São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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MÍDIA

Secretaria de Luiz Gushiken diz que jornalista adulterou frase atribuída ao ministro

Secom pede desculpas por deturpar declaração de Gil

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica) pediu ontem formalmente desculpas aos leitores do boletim eletrônico "Em Questão" pelo "grave erro de edição" contido no texto de entrevista com o ministro da Cultura, Gilberto Gil. A secretaria trata o tema como um "lamentável acontecimento".
O boletim trouxe declaração em que o ministro da Cultura diz que a criação da Ancinav (Agência Nacional de Cinema e Audiovisual) beneficia a sociedade porque a livra do "fascismo das grandes corporações da mídia".
Em seu pedido de desculpas, a Secom diz: "Por um grave erro de edição, declarações do ministro Gilberto Gil realizadas em outro contexto foram incorporadas à entrevista publicada nesta edição do boletim "Em Questão'".
A seguir, a secretaria do ministro Luiz Gushiken assume a responsabilidade pelo erro. "A Secom esclarece que a edição equivocada é de sua inteira responsabilidade, pede desculpas ao ministro Gilberto Gil pelo constrangimento e aos leitores e à opinião pública por este lamentável acontecimento." Após o esclarecimento, segue uma versão corrigida da entrevista, concedida na casa do ministro em 7 de setembro.
Numa primeira versão do boletim, veiculado no último final de semana, há uma frase de Gil, que, segundo a secretaria, foi adulterada e incluída no texto. A resposta deturpada aparece em meio à discussão sobre quem se beneficiará com a Ancinav: "Sem dúvida, a sociedade, que terá seus valores fundamentais assegurados. Seus setores estratégicos estarão mais livres do fascismo das grandes corporações da mídia. Queremos contemplar a riqueza, a complexidade, o dinamismo da sociedade, mas sem imposições, apenas com diretrizes".
Na nova versão do boletim (www.brasil.gov.br/emquestao/), divulgada ontem, a frase desaparece. A Secom afirma que a resposta de Gil deturpada foi extraída de outra declaração do ministro feita no dia 10 de agosto, durante palestra sobre cultura digital e desenvolvimento, na USP.
Na ocasião, Gil falou em alguns "fascismos", sendo um deles em relação à "mídia": "A sociedade precisa de instrumentos tanto legais quanto legítimos para se defender de todo e qualquer fascismo. Falo, por exemplo, do fascismo da exclusão social, do fascismo do obscurantismo, do fascismo da hegemonia de uma cultura, e de seus bens, serviços e valores culturais, sobre as demais culturas que compõem o grande patrimônio comum da humanidade. Falo também do fascismo do Estado, do fascismo das grandes corporações e do fascismo da mídia, fascismos igualmente perigosos, igualmente autoritários, igualmente "istas" e "antes", porque amparados num poder desmedido, incomensurável, que se afirma sobre a sociedade e a democracia".
O boletim "Em Questão", de acordo com a Secom, "traz notícias sobre o que está sendo feito pelo governo federal e o porquê". O ministro Luiz Gushiken é um dos defensores do projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo, que pretende regulamentar e disciplinar a atividade jornalística no país.


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