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Opportunity diz que crise global prejudica mais que Satiagraha
Efeitos conjugados da operação da PF e da crise levam a queda do patrimônio líquido do banco de R$ 16,9 bi para R$ 12,6 bi
Quatro meses após ter sido preso e algemado pela Polícia Federal, Dantas já retomou rotina de trabalho na sede no Opportunity
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
Quatro meses após ter sido
preso e algemado pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em seu apartamento na orla
de Ipanema, zona sul do Rio, o
banqueiro Daniel Dantas retomou a rotina de trabalho que ficou conhecida entre seus pares.
Chega à sede do Opportunity, no centro do Rio, invariavelmente antes das 8h. Só deixa
o escritório depois das 21h. Aos
sábados e domingos, lê documentos e relatórios.
Depois de uma temporada de
dedicação exclusiva a assuntos
policiais e jurídicos, os temas
econômicos voltaram à orbita
-na verdade, eles se impuseram, diante da força da crise.
Na avaliação de alguns dos
executivos do Opportunity, os
estragos provocados pela crise
foram maiores do que os oriundos da Satiagraha -quando os
resgates se aproximaram dos
R$ 2 bilhões nos dias seguintes
à prisão de Dantas, em julho.
A diferença é que o maremoto global atingiu todas as instituições financeiras -o que não
tranqüiliza os gestores, mas
permite que clientes e investidores comparem performances em situações de estresse.
Até 12 de novembro, o fundo
Lógica 2, com patrimônio de
R$ 1,6 bilhão, apresentava rentabilidade negativa de 39,8% no
acumulado do ano -abaixo da
queda de 44% do Ibovespa.
Os efeitos conjugados da Satiagraha e da crise global fizeram o patrimônio líquido do
Opportunity cair de R$ 16,9 bilhões no fim de junho para os
atuais R$ 12,6 bilhões.
Mas, do ponto de vista institucional, o saldo não pode ser
considerado inteiramente negativo, segundo avaliação até
dos concorrentes, que atribuem a "resistência" do Opportunity a Dório Ferman, responsável pela gestão dos fundos.
O banco manteve a 20ª posição no ranking da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de
Investimento).
A Satiagraha também não
provocou o que os executivos
do Opportunity mais temiam:
uma debandada de jovens talentos. Afinal, além de Dantas,
outros nove dirigentes foram
indiciados por formação de
quadrilha e gestão fraudulenta.
Segundo avaliações internas,
inimigos colecionados ao longo
dos últimos 14 anos teriam
aproveitado a ofensiva para
tentar atingir o banco.
Nessa linha de argumentação, a hipótese considerada
mais provável é a de que alguns
desses adversários teriam inclusive contribuído financeiramente para a operação pilotada
por Protógenes Queiroz.
Operação gigante
Centenas de pessoas foram
monitoradas durante a investigação: empresários, doleiros,
políticos, jornalistas.
A mobilização ultrapassou os
quadros funcionais da PF: 62
agentes da Agência Brasileira
de Inteligência participaram da
ação, diz a defesa de Dantas.
Investigadores com experiência em grandes operações
não descartam a possibilidade
de ex-policiais e ex-agentes terem sido recrutados para tarefas específicas, pelas quais teriam sido remunerados proporcionalmente ao grau de dificuldade das missões.
Pelo menos um ex-agente da
Abin, Francisco Ambrósio do
Nascimento, aposentado em
1998, reconheceu em depoimento à CPI dos Grampos, no
mês passado, ter colaborado
"informalmente" com a PF.
O "elo" entre os adversários
do Opportunity e a Satiagraha
seria a necessidade de recursos
para pagar "colaboradores".
Instado a apontar quais seriam os adversários com interesses e recursos para financiar
tais "colaboradores", um executivo do Opportunity responde: os mais óbvios.
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