São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

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JANIO DE FREITAS

O mundo dos cassinos


O movimento de especulação financeira se alimenta dos ambientes de desalento ou de euforia que dissemina

O CONSENSO mundial de que é preciso, nas palavras do primeiro-ministro britânico, "criar uma regulamentação global para o sistema financeiro e reformar instituições supranacionais desatualizadas, como o FMI", incorre em limitação muito suspeita diante do que a crise mais evidencia.
O foco de fogo pode ser, como na atual crise, parte da rede bancária dos Estados Unidos, mas o que em todo abalo o irradia pelo mundo, com a espiral de reflexos e insegurança que castiga as outras atividades e o bolso de cada um, é o cassino das Bolsas. Apesar disso, a certeza de que "o mundo tem que mudar e vai mudar depois da crise" não inclui o "efeito Bolsa".
No começo da semana, a pretexto da confiança no plano anticrise esboçado pelos europeus, as Bolsas tiveram altas espetaculares mundo afora. Desabaram ontem para as profundezas do vermelho, desde que acordaram. As duas "explicações" mais difundidas: "a notícia de que os supermercados nos Estados Unidos estão vendendo menos 10%" e "a queda de preços internacionais dos minérios".
Logo, os países que mais importam do que exportam (se exportam) minérios, e que são a grande maioria dos industrializados, deveriam ter Bolsas em bela alta, dada a perspectiva de maiores lucros industriais e comerciais com as matérias-primas barateadas. A queda de consumo nos Estados Unidos, indicativa de retração ou "já recessão", não ocorreu de um dia para o outro, nem era ignorada nos dias em que a Bolsa de Nova York saiu-se bem. A queda de consumo nos Estados Unidos é, há meses, notícia diária por lá. E às vezes da forma mais chocante, como o fechamento de fábricas da General Motors e os boatos (?) de falências em setores capitais.
Faltou uma explicação dos especialistas. É o jogo profissional de venda quando há alta, para fazer lucro, das ações compradas nos dias de baixa. Mesmo que a compra tenha sido pouco antes. Movimento de especulação financeira que equipara as Bolsas a cassinos favorecidos pelos governos (no Brasil, o assalariado paga mais imposto do que o especulador de Bolsa).
Esse movimento precisa de pretextos, tanto para fazer as baixas como para puxar as altas. E se alimenta dos ambientes de insegurança ou desalento e de alívio ou euforia que dissemina. Mais modestamente, em um país; mais como característica maior da globalização, sem fronteiras, pelo mundo todo. Esta força que determina o estado do planeta não figura, no entanto, nas suposições de reformas. Embora devesse ser o ponto de partida.

Mãos alheias
Sob o aspecto apenas político, o mais grave por parte de Marta Suplicy, a propósito da grosseria com Gilberto Kassab, está na alegação de que "a decisão está nas mãos do marqueteiro, eu nem ouvi, as pessoas é que me contaram".
Ou não é verdade, o que seria muito grave para Marta; ou é verdade, e não há como justificar a irresponsabilidade da candidata que deixe sua voz e sua cabeça por conta do marqueteiro, sem nem sequer interessar-se por saber o que João Santana lhe pespega, se real ou não, se positivo ou não, se respeitável ou não.
Falta de tempo é explicação fácil e falsa. Até no final de noite -digamos, antes de relaxar-, os programas podem ser examinados, em seus poucos minutos mais significativos.
Quanto à grosseria em si, basta lembrar que o tão aplaudido prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, consagrado pelo desempenho inovador, é homossexual declarado. Referência que nada tem a ver com Gilberto Kassab, apenas supre a provável falta, para Marta, do seu disponível auxílio dito franco-argentino (não confundir com argentino franco).


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