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JANIO DE FREITAS
As regras da mexida
Agora já se sabe de quem era
a culpa pelo desemprego, pela
recessão, pela falta de comando presidencial: Renan Calheiros, Celso Lafer, Francisco Turra, submetidos publicamente
ao exorcismo que Fernando
Henrique Cardoso disfarçou
sob o apelido de reforma ministerial.
Agora o governador Mário
Covas já sabe quem manda no
governo: é mesmo Antonio
Carlos Magalhães, que não
abriu mão dos seus dois ministérios e ainda fica com a Ford
na Bahia. Para tanto, a Fazenda e a Receita estão produzindo os devidos malabarismos financeiros e tarifários.
Mas exorcismo não requer
leviandade, seja nas relações
pessoais ou na pretensa organização de governo. E as duas
foram o principal meio utilizado para a mexida. No primeiro
caso, o que foi feito com Celso
Lafer não cabe no vocabulário
jornalístico. Só uma carência
muito grave levaria alguém a
assegurar a uma pessoa respeitável, como Lafer, sua permanência no governo e, uma semana depois, fazê-lo saber pelos jornais que está despejado.
Lafer e o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Bolívar Moura Rocha, vinham fazendo trabalho
lúcido e competente. Como são
pessoas sérias, não se entregaram ao oba-oba que interessa
a Presidência e obtém espaço
ilusório nos jornais, do que é
um provão definitivo o ministro dito da Educação, Paulo
Renato Souza. A recusa de Lafer a oferta de outro ministério
e a demissão da sua equipe,
para a qual agora mesmo fazia nomeações, são gestos incompreensíveis na Presidência: são gestos de caráter, altivos.
Renan Calheiros não foi demitido, foi punido. Praticou
dois feitos corretos e incompatíveis com as subserviências
presidenciais. Primeiro: sustentou as multas legais motivadas pelos apagões, contrariando a Aneel, a agência criada pelo governo para o setor
elétrico privatizado. O outro:
ainda que apenas repelisse
uma intromissão burocrática
do Gabinete Militar da Presidência, embaraçou a retomada da Polícia Federal pelo remanescente do esquema militar de repressão.
Nada, a não ser a irresponsabilidade, explica o afogadilho
sem motivo a que se entregaram Fernando Henrique e seu
grupo palaciano, para arrumar os nomes da mexida. De
um ministério feito em cima
da perna já se sabe o que não
esperar.
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