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MÁQUINA PÚBLICA
Projetos como o Primeiro Emprego receberam poucos recursos no ano
Lula gastou menos de 10% do previsto com prioridades
RANIER BRAGON
JULIA DUAILIBI
GUILHERME BAHIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal gastou pouco
dinheiro, no primeiro semestre,
com programas que considera
prioritários. Uma análise da execução orçamentária mostra que
quase 40% dos 340 programas tiveram, no seis primeiros meses
do ano, gasto inferior a 10% do total reservado a eles para 2004.
O governo havia executado até
anteontem 36% dos recursos autorizados para os programas, tocados por vários ministérios. Iniciativas tidas como prioritárias
não receberam recursos no primeiro semestre, de acordo com
dados do Siafi (sistema de acompanhamento dos gastos federais).
É o caso do Primeiro Emprego,
que, apesar de ter dotação orçamentária de R$ 189 milhões para
2004, possui registro no Siafi de
apenas R$ 442 mil de gasto (0,2%
do previsto). Neste ano, o programa funcionou quase que só com
dinheiro do Orçamento de 2003
-R$ 42,5 milhões em consórcios
assinados no final daquele ano.
Áreas consideradas sensíveis
pelo governo, como segurança
pública, reforma agrária e transportes, também tiveram casos de
execução orçamentária baixa. O
Programa de Desenvolvimento
Sustentável na Reforma Agrária
gastou apenas 8,6% dos R$ 209
milhões previstos. O de Manutenção da Malha Rodoviária Federal
teve 4,6% da dotação orçamentária de R$ 957 milhões executada.
A Modernização do Sistema Penitenciário Nacional consumiu
também só R$ 10,6 milhões dos
R$ 202 milhões reservados, o que
dá 5%. Esse montante representa
pouco mais de um décimo do que
já foi gasto pelo programa Recursos Pesqueiros Sustentáveis, do
Ministério do Meio Ambiente. O
Brasil Alfabetizado executou apenas 1,8% de seus recursos -segundo o governo, isso ocorre porque as turmas deste ano do programa só começam em agosto.
Os 340 programas têm recursos
previstos de R$ 132 bilhões para
2004. O Orçamento da União
aprovado para este ano, excluídos
os gastos com juros, rolagem da
dívida e transferências para Estados e municípios, é de R$ 308 bilhões. Desse total, R$ 155 bilhões
são gastos previdenciários.
A economia prevista pelo governo para pagar juros, o chamado superávit primário, deverá ser
de R$ 57 bilhões neste ano.
Menos de 1% gasto
O Siafi mostra ainda que 44 programas (13%) tiveram execução
menor do que 1% do valor reservado. Os que tiveram execução
menor que 10% são 132 (39% do
total). Só oito dos 340 programas
tiveram execução maior do que
50%, entre eles o Bolsa-Família,
com 50,2%, e o de Erradicação do
Trabalho Infantil, com 66%.
Os ministérios ouvidos pela Folha deram justificativas variadas
para cada caso, mas um argumento recorrente foi o de que a execução orçamentária é, tradicionalmente, mais tímida no primeiro
semestre, tendendo a deslanchar
no final do ano.
Em fevereiro último, o governo
contingenciou (congelou) R$ 6
bilhões do Orçamento, sendo metade investimento e metade custeio. Até agora, R$ 2 bilhões desse
total foram descontingenciados.
No caso do Ministério da Defesa, o programa Reaparelhamento
e Adequação do Exército Brasileiro também quase não saiu do papel, segundo o Siafi. Dos R$ 95
milhões, só 1,2% foi executado, o
que dá cerca de R$ 1,2 milhão.
Na área de Saúde, programas
como o Gestão do Trabalho no
SUS e o Atenção Integral à Saúde
da Mulher ainda não tiveram um
centavo gasto neste ano. O de Vigilância, Prevenção e Controle da
Malária e da Dengue resultou até
o último dia 7 em gasto de R$ 7,3
milhões dos R$ 70 milhões da dotação orçamentária autorizada.
Levando em consideração as
verbas gastas só com investimentos, o índice de execução neste
ano é ainda mais baixo. No primeiro semestre, o governo liqüidou apenas 5,57% dos R$ 12,5 bilhões de investimentos previstos,
num total de R$ 698,7 milhões.
Isso ocorre porque esses são
exatamente os recursos sobre os
quais o governo tem como atrasar
a liberação, o que não acontece,
por exemplo, com as despesas
com pessoal ou com pagamento
de aposentadorias e pensões.
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