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RETÓRICA
Ministro diz que, com taxa alta, é mais vantajoso aplicar do que investir na produção e critica o BNDES do governo FHC
Dirceu afirma que juros retêm recursos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) disse ontem que a demanda
no país está "reprimida" e que os
recursos estão "entesourados"
em razão das altas taxas de juros.
"O investimento é muito baixo
no Brasil comparado com aquilo
que o país necessita. Para aumentar o investimento, nós precisamos tirar os recursos que a sociedade tem entesourados, rendendo juros aplicados em títulos do
governo, indiretamente", afirmou o ministro, durante visita à
1ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em Brasília.
Embora usualmente o termo
"entesourar" signifique guardar o
dinheiro fora do sistema financeiro, Dirceu referia-se ao fato de
que, com a taxa de juros em 16%
ao ano, acaba sendo mais vantajoso aplicar em títulos públicos em
vez de investir na produção.
"O país precisa de mais crédito,
mais financiamento e juros menores. As famílias pagam quase
um terço da sua renda em juro,
impostos e tarifas públicas. A demanda do país está reprimida. A
renda, além de concentrada, não
cresce porque o emprego não vinha crescendo", completou.
Nos bastidores, Dirceu é um dos
membros do governo que mais
defende mudanças na política
econômica. Apesar de ter feito
um balanço positivo do governo
Lula, ele voltou a criticar os juros
altos e a gestão FHC, ao afirmar
que, nos últimos anos, "o país ficou pobre, vendeu o que tinha e
acumulou desempregados".
Segundo Dirceu, ganha-se mais
se o dinheiro ficar rendendo juros
do que se investir em uma empresa ou no trabalho autônomo. "É o
que está ocorrendo no Brasil: Temos praticamente meio trilhão de
reais rendendo juros que não vão
para a produção." E completou:
"Investimento no Brasil pelo sistema bancário-financeiro é inviável por causa das taxas de juros e
do curto prazo do investimento".
Tempo
Ao citar os gastos com o pagamento de juros da dívida pública,
Dirceu afirmou que para resolver
a "equação" gastos e necessidade
de investimento é necessário tempo. Ele chegou a dizer que o "tempo conspira contra nós", em referência aos quatro anos que o governo tem, em tese, para cumprir
as promessas de campanha.
"E como todos nós sabemos, o
tempo político social não é igual
ao tempo econômico", disse. Para
Dirceu, a educação é "o maior desafio". "Temos 11 milhões de jovens fora do ensino médio. Essa é
talvez a agenda mais prioritária."
Antes de sua palestra, o ministro havia evitado repercutir a divulgação do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), no qual
o Brasil caiu do 65º para o 72º lugar -os dados coletados referem-se à gestão FHC. "Não quero
me envolver em polêmica. Meu
papel é resolver problemas internos." Depois, creditou ao governo
anterior a queda no ranking.
Em seu discurso, disse que o
BNDES "tinha se transformado
num banco comercial" e que agora "voltou a ser um banco de fomento". Afirmou ainda que "não
adianta assentar 100 mil famílias
se elas saem do campo" e que as
350 mil últimas assentadas não tinham acesso a água e luz.
Antes de fazer seu discurso para
uma platéia formada por mais de
500 mulheres, Dirceu evitou responder a perguntas dos jornalistas: "Não falo em nome do governo. Quem fala é o ministro Aldo
[Rebelo, Coordenação Política]".
O ministro terminou a palestra
dizendo que o povo "é muito melhor que as elites. "É sempre o povo brasileiro que começa as lutas e
muda a correlação [de forças].
Mas não é sempre ele que acaba
ganhando."
(JULIA DUAILIBI)
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