São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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CHOQUE DE PRESIDENTES

Tucano comenta declarações do sucessor a senadores e diz que se tem algo errado "ele tem de investigar"

FHC vê risco de retrocesso no social com Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ver risco de "retrocesso" na política social, se o governo Luiz Inácio Lula da Silva não corrigir falhas no Bolsa-Família, e que o sucessor "aprofunda" a política econômica deixada. "Faz superávit primário maior e acabou de elevar os juros para tentar combater a inflação."
Em conversa por telefone ontem com a Folha, FHC disse que Lula "tira mérito dele mesmo, apequena-se" por ter dito em jantar com senadores na última segunda-feira que o tucano fizera a transição entre seus governos pelo interesse de não ver supostos erros seus investigados depois.
"Se houve algo errado, ela tem a obrigação de investigar. Do contrário, é, no mínimo, um erro." A transição, disse, foi "planejada". Argumenta que um decreto seu em janeiro de 2002 já previa o formato, "qualquer que fosse o vencedor [da eleição daquele ano]".
Avaliou que há "má informação" baseando declarações de Lula. Citou como exemplo a afirmação do petista de que sua política externa é melhor por ter recorrido à OMC (Organização Mundial do Comércio). "Falta informação ao presidente. Sempre recorremos à OMC. As conquistas que saíram agora, no café, no açúcar, foram frutos dessas ações", disse FHC.
Indagado sobre a admissão do governo de que não controla a freqüência dos alunos beneficiados pelo Bolsa-Família, afirmou estar "preocupado". "Não vou prejulgá-lo antes de terminar o governo, como o PT fez comigo. Acho, porém, que o Bolsa-Escola, que deu origem ao Bolsa-Família, é um avanço em termos de política social. Se não houver correções, há risco de um retrocesso numa conquista que não é só de um governo, mas de toda a sociedade."
Quanto ao incômodo de Lula ao ler artigos seus na imprensa, disse: "Ele se incomoda com pouco".
No jantar na segunda, Lula fez mais críticas do que elogios ao antecessor. Sobre o comentário de que sua gestão foi boa nos dois primeiros anos e, depois, só se concentrou na reeleição, FHC afirmou: "Pena que ele não tenha feito os elogios naquela época. Vivi crises seguidas no governo e tomei medidas para combatê-las".
O tucano disse ter deixado o país em estágio melhor do que encontrou e que permitiria avanços.


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