falso por US$ 200
mil verdadeiros. Mas, para isso,
precisavam de tempo.
Cinco meses após ser realizada a
operação com os dólares falsos, a
PF entrou no caso. A versão oficial é que policiais federais encontraram, por acaso, as notas falsas
na casa de Mattar quando investigavam o paradeiro de dois traficantes foragidos.
A Polícia Federal então abriu o
inquérito 1.267/90 para apurar a
origem dos dólares falsos. O delegado designado foi Genival Batista de Souza, que operava mais na
parte burocrática e que tinha pouca experiência com investigações.
Na apuração, constatou-se que
Mattar e Dutra eram ligados a outro doleiro -Orlando Rodrigues
da Cunha Filho. Este, por sua vez,
seria sócio do então deputado federal Sérgio Naya em negócios
com dólares e contrabando de esmeraldas, segundo depoimento
da garimpeira e contrabandista
Jane Maria Resende.
Depoimentos dados ao delegado apontaram que o suposto sócio de Naya também operava "no
ramo de assessoramento de prefeituras e empresas e na liberação
de verbas federais e financiamentos". Os recursos arrecadados
com o tráfico de influência seriam
lavados na empresa Águia Turismo, do suposto sócio de Naya.
A contrabandista Jane chegou a
confessar que vendera "12 quilos
de ouro e aproximadamente cem
quilates de esmeraldas" para o
parceiro do então deputado federal. Ou seja, na apuração da origem dos dólares falsos comprados pelo "compadre" de Tuma, o
delegado da PF Genival Batista de
Souza esbarrou num esquema de
contrabando de ouro e esmeraldas e de intermediação de verbas
públicas. Apesar disso, o delegado
não investigou os indícios de contrabando de tráfico de influência,
ignorando provas, indícios e depoimentos colhidos por ele mesmo sobre esses supostos crimes.
O delegado tampouco requisitou que esses supostos crimes fossem apurados em outro inquérito. Na apuração relacionada aos
dólares falsos, o delegado não
perguntou aos depoentes que ouviu quem seria o parlamentar supostamente envolvido no caso.
O presidente do inquérito também não questionou a nenhum
dos investigados se eles tinham
relações com o então deputado
Sérgio Naya. Este, por sua vez,
também não foi investigado.
O "compadre" de Tuma chegou
a ser indiciado, mas ficou sujeito a
uma pena menor que os outros
envolvidos (seis meses a dois anos
de prisão e multa) por ter declarado não saber que os dólares eram
falsos. Ao final do caso, ninguém
foi preso.
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