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Renan decide deixar presidência do Senado
Peemedebista quer abdicar do cargo depois que o processo que pede cassação de seu mandato seja votado no plenário
O senador vai a julgamento na próxima quinta-feira; Tião Viana (PT), presidente interino, terá de convocar eleição em até cinco dias
JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA
Renan Calheiros (PMDB-AL) informou a algumas das
principais lideranças do Senado, governistas e oposicionistas, que vai renunciar à presidência da Casa. Desistiu da
idéia de renovar o pedido de licença de 45 dias, que vence no
próximo dia 26 de novembro.
Abdicará ao comando da Casa
antes dessa data. Em troca, espera preservar seu mandato.
O senador vai a julgamento
no plenário do Senado, pela segunda vez, na próxima quinta-feira. Gostaria de renunciar à
presidência no dia seguinte,
quando a absolvição já estivesse resolvida. Foi aconselhado,
porém, a sair antes. Sob pena de
acirrar os ânimos da oposição,
receosa de que, livre da cassação, Renan atreva-se a reocupar o gabinete de presidente.
A iminência do novo julgamento provocou em Renan
uma curiosa metamorfose. Antes, comparava-se ao coco: "Para tirar o coco, não basta balançar o pé que ele não cai. Quem
quiser, vai ter que subir no pé e
retirar o coco com as próprias
mãos". Agora, soa num timbre
que revela humildade inaudita.
Nos diálogos que manteve
nas últimas horas, Renan diz
coisas assim: "Estou há três
anos cumprindo esse papel [de
presidente da Casa]. Chega. Se
tiver oportunidade, no que me
resta de mandato, vou tentar
me recuperar do que sofri politicamente com esse episódio".
Alertado acerca das intenções de Renan, o presidente interino do Senado, Tião Viana
(PT-AC), pôs-se a preparar a
sucessão interna. Em consulta
que fez à assessoria da Casa, foi
informado de que, confirmando-se a renúncia, terá de convocar eleições para a escolha do
substituto em cinco dias.
Ou seja, se Renan renunciar
até quarta-feira, véspera de seu
julgamento no plenário, Tião
terá de preparar a eleição para a
semana seguinte. Assim, a votação da emenda da CPMF,
prevista para dezembro, já
ocorreria sob nova direção. Algo que fez acender a luz amarela no Palácio do Planalto.
Lula e seus operadores políticos trabalham discretamente
para livrar Renan da cassação.
Imagina-se que, se for cassado,
ele pode causar ao governo problemas adicionais. Não teria dificuldades para arrastar meia
dúzia de votos contra a CPMF.
Algo que, numa votação apertada, pode significar a rejeição à
prorrogação do tributo.
O Planalto gostaria de ver José Sarney (PMDB-AP) no cargo. Sarney quer, mas condiciona o envolvimento na empreitada a uma unanimidade que
parece inexeqüível. Parte do
PSDB, à frente Arthur Virgílio,
acena com a hipótese de erguer
barricadas no plenário contra
sua eventual candidatura.
Mesmo no PMDB, o nome de
Sarney não atravessa toda a
bancada. Muitos peemedebistas consideram-no personalista. Diz-se que, diferentemente
de Renan, prioriza nos contatos
com o governo os seus próprios
interesses, em detrimento das
reivindicações da bancada.
Afora Sarney, há uma penca
de nomes: José Maranhão
(PMDB) é o preferido de Renan. O que leva parte da oposição a rejeitá-lo. Edison Lobão
(PMDB), aliado de Sarney, tenta erguer-se como espécie de
terceira via. Na próxima semana, PSDB e DEM discutirão a
posição a adotar. Nesse cesto
há nomes como o de Pedro Simon (PMDB), para o qual o Planalto torce o nariz, e Garibaldi
Alves (PMDB), mais aceitável.
Josias de Souza escreve o blog
"Nos Bastidores do Poder" em www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza
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