|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Protógenes sabia de habeas corpus no STF
Em reunião da PF, delegado disse conhecer estratégia da defesa de Dantas, mas não especificou como obteve tal informação
Mendes afirma não "haver fato novo, só confirmação do que já se sabia; havia espionagem no gabinete
do presidente do STF"
DA REPORTAGEM LOCAL
A Operação Satiagraha, desencadeada em julho pela Polícia Federal, tinha um "trabalho
de inteligência" que apontava
para a concessão de um habeas
corpus no STF (Supremo Tribunal Federal) em favor do
banqueiro Daniel Dantas. A revelação foi feita pelo delegado
Protógenes Queiroz na reunião
que selou o seu afastamento do
comando das investigações, em
14 de julho, na sede da superintendência da PF de São Paulo.
A expressão usada pelo delegado, segundo reportagens da
revista "Veja" e do jornal "O
Globo", consta da íntegra da
gravação da reunião realizada
entre Protógenes e seus chefes
na PF, como o diretor de combate ao crime organizado da direção geral da PF, em Brasília,
Roberto Troncon, e o chefe da
divisão de combate aos crimes
financeiros, Paulo de Tarso
Teixeira. A íntegra da gravação,
de três horas e 50 minutos, não
foi tornada pública.
Segundo a "Veja", o delegado
disse na reunião: "Nós sabíamos que tinha um HC [habeas
corpus] já preparado, já um outro HC, que estava sendo gestado no gabinete no Supremo
Tribunal Federal... né? E em escritórios de advocacia. Isso em
trabalho de inteligência que
nós...". A frase não foi completada. Não fica claro -e o delegado não teria sido questionado- no que consistia esse trabalho de inteligência.
No dia 17 de julho, a Folha
revelou que a Satiagraha tinha
em seu poder, desde junho, cópias de e-mails, interceptados
com ordem judicial, trocados
entre advogados ligados ao grupo Opportunity. Nas mensagens foi discutido o momento
mais oportuno para impetrarem um habeas corpus no STF.
Segundo a "Veja", a reunião
entre os delegados foi pontuada "por brigas e trocas de acusações pesadas". Os delegados
que representavam a cúpula da
PF teriam condenado os métodos de Protógenes. "Você tem
uma teoria da conspiração e
uma paranóia que contamina
todo mundo", teria dito o delegado Troncon.
Ainda de acordo com "Veja",
Protógenes foi "profético" ao
dizer: "Vão surgir notícias de
que nós grampeamos o Supremo, que a Abin [Agência Brasileira de Inteligência] grampeou...". As declarações de Protógenes ocorreram no dia 14 de
julho. No dia 11, a Folha noticiara a possibilidade de o presidente do STF, Gilmar Mendes,
ter sido "monitorado" pela PF
a pedido da Justiça Federal -o
que a Justiça nega.
Em viagem ontem à Alemanha, o ministro Gilmar Mendes
preferiu não fazer comentários
sobre a gravação da reunião na
qual o delegado Protógenes foi
afastado. Oficialmente, a Secretaria de Comunicação do
Supremo afirmou: "Não há fato
novo, apenas a confirmação do
que já se sabia. Havia espionagem no gabinete do presidente
do STF". Sobre as afirmações
de Protógenes a respeito de um
outro habeas corpus que estaria sendo "gestado no gabinete
no Supremo Tribunal Federal e
em escritórios de advocacia", a
comunicação do STF disse que
a subida do habeas corpus ao
gabinete da presidência do tribunal "é fato público". "Agora,
se ele [Protógenes] se refere a
uma eventual trama, é mais
uma mentira que ele quis lançar, como o jantar de advogados com assessores do Supremo. Fato que nunca existiu."
O advogado de Protógenes
não quis se manifestar ontem.
Texto Anterior: Defesa de Dantas usa estratégia agressiva para evitar condenações Próximo Texto: Delegado mentiu sobre arapongas a seus superiores Índice
|