São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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Renan decide deixar presidência do Senado

Peemedebista quer abdicar do cargo depois que o processo que pede cassação de seu mandato seja votado no plenário

O senador vai a julgamento na próxima quinta-feira; Tião Viana (PT), presidente interino, terá de convocar eleição em até cinco dias

JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA

Renan Calheiros (PMDB-AL) informou a algumas das principais lideranças do Senado, governistas e oposicionistas, que vai renunciar à presidência da Casa. Desistiu da idéia de renovar o pedido de licença de 45 dias, que vence no próximo dia 26 de novembro. Abdicará ao comando da Casa antes dessa data. Em troca, espera preservar seu mandato. O senador vai a julgamento no plenário do Senado, pela segunda vez, na próxima quinta-feira. Gostaria de renunciar à presidência no dia seguinte, quando a absolvição já estivesse resolvida. Foi aconselhado, porém, a sair antes. Sob pena de acirrar os ânimos da oposição, receosa de que, livre da cassação, Renan atreva-se a reocupar o gabinete de presidente.
A iminência do novo julgamento provocou em Renan uma curiosa metamorfose. Antes, comparava-se ao coco: "Para tirar o coco, não basta balançar o pé que ele não cai. Quem quiser, vai ter que subir no pé e retirar o coco com as próprias mãos". Agora, soa num timbre que revela humildade inaudita. Nos diálogos que manteve nas últimas horas, Renan diz coisas assim: "Estou há três anos cumprindo esse papel [de presidente da Casa]. Chega. Se tiver oportunidade, no que me resta de mandato, vou tentar me recuperar do que sofri politicamente com esse episódio".
Alertado acerca das intenções de Renan, o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), pôs-se a preparar a sucessão interna. Em consulta que fez à assessoria da Casa, foi informado de que, confirmando-se a renúncia, terá de convocar eleições para a escolha do substituto em cinco dias.
Ou seja, se Renan renunciar até quarta-feira, véspera de seu julgamento no plenário, Tião terá de preparar a eleição para a semana seguinte. Assim, a votação da emenda da CPMF, prevista para dezembro, já ocorreria sob nova direção. Algo que fez acender a luz amarela no Palácio do Planalto. Lula e seus operadores políticos trabalham discretamente para livrar Renan da cassação.
Imagina-se que, se for cassado, ele pode causar ao governo problemas adicionais. Não teria dificuldades para arrastar meia dúzia de votos contra a CPMF. Algo que, numa votação apertada, pode significar a rejeição à prorrogação do tributo. O Planalto gostaria de ver José Sarney (PMDB-AP) no cargo. Sarney quer, mas condiciona o envolvimento na empreitada a uma unanimidade que parece inexeqüível. Parte do PSDB, à frente Arthur Virgílio, acena com a hipótese de erguer barricadas no plenário contra sua eventual candidatura.
Mesmo no PMDB, o nome de Sarney não atravessa toda a bancada. Muitos peemedebistas consideram-no personalista. Diz-se que, diferentemente de Renan, prioriza nos contatos com o governo os seus próprios interesses, em detrimento das reivindicações da bancada.
Afora Sarney, há uma penca de nomes: José Maranhão (PMDB) é o preferido de Renan. O que leva parte da oposição a rejeitá-lo. Edison Lobão (PMDB), aliado de Sarney, tenta erguer-se como espécie de terceira via. Na próxima semana, PSDB e DEM discutirão a posição a adotar. Nesse cesto há nomes como o de Pedro Simon (PMDB), para o qual o Planalto torce o nariz, e Garibaldi Alves (PMDB), mais aceitável.


Josias de Souza escreve o blog "Nos Bastidores do Poder" em www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza


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