São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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RETÓRICA

Ministro diz que, com taxa alta, é mais vantajoso aplicar do que investir na produção e critica o BNDES do governo FHC

Dirceu afirma que juros retêm recursos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) disse ontem que a demanda no país está "reprimida" e que os recursos estão "entesourados" em razão das altas taxas de juros.
"O investimento é muito baixo no Brasil comparado com aquilo que o país necessita. Para aumentar o investimento, nós precisamos tirar os recursos que a sociedade tem entesourados, rendendo juros aplicados em títulos do governo, indiretamente", afirmou o ministro, durante visita à 1ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em Brasília.
Embora usualmente o termo "entesourar" signifique guardar o dinheiro fora do sistema financeiro, Dirceu referia-se ao fato de que, com a taxa de juros em 16% ao ano, acaba sendo mais vantajoso aplicar em títulos públicos em vez de investir na produção.
"O país precisa de mais crédito, mais financiamento e juros menores. As famílias pagam quase um terço da sua renda em juro, impostos e tarifas públicas. A demanda do país está reprimida. A renda, além de concentrada, não cresce porque o emprego não vinha crescendo", completou.
Nos bastidores, Dirceu é um dos membros do governo que mais defende mudanças na política econômica. Apesar de ter feito um balanço positivo do governo Lula, ele voltou a criticar os juros altos e a gestão FHC, ao afirmar que, nos últimos anos, "o país ficou pobre, vendeu o que tinha e acumulou desempregados".
Segundo Dirceu, ganha-se mais se o dinheiro ficar rendendo juros do que se investir em uma empresa ou no trabalho autônomo. "É o que está ocorrendo no Brasil: Temos praticamente meio trilhão de reais rendendo juros que não vão para a produção." E completou: "Investimento no Brasil pelo sistema bancário-financeiro é inviável por causa das taxas de juros e do curto prazo do investimento".

Tempo
Ao citar os gastos com o pagamento de juros da dívida pública, Dirceu afirmou que para resolver a "equação" gastos e necessidade de investimento é necessário tempo. Ele chegou a dizer que o "tempo conspira contra nós", em referência aos quatro anos que o governo tem, em tese, para cumprir as promessas de campanha.
"E como todos nós sabemos, o tempo político social não é igual ao tempo econômico", disse. Para Dirceu, a educação é "o maior desafio". "Temos 11 milhões de jovens fora do ensino médio. Essa é talvez a agenda mais prioritária."
Antes de sua palestra, o ministro havia evitado repercutir a divulgação do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), no qual o Brasil caiu do 65º para o 72º lugar -os dados coletados referem-se à gestão FHC. "Não quero me envolver em polêmica. Meu papel é resolver problemas internos." Depois, creditou ao governo anterior a queda no ranking.
Em seu discurso, disse que o BNDES "tinha se transformado num banco comercial" e que agora "voltou a ser um banco de fomento". Afirmou ainda que "não adianta assentar 100 mil famílias se elas saem do campo" e que as 350 mil últimas assentadas não tinham acesso a água e luz.
Antes de fazer seu discurso para uma platéia formada por mais de 500 mulheres, Dirceu evitou responder a perguntas dos jornalistas: "Não falo em nome do governo. Quem fala é o ministro Aldo [Rebelo, Coordenação Política]".
O ministro terminou a palestra dizendo que o povo "é muito melhor que as elites. "É sempre o povo brasileiro que começa as lutas e muda a correlação [de forças]. Mas não é sempre ele que acaba ganhando." (JULIA DUAILIBI)

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