São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Protógenes sabia de habeas corpus no STF

Em reunião da PF, delegado disse conhecer estratégia da defesa de Dantas, mas não especificou como obteve tal informação

Mendes afirma não "haver fato novo, só confirmação do que já se sabia; havia espionagem no gabinete do presidente do STF"


DA REPORTAGEM LOCAL

A Operação Satiagraha, desencadeada em julho pela Polícia Federal, tinha um "trabalho de inteligência" que apontava para a concessão de um habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal) em favor do banqueiro Daniel Dantas. A revelação foi feita pelo delegado Protógenes Queiroz na reunião que selou o seu afastamento do comando das investigações, em 14 de julho, na sede da superintendência da PF de São Paulo.
A expressão usada pelo delegado, segundo reportagens da revista "Veja" e do jornal "O Globo", consta da íntegra da gravação da reunião realizada entre Protógenes e seus chefes na PF, como o diretor de combate ao crime organizado da direção geral da PF, em Brasília, Roberto Troncon, e o chefe da divisão de combate aos crimes financeiros, Paulo de Tarso Teixeira. A íntegra da gravação, de três horas e 50 minutos, não foi tornada pública.
Segundo a "Veja", o delegado disse na reunião: "Nós sabíamos que tinha um HC [habeas corpus] já preparado, já um outro HC, que estava sendo gestado no gabinete no Supremo Tribunal Federal... né? E em escritórios de advocacia. Isso em trabalho de inteligência que nós...". A frase não foi completada. Não fica claro -e o delegado não teria sido questionado- no que consistia esse trabalho de inteligência.
No dia 17 de julho, a Folha revelou que a Satiagraha tinha em seu poder, desde junho, cópias de e-mails, interceptados com ordem judicial, trocados entre advogados ligados ao grupo Opportunity. Nas mensagens foi discutido o momento mais oportuno para impetrarem um habeas corpus no STF.
Segundo a "Veja", a reunião entre os delegados foi pontuada "por brigas e trocas de acusações pesadas". Os delegados que representavam a cúpula da PF teriam condenado os métodos de Protógenes. "Você tem uma teoria da conspiração e uma paranóia que contamina todo mundo", teria dito o delegado Troncon.
Ainda de acordo com "Veja", Protógenes foi "profético" ao dizer: "Vão surgir notícias de que nós grampeamos o Supremo, que a Abin [Agência Brasileira de Inteligência] grampeou...". As declarações de Protógenes ocorreram no dia 14 de julho. No dia 11, a Folha noticiara a possibilidade de o presidente do STF, Gilmar Mendes, ter sido "monitorado" pela PF a pedido da Justiça Federal -o que a Justiça nega.
Em viagem ontem à Alemanha, o ministro Gilmar Mendes preferiu não fazer comentários sobre a gravação da reunião na qual o delegado Protógenes foi afastado. Oficialmente, a Secretaria de Comunicação do Supremo afirmou: "Não há fato novo, apenas a confirmação do que já se sabia. Havia espionagem no gabinete do presidente do STF". Sobre as afirmações de Protógenes a respeito de um outro habeas corpus que estaria sendo "gestado no gabinete no Supremo Tribunal Federal e em escritórios de advocacia", a comunicação do STF disse que a subida do habeas corpus ao gabinete da presidência do tribunal "é fato público". "Agora, se ele [Protógenes] se refere a uma eventual trama, é mais uma mentira que ele quis lançar, como o jantar de advogados com assessores do Supremo. Fato que nunca existiu."
O advogado de Protógenes não quis se manifestar ontem.


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