São Paulo, domingo, 16 de julho de 2000


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JANIO DE FREITAS
O autor de decisões

O medo que o governo tem de uma CPI é justificado. Os caminhos de uma CPI são políticos, e a política é fluida, os seus fatos podem escorrer entre os dedos, incontroláveis. As investigações de procuradores da República costumam ser muito mais perigosas, porém mais sujeitas às artes e marotagens do poder para dificultá-las ou impedi-las. Há anos o Banco Central, por exemplo, está devendo o movimento bancário da Incal pedido pela Procuradoria da República em São Paulo - que foi a verdadeira origem das descobertas de falcatruas envolvendo Nicolau dos Santos Neto, Luiz Estevão, Eduardo Jorge Caldas e agora chegando à Presidência.
O medo, digamos, técnico é engrossado por outro não menos ameaçador e talvez ainda mais incontrolável. É muito grande a probabilidade de que um caso puxe outro, em qualquer investigação do uso da Presidência por Eduardo Caldas. Ninguém sabe, a não ser o próprio, quantas improbidades realizou o então secretário-geral da Presidência, mas vem de longe o conhecimento de que sua audácia de lobista e negocista não teve, não tem, limites.
Inúmeros casos foram conhecidos, comentados, mas não puderam tornar-se públicos porque a tropa de choque governista é pesada (no governo mesmo, no Congresso e, uff, na imprensa/tv). Sem comprovações antecipadas, toda divulgação prejudicial ao governo, e mais ainda se tocando a imagem virginal de Fernando Henrique, seria esmagada pelas contestações. Agora todos já fazem idéia, mínima embora, da maneira como Eduardo Jorge exerceu a Secretaria Geral da Presidência. Pode-se, então, mostrar um caso exemplar da extensão, temática e administrativa, com que explorou a cobertura proporcionada por sua proximidade de Fernando Henrique.
Já em dificuldades por diferentes motivos, entre os quais a política cambial, a grande produtora de barrilha brasileira, Cia. Nacional de Álcalis (em Cabo Frio), passou a ser pressionada pela concorrência, inclusive no mercado interno, da barrilha americana. Agrupados sob o nome de Ansac, os produtores americanos adotaram práticas de dumping, o preço lá embaixo, propostas de fornecimento com várias vantagens inusuais.
A Cia. de Álcalis conseguiu, afinal, que o governo examinasse o problema. A decisão, adotada em reunião interministerial há cerca de três anos, foi quase por unanimidade. Um só ministro opinou diferentemente. Opinou em defesa da Álcalis. O trabalho, dentro do governo, em favor do dumping contra o produtor brasileiro, foi de Eduardo Jorge Caldas Pereira. Lobista, nesse e muitos outros casos, do representante da Ansac, Arthur Falk. O mesmo do estourado Papa-Tudo, do estourado Banco InterUnion e de outros estouros.
Também na Europa a Ansac adotou práticas de dumping. Como por lá não há um Eduardo Jorge com a cobertura da Presidência, a Ansac tomou um processo que lhe custou multas gigantescas e o fim de suas operações.
Só quem fechou os olhos não viu, no governo, a desenvoltura lobista e negocista de Eduardo Jorge. E como ninguém, em governo algum, fecha os olhos, os ares de incredulidade ou inocência que se mostram agora são, todos, produtos de ocasião e descartáveis. Tenham a forma de declarações ou de artigos com aparências jornalísticas.


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