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JANIO DE FREITAS
O autor de decisões
O medo que o governo tem de
uma CPI é justificado. Os caminhos de uma CPI são políticos,
e a política é fluida, os seus fatos
podem escorrer entre os dedos, incontroláveis. As investigações de
procuradores da República costumam ser muito mais perigosas,
porém mais sujeitas às artes e
marotagens do poder para dificultá-las ou impedi-las. Há anos o
Banco Central, por exemplo, está
devendo o movimento bancário
da Incal pedido pela Procuradoria da República em São Paulo -
que foi a verdadeira origem das
descobertas de falcatruas envolvendo Nicolau dos Santos Neto,
Luiz Estevão, Eduardo Jorge Caldas e agora chegando à Presidência.
O medo, digamos, técnico é engrossado por outro não menos
ameaçador e talvez ainda mais
incontrolável. É muito grande a
probabilidade de que um caso puxe outro, em qualquer investigação do uso da Presidência por
Eduardo Caldas. Ninguém sabe,
a não ser o próprio, quantas improbidades realizou o então secretário-geral da Presidência,
mas vem de longe o conhecimento de que sua audácia de lobista e
negocista não teve, não tem, limites.
Inúmeros casos foram conhecidos, comentados, mas não puderam tornar-se públicos porque a
tropa de choque governista é pesada (no governo mesmo, no
Congresso e, uff, na imprensa/tv).
Sem comprovações antecipadas,
toda divulgação prejudicial ao
governo, e mais ainda se tocando
a imagem virginal de Fernando
Henrique, seria esmagada pelas
contestações. Agora todos já fazem idéia, mínima embora, da
maneira como Eduardo Jorge
exerceu a Secretaria Geral da Presidência. Pode-se, então, mostrar
um caso exemplar da extensão,
temática e administrativa, com
que explorou a cobertura proporcionada por sua proximidade de
Fernando Henrique.
Já em dificuldades por diferentes motivos, entre os quais a política cambial, a grande produtora
de barrilha brasileira, Cia. Nacional de Álcalis (em Cabo Frio),
passou a ser pressionada pela
concorrência, inclusive no mercado interno, da barrilha americana. Agrupados sob o nome de Ansac, os produtores americanos
adotaram práticas de dumping, o
preço lá embaixo, propostas de
fornecimento com várias vantagens inusuais.
A Cia. de Álcalis conseguiu, afinal, que o governo examinasse o
problema. A decisão, adotada em
reunião interministerial há cerca
de três anos, foi quase por unanimidade. Um só ministro opinou
diferentemente. Opinou em defesa da Álcalis. O trabalho, dentro
do governo, em favor do dumping
contra o produtor brasileiro, foi
de Eduardo Jorge Caldas Pereira.
Lobista, nesse e muitos outros casos, do representante da Ansac,
Arthur Falk. O mesmo do estourado Papa-Tudo, do estourado
Banco InterUnion e de outros estouros.
Também na Europa a Ansac
adotou práticas de dumping. Como por lá não há um Eduardo
Jorge com a cobertura da Presidência, a Ansac tomou um processo que lhe custou multas gigantescas e o fim de suas operações.
Só quem fechou os olhos não
viu, no governo, a desenvoltura
lobista e negocista de Eduardo
Jorge. E como ninguém, em governo algum, fecha os olhos, os ares
de incredulidade ou inocência
que se mostram agora são, todos,
produtos de ocasião e descartáveis. Tenham a forma de declarações ou de artigos com aparências
jornalísticas.
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