|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUDICIÁRIO
Senador apontará o ex-presidente do TRT como mentor de desvio de verba
Nicolau será acusado em relatório
FLÁVIA DE LEON
da Sucursal de Brasília
O ex-presidente do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São
Paulo Nicolau dos Santos Neto será acusado de ter praticado corrupção passiva, falsidade ideológica, evasão de divisas e formação
de quadrilha no relatório do senador Paulo Souto (PFL-BA) sobre
as irregularidades cometidas na
construção do Fórum Trabalhista
de São Paulo.
Santos Neto será apontado como o mentor da falcatrua que
desviou R$ 169 milhões dos cofres
públicos. Foi ele quem quis construir o fórum, quem promoveu a
licitação, quem se empenhou pela
liberação de verbas e quem comandou a comissão que fiscalizava a obra.
Além dele, serão indiciados
com base no Código Penal o empresário Fábio Monteiro de Barros Filho, dono das empresas responsáveis pela obra -Incal Incorporações e Ikal Construções-, seu primo José Eduardo
Ferraz, diretor das empresas, e
Délvio Buffulin, outro ex-presidente do TRT-SP.
A CPI continua fazendo suspense sobre os artigos em que será incluído o Grupo OK, de propriedade do senador Luiz Estevão
(PMDB-DF). O Grupo OK recebeu pelo menos US$ 36,6 milhões
dos cerca de US$ 150 milhões liberados para construir o fórum.
A comissão conseguiu rastrear
pouco mais da metade do dinheiro liberado. Os técnicos ainda trabalham na análise de documentos
bancários referentes ao Grupo
OK. A maioria dos cheques depositados para o grupo foi contabilizada por Monteiro de Barros como "adiantamento a fornecedor"
ou "aplicação no exterior".
Senadores que tiveram acesso
ao relatório (cuja apresentação
está marcada para amanhã) dizem que o grupo de Estevão será
apontado como um dos que tiveram participação na obra.
Segundo esses senadores, que
pediram o sigilo de seus nomes,
Souto não pedirá a cassação do
mandato de Estevão, mas apresentará evidências que abrirão caminho para que a comissão de ética do Senado seja acionada por
um outro senador ou partido.
A Folha procurou Estevão em
sua casa ontem à tarde e deixou
recado. Ele não procurou a reportagem para se pronunciar até o fechamento desta edição.
Durante a investigação sobre as
irregularidades cometidas na
obra, iniciada em abril último e
que continuava até ontem, a CPI
descobriu que Monteiro de Barros pagava até mesmo contas pessoais de Santos Neto, além de ter
participado ativamente da compra do apartamento que o juiz
aposentado mantém em Miami,
adquirido por US$ 800 mil oriundos do desvio.
Monteiro de Barros será acusado, entre outros crimes, de corrupção ativa, para o qual está prevista pena de um a oito anos de
prisão e multa. Foi ele quem comandou a distribuição do dinheiro desviado, que era depositado
em favor da Incal Incorporações
-a chamada conta-mãe.
Além de ter usado parte do dinheiro para capitalizar outras empresas de seu grupo, Monteiro de
Barros depositou recursos do fórum em sua conta pessoal. Mais
de US$ 2 milhões foram encontrados em sua conta particular.
Na conta de seu primo José
Eduardo Ferraz, a CPI também
encontrou depósitos vultosos. Na
última contabilidade a que a Folha teve acesso, Ferraz havia recebido quase US$ 1 milhão.
Já Buffulin será incluído como o
juiz que facilitou a continuação
das irregularidades. Em seu depoimento, Buffulin afirmou que
seguiu ordens de Santos Neto,
pois não entendia de obras.
Texto Anterior: Parentes já estão presos Próximo Texto: Cúpula da polícia do Rio vive nova crise Índice
|