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Investigação no Estado foi ampliada há dois meses
do enviado especial
A mudança no comando do Ministério Público Estadual ocorrida há dois meses está promovendo mudanças na apuração dos
crimes de morte tidos como insolúveis no Acre, muitos deles atribuídos ao esquadrão da morte supostamente liderado pelo ex-deputado Hildebrando Pascoal. Pelo menos 35 casos ocorridos nos
últimos quatro anos estão sendo
agora reabertos e investigados.
Até setembro, o órgão era comandado pela procuradora Vanda Denir Milani Nogueira, cunhada de Hildebrando (casada há 25
anos com seu irmão Silas Pascoal). Vanda comandou o Ministério Público por dois anos até
perder as eleições. Por duas ocasiões nos últimos 15 anos, ela foi
subprocuradora-geral do Estado,
segundo cargo na hierarquia.
O atual procurador-geral, Edmar Azevedo Monteiro Filho, 47,
eleito em setembro, está concluindo uma denúncia que irá
apresentar contra sua antecessora
em aproximadamente 20 dias no
Tribunal de Justiça do Estado.
Monteiro Filho tem em mãos
dois interrogatórios que afirmam
que Vanda, uma semana antes de
a CPI do Narcotráfico estar em
Rio Branco, no começo de setembro, tentou convencer uma testemunha (que poderia depor) a
mentir aos deputados federais e
também a acusá-los de tentar lhe
oferecer dinheiro para que ele incriminasse Hildebrando.
A Folha obteve um desses interrogatórios prestados ao delegado
Jones Leite, da Polícia Federal,
responsável no Acre pela apuração do crime organizado, obtido
de Belino Barroso Carvalho, o
"Caniço", diante de três procuradores, no dia 1º de novembro.
Nele, "Caniço" acusa a procuradora, o marido dela, o ex-deputado e o seu braço direito, Alex Fernandes Barros, de intimidá-lo para que acusasse três deputados de
tentativa de suborno.
"Caniço" disse ainda que Vanda
esteve na casa de Hildebrando,
onde foi feito esse acerto, e que ela
disse a ele que poderia fazer a acusação contra a CPI "pois ele não
iria se arrepender nem ser preso".
Segundo "Caniço", Hildebrando queria levá-lo a Brasília para
depor a seu favor no caso da cassação, mas desistiu ao descobrir
que ele era acusado de homicídio.
Com medo, "Caniço" disse ao delegado e aos procuradores que no
dia prometeu à família Pascoal fazer sua parte no trato, mas, em vez
disso, passou a se esconder.
"Nós abrimos um procedimento e estamos apurando o envolvimento dela nesse caso. É muito
grave tentar tumultuar os trabalhos de uma CPI e criar fatos para
acusar deputados", disse Monteiro Filho. Ele espera ainda ouvir
outras duas testemunhas.
Procurada na sexta-feira à tarde, Vanda confirmou o encontro
com "Caniço", mas disse que "seria louca se tivesse conversado
nesses termos com um bandido",
que ela diz nunca ter visto antes.
Vanda disse que esteve na casa
do ex-deputado para tratar de um
problema que envolvia o então
advogado de Hildebrando, Eri
Varela, e que chegou a conversar
com "Caniço", mas não tratou do
possível depoimento dele à CPI.
"Não posso acreditar numa coisa dessas. Vem um bandido, que
todo mundo sabe que é de uma
família que mexe com drogas, e
inventa essa história. É a palavra
dele contra a de uma procuradora
de Justiça que tem 25 anos de serviços prestados, que tem uma
conduta ilibada. Nunca ninguém
teve nada para falar de mim."
Paralelamente, o procurador-geral criou um grupo especial de
trabalho formado por 12 promotores para investigar vários casos
que ele diz ter encontrado "literalmente engavetados".
Pelo menos um auto de investigação, que, segundo ele, estava
"jogado num armário", envolvia
o ex-deputado Hildebrando e um
primo (Aureliano Pascoal) num
caso de sequestro e cárcere privado de uma mulher. O caso não teve o prosseguimento necessário
que deveria ter sido dado, numa
espécie de "esquecimento".
"Estamos agora pagando uma
dívida histórica com a sociedade
acreana, de pelo menos três anos
de omissão e de silêncio", afirmou à Folha a promotora Patrícia
Rego, 30, uma das mais combativas do grupo especial, que apresentou à Justiça três denúncias
dos crimes tidos como insolúveis,
envolvendo 11 pessoas, das quais
apenas uma -por ter imunidade
parlamentar- não foi presa.
Vanda também rebateu essas
acusações. "Tenho um nome a zelar." Disse ainda que não fazia
acusações, mas que a responsabilidade dos 35 inquéritos parados
não era dela, mas dos promotores
"que tinham a obrigação de apurar", citando Patrícia entre eles.
Patrícia, que foi ameaçada de
morte pelo esquadrão há dois
anos quando tentava dar curso às
investigações do sequestro, afirmou à Folha que na época faltou
"apoio institucional" do Ministério Público Estadual, como garantias de segurança à vida dela.
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