São Paulo, domingo, 16 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Candidato mais à esquerda é opção de 26% dos eleitores contra 52% dos que afirmam escolher nome conservador

Maioria diz preferir candidato da direita

DO CONSELHO EDITORIAL

Pouco mais da metade dos brasileiros pesquisados (exatos 52%) prefere um candidato mais à direita, revela um segundo item da pesquisa do Datafolha.
Um candidato mais à esquerda teria o voto de 26%.
Nas regiões Nordeste e Norte/ Centro-Oeste, a taxa dos que preferem um candidato mais à direita atinge 58%. No Sudeste, são 28% os que preferem um candidato mais à esquerda.
Entre os Estados, o Rio é onde a taxa dos que preferem um esquerdista é mais alta, 32%. No Ceará, chega a 63% o índice dos que preferem um direitista.
Mas os números desta segunda parte da pesquisa devem ser tomado com cuidado, em primeiro lugar porque a maioria relativa não sabe dizer o que é ser de esquerda ou de direita (43% e 42%, respectivamente).
Além disso, há uma razoável confusão de conceitos, a ponto de o PC do B, o partido mais definidamente de esquerda do país (junto com o PSTU), ter sido apontado como de direita por 16% dos pesquisados e como de centro por 7% deles (leia texto na pág. A-25).
O ex-ministro tucano Luiz Carlos Bresser Pereira chega a achar que esse tipo de pergunta "é inteiramente inútil, porque uma grande parcela admite que não sabe e, os que pensam que sabem, de fato não sabem". Reforça o cientista político Bolívar Lamounier: "Quando eu lidava com esse tipo de pesquisa, frequentemente constatava que os percentuais da direita eram inflados porque as pessoas confundiam "direita" com "ser direito", ser correto".
André Singer, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo), que acaba de publicar um livro intitulado exatamente "Esquerda e Direita no Eleitorado Brasileiro", pela Edusp, é bem menos desconfiado desse tipo de pesquisa.
"As pessoas podem não saber verbalizar, mas sabem mais ou menos localizar onde estão e onde está o seu candidato", diz o professor da USP.
Se de fato os brasileiros sabem onde estão, estão mais à direita. Dos pesquisados, 37% se colocam à direita do centro, distribuídos entre 18% na extrema-direita, 8% na direita e 11% na centro-direita.
À esquerda, ficam 27%: 11% consideram-se de extrema-esquerda, 6% de esquerda e 10% de centro-esquerda.
Centristas puros são 16% dos pesquisados, enquanto os restantes 19% não souberam responder.
Entre os que estudaram até o primeiro grau, 41% se alinham mais à direita. Essa taxa cai para 33% entre os que estudaram até o segundo grau e para 27% entre os que têm nível superior.
Outra vez, o Rio é o Estado com a maior taxa dos que se dizem à esquerda (32%) e o Ceará o de maior índice dos que se posicionam à direita (46%).
A confusão de conceitos ressurge quando se pede aos entrevistados que digam o que é ser de esquerda. A opção com maior número de votos (14%) foi "ser contra o governo/não apoiar/votar contra o governo".
É óbvio que, se o governo for de esquerda, ser contra ele não coloca ninguém à esquerda. Mas, no caso específico do Brasil, há uma certa lógica na resposta: como não houve, a rigor, nenhum governo (federal) de esquerda, parece natural que a oposição seja identificada com a esquerda.


Colaborou a Redação



Texto Anterior: PFL é recordista em número de escândalos
Próximo Texto: Ideologia pesa na hora do voto
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.