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ANÁLISE
Reforma
resume-se a
punir amigos
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
A reforma ministerial tão
anunciada, e adiada para hoje,
resumia-se ontem a um grande
espetáculo de informações desencontradas on line e ao afastamento de amigos pessoais do
presidente Fernando Henrique
Cardoso, punidos exatamente
por serem amigos e, portanto,
passíveis de demissão sem reclamações fortes.
É o caso de Celso Lafer, ao
que parece ex-ministro do Desenvolvimento, e, ao que tudo
indica, de Luiz Carlos Bresser
Pereira (Ciência e Tecnologia).
Além de amigos, os dois têm
uma segunda característica em
comum: baixo teor de respaldo
interno em seu próprio partido, o PSDB, o que reforça a comodidade em dispensá-los.
Se o objetivo da reforma era o
de mostrar autoridade e passar
a imagem de que o presidente
já não pretenderia submeter-se
à ditadura dos partidos que
formam sua base de sustentação parlamentar, o fracasso será total, se limitada ao que se
sabia ontem.
Fracasso que começou no
episódio de "nomeação" pela
TV e on line do advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira
para o Ministério da Justiça,
apenas para o governo submeter-se ao constrangimento de
ver o convite ser recusado,
igualmente on line.
Com isso, ficou vago o Ministério da Justiça, já que seu ocupante, Renan Calheiros, despediu-se do posto, ainda por cima afirmando que jamais teve
"apego a cargos".
Mas os amigos do presidente
não perderam tudo. Além de
José Serra e Paulo Renato Souza permanecerem onde estavam, Clóvis Carvalho passaria
da Casa Civil para o Desenvolvimento. Posto de outra forma:
o presidente trocou um intelectual amigo por um burocrata
amigo, sem que o intelectual tivesse tido tempo para transformar o nome de sua pasta (Desenvolvimento) no mote principal do segundo mandato, ao
contrário do que esperavam
políticos do PSDB e muitos
empresários.
É pouco razoável imaginar
que onde fracassou (por falta
de tempo ou de vocação) o intelectual, vá dar certo o burocrata, até porque Clóvis Carvalho, em seus quatro anos na
Casa Civil, tornara-se virtual
unanimidade: a maioria dos
integrantes do governo mais
aliados como Tasso Jereissati,
governador do Ceará, não poupam críticas a Carvalho.
Com as presumíveis nomeações para a Agricultura (de
Marcus Vinícius Pratini de
Moraes) e para Ciência e Tecnologia (de Luiz Bittencourt ou
Euler Morais), FHC exuma nomes de dois esquemas políticos
colocados sob suspeição.
Pratini foi ministro de Minas
e Energia no governo Collor,
depois de ter servido ao regime
militar. Euler e Bittencourt pertencem ao grupo político do senador Íris Resende (PMDB-GO), acusado de uso irregular
de fundos durante a campanha
eleitoral do ano passado.
Na véspera da reforma, o ministro Pimenta da Veiga (mantido nas Comunicações e, aparentemente, na coordenação
política) dizia que "o presidente está montando o quebra-cabeça (do ministério) com liberdade de ação". Ou seja, não estaria sendo submetido à pressão dos partidos.
Pode ser, mas o resultado dificilmente será lido dessa forma. Primeiro, porque as mudanças até aqui conhecidas são
tão pouco significativas que
PSDB e PFL nada perderam, e,
segundo, porque o PMDB, que
perdeu a Justiça, ganharia
Ciência e Tecnologia e o recriado Ministério do Interior, talvez para Fernando Bezerra.
Igualmente na véspera da
mudança, o governador Mário
Covas (SP), uma das principais
lideranças tucanas, dizia que a
reforma deveria ter como eixo
a indicação do que o governo
pretende com a reforma. A resposta não veio nem remotamente, pelo menos ontem.
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