São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Opportunity diz que crise global prejudica mais que Satiagraha

Efeitos conjugados da operação da PF e da crise levam a queda do patrimônio líquido do banco de R$ 16,9 bi para R$ 12,6 bi

Quatro meses após ter sido preso e algemado pela Polícia Federal, Dantas já retomou rotina de trabalho na sede no Opportunity


ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

Quatro meses após ter sido preso e algemado pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em seu apartamento na orla de Ipanema, zona sul do Rio, o banqueiro Daniel Dantas retomou a rotina de trabalho que ficou conhecida entre seus pares.
Chega à sede do Opportunity, no centro do Rio, invariavelmente antes das 8h. Só deixa o escritório depois das 21h. Aos sábados e domingos, lê documentos e relatórios.
Depois de uma temporada de dedicação exclusiva a assuntos policiais e jurídicos, os temas econômicos voltaram à orbita -na verdade, eles se impuseram, diante da força da crise.
Na avaliação de alguns dos executivos do Opportunity, os estragos provocados pela crise foram maiores do que os oriundos da Satiagraha -quando os resgates se aproximaram dos R$ 2 bilhões nos dias seguintes à prisão de Dantas, em julho.
A diferença é que o maremoto global atingiu todas as instituições financeiras -o que não tranqüiliza os gestores, mas permite que clientes e investidores comparem performances em situações de estresse.
Até 12 de novembro, o fundo Lógica 2, com patrimônio de R$ 1,6 bilhão, apresentava rentabilidade negativa de 39,8% no acumulado do ano -abaixo da queda de 44% do Ibovespa.
Os efeitos conjugados da Satiagraha e da crise global fizeram o patrimônio líquido do Opportunity cair de R$ 16,9 bilhões no fim de junho para os atuais R$ 12,6 bilhões.
Mas, do ponto de vista institucional, o saldo não pode ser considerado inteiramente negativo, segundo avaliação até dos concorrentes, que atribuem a "resistência" do Opportunity a Dório Ferman, responsável pela gestão dos fundos.
O banco manteve a 20ª posição no ranking da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
A Satiagraha também não provocou o que os executivos do Opportunity mais temiam: uma debandada de jovens talentos. Afinal, além de Dantas, outros nove dirigentes foram indiciados por formação de quadrilha e gestão fraudulenta.
Segundo avaliações internas, inimigos colecionados ao longo dos últimos 14 anos teriam aproveitado a ofensiva para tentar atingir o banco.
Nessa linha de argumentação, a hipótese considerada mais provável é a de que alguns desses adversários teriam inclusive contribuído financeiramente para a operação pilotada por Protógenes Queiroz.

Operação gigante
Centenas de pessoas foram monitoradas durante a investigação: empresários, doleiros, políticos, jornalistas.
A mobilização ultrapassou os quadros funcionais da PF: 62 agentes da Agência Brasileira de Inteligência participaram da ação, diz a defesa de Dantas.
Investigadores com experiência em grandes operações não descartam a possibilidade de ex-policiais e ex-agentes terem sido recrutados para tarefas específicas, pelas quais teriam sido remunerados proporcionalmente ao grau de dificuldade das missões.
Pelo menos um ex-agente da Abin, Francisco Ambrósio do Nascimento, aposentado em 1998, reconheceu em depoimento à CPI dos Grampos, no mês passado, ter colaborado "informalmente" com a PF.
O "elo" entre os adversários do Opportunity e a Satiagraha seria a necessidade de recursos para pagar "colaboradores".
Instado a apontar quais seriam os adversários com interesses e recursos para financiar tais "colaboradores", um executivo do Opportunity responde: os mais óbvios.


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