São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ MALA SUSPEITA

Segundo ex-assessor do BNB, deputado alegou "razões de Estado" para convencê-lo a mentir que era dono dos R$ 437 mil apreendidos

Petista pediu que eu bancasse mala, diz Moura

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O ex-assessor do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Kennedy Moura disse ontem que o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE) tentou persuadi-lo a assumir a versão de que era dono do dinheiro encontrado com o petista José Adalberto Vieira, preso na última sexta-feira em São Paulo com R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 mil na cueca.
Moura, exonerado do banco depois de ter seu nome envolvido no caso, é amigo de Guimarães e de Adalberto, mas, segundo disse, rejeitou a proposta e não tem nenhuma relação com o dinheiro. O pedido do deputado, que é irmão do ex-presidente do PT José Genoino, para proteger seu ex-assessor Adalberto, foi por "questões de Estado", segundo disse Moura.
Em entrevista para a Folha, Moura disse que recebeu um telefonema de Adalberto logo que foi detido pela Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Em seguida, ligou para Guimarães, que perguntou se Adalberto havia falado alguma coisa. "Eu disse: "que eu saiba, não". O deputado então disse: "graças a Deus'", afirmou.

"Razões de Estado"
No sábado, Guimarães exigiu, segundo ele, que viajasse de Fortaleza a São Paulo imediatamente para conversarem sobre a prisão de Adalberto. O então assessor do BNB disse que pegou um vôo na madrugada de domingo e que foi recebido no aeroporto pelo próprio Guimarães. No café da manhã, em um hotel Parthenon, o deputado então perguntou se ele aceitaria assumir ser o dono do dinheiro, por "razões de Estado".
"Eu aprendi, na minha militância política, não perguntar quais as razões de Estado, porque, uma vez que você sabe o que são, uma hora fala. É melhor não saber", disse. Moura afirmou que repudiou a idéia, mas que Guimarães insistiu, dizendo que era uma situação muito grave. "Disse a ele que tenho uma reputação a zelar e que não faria isso".
Guimarães surgiu na quarta-feira com a versão de que seu ex-assessor tinha aberto uma empresa de locação de veículos com outro funcionário de seu gabinete, José Vicente Ferreira. Este, por sua vez, disse que Adalberto afirmara que iria pegar o dinheiro necessário para a empresa com um amigo, que seria Moura.
A Folha procurou Guimarães e Ferreira ontem durante todo o dia, mas os dois permaneceram com os telefones desligados e não responderam aos recados.
O ex-assessor do BNB afirmou à reportagem ter um rendimento anual, com a mulher, de pouco mais de R$ 400 mil e que não teria disponível para emprestar, "em hipótese alguma", o dinheiro apreendido com Adalberto.
Ele afirmou também que poderá abrir todos os seus sigilos numa possível investigação.


Colaborou CHICO DE GOIS, Enviado Especial a Brasília


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