São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999
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JANIO DE FREITAS
As regras da mexida

Agora já se sabe de quem era a culpa pelo desemprego, pela recessão, pela falta de comando presidencial: Renan Calheiros, Celso Lafer, Francisco Turra, submetidos publicamente ao exorcismo que Fernando Henrique Cardoso disfarçou sob o apelido de reforma ministerial.
Agora o governador Mário Covas já sabe quem manda no governo: é mesmo Antonio Carlos Magalhães, que não abriu mão dos seus dois ministérios e ainda fica com a Ford na Bahia. Para tanto, a Fazenda e a Receita estão produzindo os devidos malabarismos financeiros e tarifários.
Mas exorcismo não requer leviandade, seja nas relações pessoais ou na pretensa organização de governo. E as duas foram o principal meio utilizado para a mexida. No primeiro caso, o que foi feito com Celso Lafer não cabe no vocabulário jornalístico. Só uma carência muito grave levaria alguém a assegurar a uma pessoa respeitável, como Lafer, sua permanência no governo e, uma semana depois, fazê-lo saber pelos jornais que está despejado.
Lafer e o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Bolívar Moura Rocha, vinham fazendo trabalho lúcido e competente. Como são pessoas sérias, não se entregaram ao oba-oba que interessa a Presidência e obtém espaço ilusório nos jornais, do que é um provão definitivo o ministro dito da Educação, Paulo Renato Souza. A recusa de Lafer a oferta de outro ministério e a demissão da sua equipe, para a qual agora mesmo fazia nomeações, são gestos incompreensíveis na Presidência: são gestos de caráter, altivos.
Renan Calheiros não foi demitido, foi punido. Praticou dois feitos corretos e incompatíveis com as subserviências presidenciais. Primeiro: sustentou as multas legais motivadas pelos apagões, contrariando a Aneel, a agência criada pelo governo para o setor elétrico privatizado. O outro: ainda que apenas repelisse uma intromissão burocrática do Gabinete Militar da Presidência, embaraçou a retomada da Polícia Federal pelo remanescente do esquema militar de repressão.
Nada, a não ser a irresponsabilidade, explica o afogadilho sem motivo a que se entregaram Fernando Henrique e seu grupo palaciano, para arrumar os nomes da mexida. De um ministério feito em cima da perna já se sabe o que não esperar.


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